Jovem amputada da Grande BH é a primeira deficiente a concorrer ao Miss Minas Gerais
06/04/2023 03:55 em REGIÃO

 

As participantes do concurso Miss Minas Gerais são muito mais que apenas "rostinhos bonitos". Elas têm histórias que inspiram outras mulheres que assistem os concursos. Um exemplo disso é a jovem Fernanda Venâncio, Miss Sarzedo, que é a primeira deficiente a participar da disputa estadual, que acontece em outubro desse ano. 

A jovem de 24 anos teve a perna amputada quando tinha apenas 15 anos, devido a uma doença. "Eu nasci com linfohemangioma e essa doença deformou o meu pé. Meu pé era uma bolinha roxa e eu tinha muita dificuldade de usar sapato. Em busca de ter uma qualidade de vida melhor, eu procurei um médico e comecei a fazer acompanhamento. Durante esse acompanhamento, eu cheguei a fazer algumas cirurgias, duas se não me engano, e ao invés de melhorar, essas cirurgias acabaram piorando a minha situação, e meu pé começou a ter dores insuportáveis", conta.

Linfohemangioma são linfangiomas relacionados a má formações vasculares ou capilares. É um tumor vascular benigno, formado por um conjunto de vasos linfáticos dilatados que crescem de forma anormal e se acumulam em um ponto. Foram anos de sofrimento e dor e, então, ela decidiu amputar a perna. 

A ideia de se inscrever para o Miss Sarzedo, cidade onde mora, foi da mãe dela, Andreza Fabiane.

Mesmo sabendo que a filha não tinha condições de usar uma sandália de salto alto, algo que é regra no concurso, ela procurou a organizadora do evento, Gaby Valeska, que aprovou a participação de Fernanda.

"Nós precisamos também desmistificar, principalmente, essa beleza. Essa beleza tem que acontecer para todos, para que venha ressaltar não só a história da Fernanda, mas a de todas as mulheres que passam por alguma dificuldade, alguma limitação", argumenta Gaby. 

"Uma pessoa amputada, para usar salto alto, precisa de uma tecnologia específica. Na época [do miss Sarzerdo], o pé que eu tinha não me permitia ter essa oportunidade, então infelizmente eu competi o concurso da forma que eu podia, com uma sandália de salto baixo, mas acabou tudo dando certo", lembra Fernanda Venâncio.

A jovem desfilou e esbanjou toda a sua beleza com roupa de banho, festa e gala. Ela conquistou o jurados e levou o título.

"No dia do concurso eu estava muito confiante. Eu me sentia muito capaz, eu não via minha deficiência. Ela não existia. Eu me via de igual para igual", conta.

"Eu fico nervosa mas me mantenho muito firme no meu propósito. Mesmo que eu não leve a coroa, eu sei que o melhor que eu posso fazer, eu estou fazendo. E eu sei que o meu exemplo pode incentivar outras pessoas a correr atrás dos sonhos em qualquer área", diz.

Em outubro, Fernanda desfilará de salto alto. Ela conseguiu comprar a prótese e o pé adaptado para o calçado com a ajuda de doadores. A jovem arrecadou cerca de R$ 45 mil para adquirir a prótese.

"Eu gostaria de dizer para todas e todos que se você pode sonhar, você pode fazer. Eu sei que, às vezes, na vida acontecem situações imprevisíveis, situações em que a gente se sente desanimado. Mas, às vezes, a gente ta deixando de viver algo incrível por falta de coragem. Portanto, sejam fortes e corajosos, porque Deus tem um propósito em todas as coisas", finaliza.

Rede de apoio

A jovem é orgulho dos pais desde que nasceu e eles são grande fonte de apoio para ela. Fernanda sempre foi apaixonada por patinação, mas, só depois da amputação e com o incentivo do pai, Edson Vander, ela resolveu tentar. O talento a levou até a Argentina, onde ela se apresentou. 

"Foi amor à primeira 'deslizada'. Eu já cheguei a disputar campeonatos, mas por conta do Miss, principalmente, eu não estou disputando mais. Eu fui para a Argentina, fiz uma apresentação maravilhosa lá e conheci pessoas fantásticas. Foi uma experiência sensacional que está marcada na minha história para sempre", relata.

Para a mãe, Fernanda é um milagre. Nas primeiras semanas de gestação, os médicos disseram que ela havia perdido o bebê e que teria que fazer uma curetagem. Andreza decidiu fazer uma campanha de oração na igreja que frequentava e, quando voltou ao hospital, descobriu que a filha ainda estava lá, apenas com o problema no pé.

"O médico me xingou e falou: 'mãezinha, a senhora é irresponsável. Por que a senhora não veio?' [naquele momento] não era mais uma curetagem, era considerado um aborto, pelo tempo que passou. Eu falei que não tinha problema e que do jeito que o neném tiver de nascer, que ele nasça. Então ele começou a fazer o ultrassom e viu que o bebê estava todo perfeitinho. Ele assustou e viu que a Fernanda tinha o problema no pé. Eu disse que o pé era muito pequeno perto do que o bebê todo é", conta Andreza.

Fonte: R7 MG

COMENTÁRIOS
Comentário enviado com sucesso!