Belo Horizonte tem cerca de 9 mil pessoas vivendo nas ruas. Deste total, 12% são mulheres. Os dados são do Cadastro Único (CadÚnico) do Governo Federal. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), há um recorte de aproximadamente 6 mil pessoas com o cadastro atualizado nos últimos 24 meses. Uma parcela da população invisível para a sociedade.
“Eu cheguei a falar, ‘eu não valho nada nessa vida. Eu não tenho valor’. Passam milhares de pessoas por mim todos os dias. E não têm capacidade de dar um bom dia. Isso faz uma diferença na vida de qualquer ser humano”, afirmou Alessandra Martins Cordeiro, de 40 anos, 18 deles vividos na rua.
O MG2 exibe esta semana a série “Elas na Rua”, que traz histórias de mulheres sem-teto em Belo Horizonte.
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“Muitas das pessoas mais carentes não receberam ao auxílio emergencial”, disse a defensora pública Júnia Roman Carvalho. Segundo dados do Programa Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os dados do CadÚnico podem estar defasados, o que impede que muitas pessoas carentes sejam atendidas por programas de proteção.
As mulheres que dependem ou dependeram dos serviços oferecidos pela PBH reclamam que a maior parte dos equipamentos é voltada para os homens ou que sempre precisam dividir os direitos com eles.
Outra denúncia é em relação aos abrigos de pernoite. Quem frequenta estes lugares diz que são locais sujos, com pessoas doentes e ainda apontam a infestação de percevejos nas camas. Há reclamações também em relação à burocracia para consegui o acesso às repúblicas, instituições de permanência temporário no prazo de dois anos, e ao programa bolsa moradia, auxílio destinado ao pagamento de aluguel de imóveis.
A Secretaria de Assistência Social de Belo Horizonte reconhece que já houve infestação de percevejos em instituições de acolhimento durante anos, mas que a situação já foi controlada com a troca de camas e colchões. Em relação ao auxílio moradia, a prefeitura informou que houve ampliação de 250 bolsas, em 2017, para 1,2 mil bolsas, em 2021.
Segundo a integrante da pastoral nacional do Povo da Rua, Cristina Bove, políticas públicas implantadas a partir de gabinetes ficam longe das demandas das pessoas que mais precisam delas. Ela disse que, muitas vezes, falta diálogo e participação de quem deveria ser beneficiado.
“Sem apoio, eu sozinha, eu vou fazer aquilo que estou aguentando fazer. É o que eu faço. Todo dia eu faço isso, o que eu aguento. Mas e o além daquilo que eu quero? Onde que eu vou encontrar? Em quem que eu vou buscar? Porque a política não olha para a gente”, afirmou Thaís Cristiano Nonato, de 48 anos, que vive na rua desde os seis anos de idade.
Fonte: G-1 Minas