'Ser pioneira é ser exemplo', diz coronel de MG que foi a primeira mulher a comandar uma tropa masculina no Brasil
05/03/2022 06:13 em REGIÃO

 

Até 1981, a Polícia Militar de Minas Gerais era composta apenas por homens. E foi exatamente nesse ano que foram abertas 120 vagas para mulheres, e mais de quatro mil concorrentes tentaram a oportunidade para entrar na corporação.

Entre elas estava a coronel Luciene Albuquerque, à época com 18 anos. Ela não só entrou como conseguiu o primeiro lugar geral do concurso. Anos depois foi a primeira mulher a comandar uma tropa masculina no país.

 

"Eu fazia engenharia civil em 1981 e não tinha nenhuma relação com a polícia. Por algumas pessoas ao meu redor, tinha até um preconceito sem, de fato, saber como era o trabalho. Minha mãe era professora do Colégio Tiradentes e me incentivou a tentar. Só fiz a inscrição para agradá-la", contou.

 

No entanto, a coronel se encantou com a profissão. Aulas de psicologia, sociologia, relações humanas, ajudar a realizar partos. 

 

Segundo ela, como ter mulheres na corporação era algo novo, tudo era muito rígido.

"Os policiais não podiam conversar com a gente, era tudo muito respeitoso. Não podia andar fardada na rua com um homem ao lado. Quando o meu namorado ia me buscar na polícia, eu seguia na frente e ele atrás até chegar no ponto de ônibus", relembra. 

 

 

'Companhia de brincos'

 

 

Em 1992, a coronel foi convidada a comandar a Companhia de Operações Especiais de Trânsito, em Belo Horizonte. Ao todo, 120 homens trabalhavam no local quando ela chegou.

 

"Eu lutei por esse lugar. Cheguei e precisava criar credibilidade, existia zoação com os meus comandados por parte de policiais de outras companhias. Falavam que era companhia de brincos por ser comandada por uma mulher. A minha companhia era extremamente produtiva e motivada, não tinha problema de disciplina. Depois todo mundo queria ir trabalhar lá" conta.

Casos marcantes

 

Em toda a carreira, a coronel teve casos marcantes. Em um deles, ela se lembra de quando ficou refém dentro de uma penitenciária de segurança máxima de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, durante uma rebelião.

Por quase dez horas, ela e outros militares ficaram em poder dos criminosos. Luciene era casada na época e foi liberada depois que o então marido, um capitão da Polícia Militar, ficou no lugar dela. Ele foi liberado pelos bandidos 14 dias depois.

"Em uma outra situação, estava de folga, fui buscar minha filha na escola e, ao retornar, o trânsito estava impedido na avenida dos Andradas. Quando cheguei em casa fui ver que era uma moça tentando pular do viaduto e não deixa ninguém se aproximar. Fui lá com a roupa que estava, policiais e o Corpo de Bombeiros já estavam no local. Cheguei e conversei para que ela não pulasse", disse.

Durante toda a conversa com o g1 Minas, a coronel Luciene se emocionou, riu ao lembrar de fatos da trajetória. Ela, que tem 59 anos e saiu da ativa da polícia em 2011, fala com orgulho da corporação.

"A gente lida com vidas. Ser pioneira é ser exemplo, se você não der certo vai atrasar a oportunidade de outra pessoa. Em nenhum outro lugar eu seria tão realizada profissionalmente como na Polícia Militar", finalizou.

 

 

Fonte: G-1 Minas

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