Arquiteta de Cataguases apresenta aos vereadores projeto de restauração do Cine Edgard
17/07/2018 07:29 em REGIÃO

 

Na última reunião ordinária da Câmara Municipal de Cataguases, na terça-feira, 10 de julho, a arquiteta cataguasense, Mariela Salgado Lacerda de Oliveira, ocupou a Tribuna para revelar aos Vereadores e público presente o seu projeto de restauração do Edgard Cine Teatro, que acaba de ser adquirido pelo município. Segundo explicou, o projeto ´"é o resultado da minha dissertação no Mestrado Profissional em Projeto e Patrimônio do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Surgiu de uma grande inquietação relacionada ao agravamento do estado de abandono em que se encontra um dos mais importantes edifícios de uso público e cultural da cidade de Cataguases", detalhou aquela arquiteta.
 
imageO cinema, lembra, foi foi projetado pelos arquitetos Aldary Henriques Toledo e Carlos Azevedo Leão em 1946, por encomenda do escritor e industrial Francisco Inácio Peixoto, tendo sido inaugurado em 1953 e tombado pelo IPHAN em 1994 por seu valor histórico, arquitetônico e sociocultural, acrescenta Mariela Oliveira. "As características arquitetônicas do edifício contribuem para o seu caráter monumental; a relação que estabelece com o espaço público da praça na qual se situa faz com que o edifício se torne uma extensão da rua, pertencente, portanto, à esfera pública e coletiva. Interditado pelo Corpo de Bombeiros em 2013 por risco iminente de incêndio, agora ressurge como patrimônio público municipal concomitante "a necessidade de se realizar um projeto global de restauração e readequação de uso para o edifício de modo a reintegrá-lo à vida cotidiana de Cataguases", afirma.
 
Mariela atendeu pedido do Site do Marcelo Lopes e falou com exclusividade sobre o assunto na entrevista abaixo, quando deu mais detalhes sobre o seu projeto e o que espera a partir de sua apresentação aos vereadores. Veja, a seguir, a íntegra da entrevista com alguns esboços do projeto mostrando como ficaria o prédio após a restauração.
 
image1) Como surgiu a ideia de fazer esta restauração?
A ideia surgiu quando iniciei o Mestrado Profissional em Projeto e Patrimônio na UFRJ e a proposta para a dissertação deveria envolver um projeto de restauro ou intervenção em algum bem de interesse à preservação. Um edifício que contivesse em si alguma importância cultural, simbólica, histórica e sociocultural. Tendo em vista a interdição do cinema desde 2013 e percebendo a lacuna que essa interdição representa no cotidiano da cidade, resolvi encarar o tema da restauração deste edifício e contei com a contribuição da minha orientadora Claudia Suely Rodrigues de Carvalho, doutora pela USP com uma tese que trata da preservação da arquitetura moderna. É muito duro passar na praça Rui Barbosa e ver o Cine Edgard sujo, abandonado e interditado. Um equipamento cultural desse porte, com toda a história e memória que traz em si e com o imenso potencial que tem em mobilizar a cidade com shows, festivais, formaturas, peças teatrais, consertos musicais, etc... não pode ter esse tratamento.  Imagem ao lado revela a fachada com o interior do foyer após o restauro.
 
2) Qual o custo total desta restauração/reforma? Podemos chamar de reforma?
Neste trabalho, não era um objetivo da pesquisa chegarmos ao nível de orçar a obra. O principal objetivo do projeto foi criar diretrizes para balizar uma futura intervenção procurando não descaracterizar edifício e suas características essenciais. Para orçar essa obra seria necessário termos em mãos uma série de outros projetos complementares ao restauro arquitetônico em si. Precisaríamos ter projetos, pelo menos a nível de anteprojeto ou projeto básico, das instalações prediais (hidráulica, esgoto, luminotécnica, acústica, ar condicionado, incêndio) já compatibilizados com a arquitetura. Disciplinas essas, essenciais para uma recuperação total do edifício. A partir do projeto arquitetônico que produzi, é possível orçar a obra, mas apenas dos aspectos e das modificações que propus na arquitetura do edifício. Não seria o valor total da obra, que necessita de outros projetos, como dito anteriormente.
 
image3) Qual o prazo de restauração?
O cronograma de obra geralmente é feito após a conclusão do projeto arquitetônico completo e os projetos complementares das instalações prediais já compatibilizados à arquitetura. Sem todos esses projetos e uma noção global de dos aspectos necessários para se iniciar a obra, seria irresponsável inferir um prazo. Na foto ao lado o foyer após a restauração.
 
4) Como foi recebido o projeto pelos vereadores na última terça-feira?
De forma geral, me parece que o projeto foi muito bem recebido. Alguns vereadores se pronunciaram com elogios ao trabalho e houve uma manifestação com críticas em relação ao fato de que o imóvel deveria ter sido adquirido desde a data de sua desapropriação em 2010. 
image5) Qual a possibilidade deste projeto ser concretizado?
A obra de restauro e modernização das instalações prediais deverão ser feitas para que o edifício possa ser plenamente utilizado. O meu projeto procura criar algumas diretrizes e balizar este processo com o objetivo principal de evitar uma possível descaracterização de sua importância histórica e documental. Apesar de seu péssimo estado de conservação, possui muitos elementos ainda originais da década de 1950 e esses elementos devem ser restaurados e não substituídos sem a devida avaliação técnica e reflexão crítica, como já aconteceu em alguns outros bens tombados em Cataguases. Na foto ao lado Brises no balcão do 4º pavimento, mezanino do salão social e cobertura metálica e vidro acima do terraço. 
 
6) Há alguma negociação nesse sentido?
Não há nenhuma negociação nesse sentido. Acredito que a Prefeitura irá iniciar um processo de captação de recursos para viabilizar o restauro do edifício (Secretário de Cultura, Fausto Menta confirmou ao Site estar buscando recursos para esta obra), mas nada indica que seguirão as diretrizes formuladas neste trabalho. Como disse anteriormente, o projeto nasceu de uma vontade particular minha, por entender a importância, o valor simbólico e o potencial catalisador de cultura que um equipamento público desse porte tem para a cidade e região.

 

Fonte: Marcelo Lopes

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