Havia um carimbo. A imagem é cópia do brasão de armas da Rússia. A credencial de Luiz Paulo Dominguetti é assinada pelo próprio Cristiano Carvalho. A TV Globo pediu à assessoria da Davati que confirmasse a autenticidade dos documentos, mas não recebemos resposta.
Outras três prefeituras de Minas Gerais, entre elas a de Belo Horizonte, confirmaram à TV Globo que assinaram carta de intenção para compra de vacinas contra a Covid com empresas farmacêuticas que estão sob suspeita.
Desde o dia 23 de fevereiro deste ano, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que estados e municípios poderiam comprar, diretamente, vacinas contra a Covid, começou uma corrida de supostos vendedores atrás das prefeituras.
Um grupo que dizia representar a Medical One, uma empresa com sede na Suíça, enviou e-mail a municípios mineiros.
O texto afirma que a empresa estava facilitando a chegada da vacina AstraZeneca no Brasil, ao preço de US$ 7 por dose. Segundo a proposta, não seria necessário fazer pagamento antecipado e, sim, apenas após a conferência no Brasil, no aeroporto indicado pelo comprador. E que todas as taxas e transporte já estavam incluídos no preço.
A empresa só fazia uma exigência: precisava receber uma carta de intenção de compra, assinada pelo prefeito, para dar início às negociações. E para dar mais credibilidade à proposta, mostrava que já tinha o compromisso assumido com algumas cidades.
O email trazia anexada a carta de intenções da prefeitura de Confins. O documento diz que o município da Grande BH pretendia comprar 10 mil frascos, com dez doses cada, ou seja, cem mil doses da AstraZeneca. O texto ainda dizia que a prefeitura de Belo Horizonte também estava negociando a compra de 4 milhões de doses com a Medical One.
No dia 30 de março, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) anunciou que discutia a compra de vacinas da AstraZeneca, mas a farmacêutica negou que houvesse negociação em andamento.
A PBH afirmou que conversou com uma empresa europeia, chamada Medical One, cujo representante chamava-se André Luiz. A nota informa ainda que não houve um segundo encontro.
A proposta da Medical One revela que pelo menos duas empresas tentavam vender vacinas no Brasil.
A Prefeitura de Curvelo confirmou que conversou com uma terceira empresa, mas também desistiu da negociação.
A Prefeitura de Betim afirmou que foi procurada pela empresa Davati, com oferta da Janssen. E que o prefeito enviou um documento demonstrando que só tinha doses da AstraZeneca. E o município encerrou a negociação. Betim reforçou que só usou doses enviadas pelo SUS.
A Prefeitura de Confins disse que assinou oito cartas de intenção de compra, sendo uma delas com representantes da Medical One, que se diziam habilitados a vender vacinas AstraZeneca. Mas não deu sequencia às negociações. E não fez nenhum pagamento.
A Prefeitura de Ituiutaba não se manifestou.
A Davati confirmou que apresentou a oferta ao Ministério da Saúde para intermediar a compra de até 400 milhões de vacinas, mas não esclareceu se as credenciais de Cristiano Carvalho e Luiz Paulo Dominguetti são verdadeiras.
Cristiano e Dominguetti não foram encontrados para falar sobre o assunto.
Fonte: G-1 Minas