Carteiro de Juiz de Fora realiza sonho de publicar livro: 'foi muito gratificante segurar o meu livro nas mãos, inesquecível', diz
04/10/2021 05:34 em REGIÃO

 

"Esse personagem que já morreu participa da história e ele decide acompanhar a história das duas porque quando lá no início do livro, a Manoela já idosa recebe um prêmio e ela dedica à cachorrinha Titi, que ela teve há 50 anos atrás. Ele ficou curioso com isso quis saber o quão especial foi essa viagem".

Paulo César Silva, carteiro em Juiz de Fora, conseguiu realizar um sonho antigo: publicar o próprio livro. Mas o caminho até a sonhada publicação foi marcado por diversos desafios.

Paulo tem 35 anos e é natural de Barra do Piraí (RJ), mas se mudou com a família para o Distrito de Manejo, em Lima Duarte, ainda bebê, com 6 meses de vida. Formado em Jornalismo, o recém-escritor divide a carreira com a profissão de carteiro em Juiz de Fora.

"Mudei para Juiz de Fora para estudar e trabalhar, mas logo depois voltei para Lima Duarte. E, desde então, atualmente eu moro lá e venho para Juiz de Fora todos os dias trabalhar", explicou.

 

Trajetória

 

Apesar da primeira publicação, com o livro "A Viagem de Titi e Manoela", esta não é a primeira obra de Paulo.

"Fora dos Trilhos, um romance de cerca de 230 páginas foi a primeira história escrita pelo carteiro. No entanto, essa obra ainda não seguiu para publicação.

"Ele está prontinho para ser publicado. Tentei fazer uma vaquinha, um financiamento coletivo, mas por enquanto está engavetado. Mas não desanimei", contou.

Enquanto esperava a oportunidade de publicar o primeiro livro, Paulo contou que começou a escrever o novo romance "A viagem de Titi e Manoela", em 2014, após escrever um texto de aniversário para a esposa.

 

"Eu sempre escrevo textos de aniversário para pessoas queridas e no aniversário da minha esposa eu escrevi um texto falando sobre a amizade entre ela e a cadela dela. Ela ficou muito emocionada e então eu pensei que poderia tirar uma boa história dali".

 

Em 2019, Paulo decidiu realizar o sonho de segurar o próprio livro nas mãos e decidiu por conta própria rodar 100 exemplares da obra. Para isso, contou com a ajuda de alguns amigos empresários.

"Eu juntei um dinheiro porque eu tinha o sonho de ter um livro na minha mão e como ele não é tão grande, eu fiz alguns orçamentos e decidi fazer o investimento. Fiz uma edição limitada de 100 exemplares e vendi para amigos. Era algo que eu queria muito. Foi muito gratificante segurar o meu livro nas minhas mãos, inesquecível".

"A Viagem de Titi e Manoela"

Apesar de a inspiração para o enredo ter sido a amizade entre a esposa e a cachorrinha dela, o escritor ressaltou que a obra não é sobre elas. E, sim uma forma de mostrar a importância de um animal na cidade de uma pessoa.

 

"Um animal não é só aquilo, não é descartável. É um ser vivo com o qual você cria laços de amizade, proximidade, amor de verdade, e isso pode mudar a vida de alguém para sempre. É uma história de alma gêmeas mesmo, um ser humano e uma cachorrinha que depois vão voltar a se encontrar", adiantou Paulo.

 

A obra narra a viagem da cachorrinha Titi e da dona, Manoela, sob o olhar de um personagem pós-morte, que acompanha as aventuras e desafios das duas durante uma viagem em busca de um veterinário para ajudar a vaquinha da família, que não estava dando mais leite.

"Esse personagem que já morreu participa da história e ele decide acompanhar a história das duas porque quando lá no início do livro, a Manoela já idosa recebe um prêmio e ela dedica à cachorrinha Titi, que ela teve há 50 anos. Ele ficou curioso com isso quis saber o quão especial foi essa viagem".

Abuso, racismo, tempestades

Apesar do nome, Paulo alertou que "A Viagem de Titi e Manoela" não é um livro infantil. Durante a viagem, a menina e a cadela passam por alguns desafios: racismo, abuso e tempestades.

 

"O livro é sobre amizade, amor e o que ele pode proporcionar na vida da pessoa. Manoela é negra e eu quis dar esse espaço para nós pretos na literatura porque eu acredito haver um déficit de protagonismo preto na mídia e nas obras literárias aqui no Brasil. A cadela também sofre racismo. Aqui em cidade pequena, as pessoas implicam muito com fêmeas, porque dão cria, parece mentira, mas acontece muito, então eu escolhi as personagens como forma de gerar identificação a todos que, de alguma forma, passam por alguma situação de exclusão, além de trazer também a luta animal".

Neste ano, a oportunidade da publicação veio. A editora Flyve, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro deu a chance que Paulo tanto esperava, após ter recebido muitos "nãos" pelo caminho.

Mas para que a editora financiasse todos os gastos com a publicação, Paulo precisava bater uma meta: vender 60 livros em pré-venda. A campanha terminou na quinta-feira (30) e o objetivo foi alcançado.

Agora, o livro partirá para publicação oficial e estará disponível nas principais plataformas on-line de vendas.

"Eu tinha que bater essa meta para o custo do livro ficar por conta da editora. Conseguimos alcançar o objetivo e agora o livro estará a disposição para todos que tenham o interesse de comprar. Para mim, foi uma grande conquista, ainda mais em um país que enfrenta tanta dificuldade para manter a cultura viva. Eu consegui!", concluiu o escritor.

 

Fonte: G-1 Zona da Mata

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