‘A política não olha pra gente’, diz mulher que vive há 42 anos nas ruas de BH
29/07/2021 05:37 em REGIÃO

 

Belo Horizonte tem cerca de 9 mil pessoas vivendo nas ruas. Deste total, 12% são mulheres. Os dados são do Cadastro Único (CadÚnico) do Governo Federal. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), há um recorte de aproximadamente 6 mil pessoas com o cadastro atualizado nos últimos 24 meses. Uma parcela da população invisível para a sociedade.

 

“Eu cheguei a falar, ‘eu não valho nada nessa vida. Eu não tenho valor’. Passam milhares de pessoas por mim todos os dias. E não têm capacidade de dar um bom dia. Isso faz uma diferença na vida de qualquer ser humano”, afirmou Alessandra Martins Cordeiro, de 40 anos, 18 deles vividos na rua.

 

MG2 exibe esta semana a série “Elas na Rua”, que traz histórias de mulheres sem-teto em Belo Horizonte.

“Muitas das pessoas mais carentes não receberam ao auxílio emergencial”, disse a defensora pública Júnia Roman Carvalho. Segundo dados do Programa Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os dados do CadÚnico podem estar defasados, o que impede que muitas pessoas carentes sejam atendidas por programas de proteção.

As mulheres que dependem ou dependeram dos serviços oferecidos pela PBH reclamam que a maior parte dos equipamentos é voltada para os homens ou que sempre precisam dividir os direitos com eles.

Outra denúncia é em relação aos abrigos de pernoite. Quem frequenta estes lugares diz que são locais sujos, com pessoas doentes e ainda apontam a infestação de percevejos nas camas. Há reclamações também em relação à burocracia para consegui o acesso às repúblicas, instituições de permanência temporário no prazo de dois anos, e ao programa bolsa moradia, auxílio destinado ao pagamento de aluguel de imóveis.

A Secretaria de Assistência Social de Belo Horizonte reconhece que já houve infestação de percevejos em instituições de acolhimento durante anos, mas que a situação já foi controlada com a troca de camas e colchões. Em relação ao auxílio moradia, a prefeitura informou que houve ampliação de 250 bolsas, em 2017, para 1,2 mil bolsas, em 2021.

Segundo a integrante da pastoral nacional do Povo da Rua, Cristina Bove, políticas públicas implantadas a partir de gabinetes ficam longe das demandas das pessoas que mais precisam delas. Ela disse que, muitas vezes, falta diálogo e participação de quem deveria ser beneficiado.

“Sem apoio, eu sozinha, eu vou fazer aquilo que estou aguentando fazer. É o que eu faço. Todo dia eu faço isso, o que eu aguento. Mas e o além daquilo que eu quero? Onde que eu vou encontrar? Em quem que eu vou buscar? Porque a política não olha para a gente”, afirmou Thaís Cristiano Nonato, de 48 anos, que vive na rua desde os seis anos de idade.

 

Fonte: G-1 Minas

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