Primeira mulher surda a ser doutora pela UFMG foi reprovada cinco vezes na escola e tem história de dedicação: 'Ainda sem acreditar'
Publicado em 03/03/2022 06:12
REGIÃO

 

A primeira surda a concluir um doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) só foi descobrir que tinha deficiência auditiva após ser reprovada cinco vezes no ensino fundamental.

 

“Não entendia a razão daquilo, já que eu era assídua e caprichosa. Só mais tarde compreendi que eu não conseguia discriminar palavras como bala e mala, nem meus professores desconfiaram da minha deficiência", disse Michelle Andrea Murta, de 40 anos, em entrevista feita por escrito ao g1 Minas.

 

A mãe dela e 80% de seus parentes também são surdos. Mas ela só foi aprender a linguagem dos sinais (libras) depois de concluir o ensino médio, aos 23 anos. Até então, ela entendia o que os outros falavam "lendo" sua expressão facial.

 

Michelle nasceu em Belo Horizonte, mas logo com um mês de vida foi levada para Salinas, no Norte de Minas, onde foi registrada e cresceu. Aos 14 anos, saiu de casa e decidiu voltar para a capital. Foi graças à Educação de Jovens e Adultos (EJA) que ela conseguiu terminar os estudos.

Michelle então passou no vestibular para letras/libras na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ela se formou em 2012 e logo iniciou o mestrado, concluído em 2015.

 

“No mesmo ano, comecei a atuar como professora na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mas queria muito voltar a BH, onde estavam meu filho e meu companheiro. Então, me dediquei muito e fui aprovada em primeiro lugar no concurso para docente da UFMG”, contou.

Em 2018, ela ingressou no doutorado. A professora defendeu a tese no dia 18 de janeiro de 2022, na área de estudos linguísticos.

 

"Tem horas que peço alguém para me beliscar, ainda estou sem acreditar. Ainda fico pensando: eu consegui? Fui eu mesma? Ainda estou extasiada sem acreditar, aos poucos a ficha vai caindo", disse ela.

 

 

Planos de inclusão

 

 

A professora e doutora tem planos também fora das salas de aula.

 

"Sou uma pessoa muito ansiosa, fico querendo fazer de tudo. Eu tenho o projeto "Literatura Surda: experiência das mãos literárias", com o foco de levar a literatura para todos. Meu sonho é aperfeiçoar mais, ter equipamentos específicos para fazer registro e edição para melhorar o projeto", contou.

O outro projeto da Michelle é a formação de instrutores de libras.

"O objetivo é chegar às pessoas de áreas mais afastadas e que não conseguem formação para trabalhar com alunos surdos", falou ela.

 

 

Fonte: G-1 Minas

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