Como produtoras ou consumidoras, mulheres cachaceiras avançam contra estereótipo na Expocachaça
27/11/2021 06:06 em REGIÃO

 

Produzindo, vendendo  e virando cachaça. Por todos os corredores da Serraria Souza Pinto, local que sedia a 30ª edição da ExpoCachaça, há mulheres ocupando estandes como produtoras,vendendo como representantes de marcas do destilado ou apreciando uma boa aguardente. De acordo com a organização do evento, as mulheres já representam 55% do público cachaceiro, mas ainda lutam contra estereótipos que definem a bebida como “de homem”.

Alessandra Coelho Dutra, produtora da cachaça Jeceaba, fabricada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, faz parte da Confraria Mulheres da Cachaça (Convida), grupo que reúne mais de 400 mulheres, entre produtoras, apreciadoras, admiradoras e comerciantes do destilado no Brasil. 

“Nós nos reunimos para esse movimento de união porque a cachaça sempre foi tida como uma bebida masculina, e nós queremos lutar contra esse estigma de ser uma bebida de homem e que pertence ao universo masculino. Estamos empolgadas para crescer, não apenas por eu ser produtora, mas porque quero ver as mulheres ocupando todos os espaços. O que queremos é romper barreiras e preconceitos. As cachaças de hoje em dia são elaboradas, feitas com muito zelo e que geram muitas harmonizações e  drinks maravilhosos”, conta a empreendedora do setor que, junto à família, vende cerca de nove mil litros por ano da bebida artesanal.

Salinas, a Capítal Nacional da Cachaça

Mais à frente, Daniele Sarmento e a sobrinha Joyce Cardoso representam as Salineira e Valiosa, ambas produzidas no alambique da família Sarmento em Salinas, cidade que é referência nacional em cachaça, pelo patriarca, Antônio Sarmento, aos 82 anos. 

“A Salineira completou 30 anos de existência. No decorrer dos anos, criamos a Valiosa, que tem 15. Neste ano, ambas foram premiadas no Concurso Anual e Nacional da Cachaça com medalha de prata e ouro. É uma tradição”, conta.

Sobre a presença feminina nesse mercado, a empresária afirma que, em Salinas, a Capital Nacional da Cachaça, é comum ver mulheres à frente dos negócios de cachaça. “Sou representante da marca desde que ela foi criada, em 1989. É um mercado com várias produtoras e sommeliers, a mulherada domina”, afirma.

Sabor de Minas e do Pará

Da união de um blend de cachaças envelhecidas por um ano em tonéis de amburana e jequitibá com jambu – flor típica do Belém do Pará responsável pela sensação de dormência na língua –, Bruna Brandão criou a Jambruna, uma cachaça que mistura os sabores de Minas com a Amazônia. “Eu ia muito ao Pará, com o tempo, comecei a trazer a flor de Jambu e colocar nas cachaças de Minas”, diz. 

Atualmente, as vendas de Bruna ficam concentradas na capital mineira e em São Paulo, mas a empreendedora tem grandes planos para a marca. “Quando fui fazer o curso de mestre alambiqueiro, era a única mulher da turma, mas me surpreendi quando fui conhecendo mais; é um universo que têm muitas mulheres, mestras alambiqueiras,  produtoras com marcas próprias. É uma presença forte, mas que tem muito para crescer ainda. A gente vai cavando nosso próprio espaço como produtora e cachaceira também. Mulher não gosta só de licor, a  gente sabe apreciar uma cachaça boa”,  defende.

Para José Lúcio Mendes, presidente e promotor do evento, o estereótipo masculino sobre a cachaça é fruto do desconhecimento da origem do destilado. “Historicamente, foi a mulher que sempre fabricou a cachaça, enquanto o homem estava no campo trabalhando. É um universo feminino, a mulher é detalhista e traz qualidade ao produto com muita atenção à higiene na fabricação, o que é essencial para uma boa produção”, diz.

Novos mercados pós pandemia

De toda a cachaça produzida no Brasil, menos de 1% é exportada, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). O índice corresponde a 10 milhões de litros num universo de 1,4 bilhão de litros.

Presente no evento, a ex-deputada federal Raquel Muniz (PSD) é autora do Projeto de Lei nº 8.468/17, que tornou Salinas, oficialmente, a Capital Nacional da Cachaça. Ela defendeu que ainda há muito mercado a ser explorado pelos produtores mineiros no mundo. 

“Nós temos que ter a coragem para apresentar nosso produto em feiras internacionais. Recentemente, uma cachaça de Mato Verde, Norte de Minas, ganhou em primeiro lugar como melhor cachaça no Chile. Nós precisamos mandar nosso produto para exposições e trabalhar na articulação para procurar países interessados em comercializar nosso produtos, que são de altíssima qualidade. Quem compra a cachaça brasileira, sabe que está adquirindo um excelente produto. O que falta é esse enfrentamento para explorar o mercado e aumentar a exportação brasileira", relata.

Desafios para exportar

Um dos entraves aos produtores de cachaça é a alta tributação do mercado de bebidas alcoólicas. Marcílio Magalhães, superintendente federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em Minas Gerais,  defendeu que o caminho para exportação é a legalização do produtor. 

“Hoje, o México exporta 80% da produção de tequila, enquanto o Brasil exporta 1% de toda cachaça produzida no país. Atribuo isso mais à ausência de produtores legalizados porque o mercado externo exige o registro do produto e a fiscalização, o que garante que essa mercadoria não vá causar mal às pessoas. Com esse trabalho de conscientização, acredito que temos tudo para levar a cachaça a outros mercados”, diz.

 

Fonte: Hoje em Dia

 

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