Justiça converte para preventiva a prisão de envolvidos em troca de tiros entre policiais de MG e SP em Juiz de Fora
12/12/2018 13:16 em REGIÃO

 

A Justiça de Juiz de Fora converteu para preventiva as prisões dos policiais mineiros Marcelo Matolla de Resende, Leonardo Soares Siqueira e Rafael Ramos dos Santos. Eles foram presos temporariamente em 12 de novembro por envolvimento em um tiroteio com paulistas no estacionamento de um hospital.

O juiz Paulo Tristão Machado acatou o pedido do Ministério Público (MP) pela prisão preventiva de Jorge William Ponciano Rosa, Nivaldo Fialho da Cunha e Sérgio Paulo Marques Guerra, que também foram identificados entre envolvidos na negociação que resultou no tiroteio. Eles tiveram as prisões temporárias decretadas em 8 de novembro. No entanto, não foram localizados.

G1 e o MGTV não conseguiram contato com as defesas de Nivaldo Fialho da Cunha, nem de Sérgio Paulo Marques Guerra. Os demais advogados dos investigados enviaram posicionamentos. (Confira mais abaixo)

A troca de tiros ocorreu no dia 19 de outubro e resultou na morte de duas pessoas, sendo um policial civil mineiro e um empresário. Além dos policiais de Minas, quatro policiais de São Paulo foram presos por lavagem de dinheiro e um empresário pelo crime de estelionato tentado.

Ainda de acordo com as informações da Justiça ao MGTV, o inquérito foi entregue pela Corregedoria Geral da Polícia de forma inconclusiva. O setor havia solicitado nova prorrogação do prazo, que foi negada nesta terça (12). O material foi encaminhado para o Ministério Público (MP) analisar e oferecer ou não a denúncia.

 

Decisão

 

G1 e o MGTV tiveram acesso à decisão assinada nesta terça-feira (11). De acordo com a Justiça, há materialidade do crime de homicídios e indícios de associação criminosa.

O prazo para a conclusão do inquérito terminaria nesta quarta-feira (12). O juiz Paulo Tristão negou o pedido de nova prorrogação por mais 30 dias, sob a alegação de que as investigações estavam em curso há quase dois meses e o prazo já foi estendido por três vezes.

E também revogou o sigilo das investigações, considerando que foram cumpridos os mandados de busca e apreensão e as quebras dos dados telefônicos dos investigados.

As apurações estavam ao cargo da Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais, juntamente com os promotores de Justiça da comarca de Juiz de Fora e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da capital.

'Cheese bread'

 

Quatro policiais civis de São Paulo - os investigadores Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira e Jorge Alexandre Barbosa de Miranda e os delegados Bruno Martins Magalhães Alves e Rodrigo Castro Salgado da Costa - estão presos no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem (MG) por lavagem de dinheiro.

A decisão relata que a perícia do aparelho celular do delegado Bruno Martins Magalhães Alves apontou que os policiais tinham conhecimento de que fariam escolta para uma negociação ilícita. Eles criaram um grupo no whatsapp que foi batizado como “ Operação Cheese Bread MG”, que pode ser traduzido como "pão de queijo".

Como exemplos, foram citados trechos de conversas do investigado com o investigador Eduardo Alberto Modolo Filho, que fazia parte do grupo que veio a Juiz de Fora escoltar o empresário, e com o delegado Rodrigo Castro Salgado da Costa.

Em uma conversa em áudio entre os delegados ficou evidente a desconfiança por parte do delegado Bruno Martins em realizar o serviço em Minas Gerais.

A decisão cita que o investigado Rafael Ramos dos Santos retificou o depoimento que prestou antes e explicou que foi chamado pelo advogado Jorge William Ponciano o chamou para ajudar um “em uma operação financeira de um cliente que tinha medo de sequestro”.

No encontro, que ocorreu uma semana antes do tiroteio, o advogado contou que o cliente seria Antonio Vilela, identificado como empresário do ramo de joias. Rafael Ramos dos Santos mencionou já ter conhecido Vilela em outras oportunidades, por intermédio de Ponciano. E que aceitou ajudar "em razão da amizade" que tinha com o advogado.

A partir de imagens obtidas durante a investigação, Nivaldo Fialho Cunha foi identificado como o condutor do carro onde foram apreendidas as malas de dinheiro. Sérgio Paulo Marques Guerra era comparsa de Antônio Vilela e estaria no estacionamento no momento dos homicídios.

