Antonio Marcos Botelho Borges vence Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos
LEOPOLDINA
Publicado em 22/11/2022

 

No XXXI Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos, o escritor e poeta leopoldinense Antonio Marcos Botelho Borges foi o vencedor na categoria Poesias.  A obra intitulada Sopa de Ossos foi declamada pelo artista Fabricio Manca, que também foi vencedor, na categoria Interpretação Dramática.

A final ocorreu na noite de sábado,19/11 no Centro Cultural Mauro de Almeida Pereira.

 


Participantes e organizadores do concurso (Foto: Natália Montes)


Título da Obra: Sopa de ossos
Pseudônimo: Metamorfo
 

Cheiro fétido de comida provisória,
instalado bem lá nos fundos
de um frigorífico em ascensão,
aguçava nossa atenção, dos urubus,
dos cachorros e dos ratos de plantão.

Aquele cheiro forte de carne
e sangue envelhecidos
seduziam a gente.
Como éramos invisíveis,
deslocávamos sem pudor.

Vergonha diante da fome?
Não se sustenta!
Ou morríamos de vergonha
ou matávamos nossa fome.
Escolhi a segunda opção.

Ossos grudados a sebo,
ossos infestados de moscas,
jogados em um container
por homens de branco.
Eles não se importam!

Uma sacola de pão,
vagueando na sarjeta,
acolhia uma minoria de ossos
totalmente nus de carne,
intensamente repletos de moscas.

Trocávamos, quase sempre,
empurrões e socos.
Pasmem!
Entre nós mesmos,
ratos, urubus e cães.

 Os urubus,
da gente tem pena.
Os ratos, também.
Os cães, idem.
Os políticos, não!

Verdadeiros metamorfos.
Viram humildes,
comem do nosso mingau com osso
e bebem da nossa água de poço.
Inacreditável poder de transformação!

Chego em casa. Casa?
Preparo a sopa. Sopa?
Meu filho come, se lambuza?
Seus olhinhos de felicidade
chupam o que não existe nos ossos.

O pastor Cláudio
quer minha alma angariar.
Diz que só Deus salva.
Quer me encher de reza.
Infelizmente, reza não enche barriga!

A noite vem caindo
no pipocado barracão.
Meu filho dorme de barriga cheia.
Cheia de sopa,
cheia de vermes.

Durmo também,
pensando no amanhã.
Num amanhã de nós invisíveis,
de carne invisíveis
nos ossos em putrefação.

 

Fonte: Jornal Leopoldinense
 

Comentários
Comentário enviado com sucesso!