Deputada mineira denuncia que foi assediada sexualmente por renomado professor de universidade
15/04/2023 04:46 em REGIÃO

 

A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) afirma ter sofrido assédio sexual do sociólogo e professor da Universidade de Coimbra (UC), Boaventura de Sousa Santos, quando fez doutorado na instituição de Portugal. A denúncia da parlamentar foi divulgada nesta sexta-feira (14), em uma reportagem da agência paulista de jornalismo investigativo, Agência Pública.

Santos é professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da universidade portuguesa e jurista das universidades de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e de Warwick, no Reino Unido.

É a primeira vez que a parlamentar fala publicamente sobre o assédio que ocorreu quando o sociólogo a orientava no Centro de Estudos Sociais (CES) da UC. Em relato à agência, a parlamentar contou que o assédio aconteceu em 2014, quando tinha 26 anos - e Boaventura mais de 70. 

“Um dia, ele pediu para marcar uma reunião no apartamento dele. Colocou a mão na minha perna. Falou que as pessoas próximas dele tinham muita vantagem e sugeriu que a gente aprofundasse a relação”. Ela relata que foi embora atordoada. 

No dia seguinte, ela conta que o professor a convidou para uma conversa junto com o ex-namorado dela, que estudava no mesmo centro acadêmico. “Ele humilhou nossos trabalhos. Ali identifiquei que você poderia ter vantagens por estabelecer relações afetivas e sexuais com professores. Mas, se você se nega, é punida por isso,” denunciou a deputada.

Ela rompeu, então, com o orientador e procurou outros professores da universidade, inclusive professoras dedicadas a temáticas feministas. A mineira contou ainda que chegou a pedir ajuda ao professor auxiliar de Santos, Bruno Sena, sem saber que também havia acusações de assédio contra ele. “Todos diziam que eu não era o primeiro caso. Lamentavam, mas não davam suporte ou saída. Ele me orientou a não denunciar”.

Em relato à reportagem, Bella Gonçalves contou que não  encontrou nenhum canal de acolhimento, de suporte psicológico ou mesmo para tratar denúncias de assédio na universidade. “É uma estrutura muito hierárquica, machista, patriarcal. Boaventura já era conhecido por condutas abusivas. Humilhava estudantes em público, xingava pesquisadoras, tinha posturas impróprias nas festas. Mas era diretor do centro acadêmico. Eu sabia que nada aconteceria com ele”.

“Tive prejuízos psicológicos, emocionais e financeiros. Mudei de país, larguei uma bolsa de estudos, os danos são irreparáveis. Não quero desculpas, quero que ninguém mais passe por isso”.
 
Depois da publicação da reportagem, o professor Boaventura de Sousa Santos pediu afastamento das atividades do CES. “Compreendendo a necessidade de que tudo venha a ser esclarecido com rigor, tomei a decisão de me autoafastar das atividades do CES. Tal decisão tem o objetivo de garantir que a instituição possa fazer, com toda a independência que necessária, as averiguações das informações apresentadas e dar consequência ao processo de apuração interna a partir da comissão independente estabelecida, sem que haja qualquer interferência de qualquer parte.”

Apesar de ser referência em prol de movimentos sociais, a cientista política se sentiu impotente na época do abuso. “Sou uma mulher de movimentos sociais, que faço denúncias de tudo quanto é jeito, mas não encontrei nenhuma saída para denunciar o assédio que sofri. Estava presa a uma teia de poder maior”, desabafou a parlamentar.

*Com informações da Agência Pública (Mariama Correia) e do Jornal Hoje em Dia

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