Jorge William Ponciano estava no local dos fatos em companhia dos policiais mineiros e de Nivaldo e Antônio. Ponciano teria entrado antes do tiroteio, no estacionamento em um carro e foi seguido pelos outros envolvidos.

“As provas indicam que tanto os Policiais Civis de São Paulo quanto os Policiais Civis de Minas e os demais investigados tinham ciência da negociação de compra de dólares e do risco da operação, sendo que as provas ainda indicam que os policiais de Minas, que representam o Grupo de Juiz de Fora, atuavam em concurso com Antônio Vilela, Jorge William Ponciano, Sérgio Paulo Marques Guerra, Nivaldo Fialho Cunha e um indivíduo não identificado, e estariam na posse das notas falsas, e ao que se presume, o chamado ‘desacerto’, ocorreu depois que os ‘negociantes’ de São Paulo detectaram a falsidade”, ressaltou a decisão.

Diante desses argumentos, a Corregedoria Geral da Polícia pediu na Justiça a prorrogação das prisões temporárias dos três policiais e mais 30 dias para a conclusão do inquérito.

"A conclusão dos lados periciais, dos relatórios de investigações das imagens de Câmeras de segurança dos locais onde ocorreram os dois homicídios e dos locais onde foram planejados, a perícia dos dados dos celulares dos policiais paulistas, trouxeram novos elementos e novas perspectivas sobre os fatos e sobre a responsabilidade de cada um dos envolvidos”, como consta no documento.

O Ministério Público (MP) concordou com a prorrogação por mais dez dias do inquérito, mas pediu a prisão preventiva dos envolvidos porque as provas comprovam a materialidade e os indícios de autoria de associação criminosa e homicídios. E ressaltou que a medida impedia que voltassem a se organizar e praticar delitos semelhantes e que em liberdade poderiam ameaçar e constranger testemunhas.

 

O outro lado

 

O advogado do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Sindipol), que representa os policiais mineiros presos, disse que ainda não teve acesso aos autos porque o processo estava em segredo de justiça.

A defesa de Jorge William Ponciano Rosa disse que ele está solto, porque o mandado de prisão temporária não foi cumprido e que vai entrar com habeas corpus para tentar reverter a decisão.

A defesa técnica dos delegados de Polícia Civil do Estado de São Paulo, Rodrigo Castro Salgado da Costa e Bruno Martins Magalhães Alves, esclareceu que ainda não foi intimada acerca do resultado da perícia e, tampouco, teve acesso ao seu conteúdo, o que impossibilita qualquer manifestação sobre o teor da transcrição apresentada.

Em nota, a defesa dos executivos paulistas, que contrataram a escolta, reafirma que eles foram vítimas de um golpe ao ir a Juiz de Fora negociar um contrato de empréstimo que seria realizado de maneira formal e dentro da lei. Reiterou que nunca houve negociação com dólares, conforme todos os depoimentos prestados à polícia. No texto, ressalta que o entendimento de que houve golpe fica claro com a prisão preventiva de policiais e de um advogado mineiros decretada pela Justiça na decisão desta terça-feira (11).

Entenda o caso

 

Por volta das 16h do dia 19 de outubro, ocorreu um tiroteio no estacionamento de um prédio anexo do Hospital Monte Sinai, em Juiz de Fora, que mobilizou as polícias Militar (PM) e a Civil da cidade. Inicialmente, a informação era de que a ocorrência envolvia policiais civis de São Paulo e de Minas Gerais.

Durante a investigação, foi descoberto que empresários de SP e um doleiro de MG também estavam envolvidos na ocorrência e que os tiros teriam começado devido a um "desacerto" por causa de R$ 14 milhões em notas falsas que o doleiro levava.

Na ocasião, o policial civil de Juiz de Fora, Rodrigo Francisco, de 37 anos, morreu em uma troca de tiros. Já o empresário de São Paulo, Jerônimo da Silva Leal Júnior, de 42 anos, foi ferido e morreu depois de seis dias internado.

Os três policiais mineiros envolvidos na investigação respondem por prevaricação e outros cinco policiais de São Paulo seguem sob investigação.

No final do mês de outubro, o juiz Paulo Tristão negou o pedido da defesa dos policiais paulistas de transferência para o estado de São Paulo. Os dois delegados e os dois investigadores foram levados para um presídio específico para agentes públicos no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem (MG), e ainda há procedimentos em andamento.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse que aguarda a apuração do caso e que, se comprovados os desvios de conduta, os policiais envolvidos responderão administrativa e criminalmente, de acordo com os atos praticado por cada um.

 

Fonte: G-1 Zona da Mata

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