Professor diz que supervisora negra de escola na Grande BH 'mora no zoológico': 'Nunca senti uma dor tão grande', diz vítima
13/11/2021 06:20 em REGIÃO

 

A supervisora de uma escola estadual de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, denunciou ter sido vítima de injúria racial dentro da própria instituição, nesta quinta-feira (11). Segundo a profissional, de 40 anos, um professor de matemática disse que ela "morava no zoológico".

A vítima, que preferiu não ser identificada por medo de represálias, contou ao g1 que, após uma reunião pedagógica, foi para a sala dela pegar a bolsa.

No local, outra supervisora perguntou se ela iria a uma confraternização de uma professora, em Ibirité, mas ela respondeu que não, porque mora em Belo Horizonte e ficaria longe.

 

"Eu disse: 'Eu não vou porque para mim é longe'. Na hora, esse professor entrou na conversa e falou: 'Mas como assim se você mora no zoológico?'. Na hora é como se eu não tivesse entendido. Eu saí da sala, e a ficha caiu. É como se minha respiração tivesse fechado, fiquei com uma vontade muito grande de chorar", disse a supervisora.

 

Quando ela voltou para a sala, o professor já não estava mais no ambiente.

 

"A outra supervisora perguntou se eu queria um abraço, eu disse que não, disse que queria justiça", falou.

 

A supervisora procurou a Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG), por telefone, e foi direcionada para a Ouvidoria, onde fez uma denúncia sobre o caso. Ela também denunciou o caso de racismo ao Disque Direitos Humanos – Disque 100.

A profissional ainda relatou o ocorrido à diretora da escola, que ficou de tomar as providências necessárias.

Ela trabalha na instituição desde março deste ano, mas começou a ter contato pessoalmente com os colegas recentemente, quando as atividades presenciais foram retomadas.

 

"Ela perguntou se eu queria continuar na escola. Eu faço um trabalho muito bacana, a gente já tem um trabalho sendo desenvolvido, e não acho justo eu sair como se eu fosse criminosa", disse.

 

 

'Tudo se resume à cor da pele'

 

A supervisora falou que nunca viveu nada parecido e que, desde o ocorrido, não consegue parar de chorar. Ela relatou o caso nas redes sociais e vem recebendo muito apoio.

"Eu nunca tinha sentido uma dor tão grande assim, nunca tinha me sentido tão inferiorizada. Por mais que você estude, tenha capacitação, qualificação, no final tudo se resume à cor da sua pele. É uma sensação de impotência, de incapacidade, sensação de que eu não sou nada", contou a profissional, que trabalha na área da educação desde 2014.

Ela espera que o professor seja punido de alguma forma.

 

"A primeira coisa que me veio na cabeça foi o fato de ele ser professor. Estamos em uma escola de periferia, onde a maioria dos alunos são negros. Eu gostaria que ele soubesse da gravidade do que fez para não fazer de novo", afirmou.

 

 

Secretaria de Educação diz que está apurando

 

A Secretaria de Estado de Educação disse que está apurando o caso e que já recebeu manifestação da Ouvidoria Geral do Estado, onde a vítima formalizou denúncia.

Disse ainda que "repudia quaisquer atitudes e manifestações de discriminação e de preconceito".

Leia a resposta na íntegra:

"Informamos que a Superintendência Regional de Ensino Metropolitana B, responsável pela coordenação da Escola Estadual do Parque Elizabeth, em Ibirité, está acompanhando o caso, juntamente com o Serviço de Inspeção Escolar que atende a unidade. A direção da escola já instruiu a servidora quanto ao registro da denúncia nos meios legais e adequados, e está prestando todo o suporte necessário. Também está prevista, na próxima semana, uma reunião na escola, com as partes envolvidas em separado, para averiguar a questão. A SRE já recebeu a manifestação da Ouvidoria Geral do Estado de Minas Gerais e dará início aos procedimentos de apuração dos fatos, com realização das oitivas entre as partes, e desta forma, poderá tomar as medidas administrativas cabíveis.

A Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) salienta que repudia quaisquer atitudes e manifestações de discriminação e de preconceito. A escola é um espaço sociocultural que deve respeitar e, sobretudo, discutir amplamente a pluralidade cultural, como uma forma de desconstruir preconceitos."

Procurado pelo g1, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, responsável pelo Disque 100, disse que todas as denúncias registradas pelo canal são sigilosas e, por isso, não pode detalhar os trâmites de nenhuma ocorrência depois que ela é feita.

 

Fonte: G-1 Minas

COMENTÁRIOS
Comentário enviado com sucesso!