'Gambiarras' e trocas de pneus entre veículos: ex-funcionário denuncia condição de ambulância que bateu e matou 5 em MG
REGIÃO
Publicado em 28/12/2023

 

Após irregularidades confirmadas na documentação da ambulância que envolveu-se no acidente que matou cinco pessoas na BR-040 e apuração do g1 confirmar que o veículo já havia recebido multas por mau estado de conservação e excesso de velocidade, g1 e a TV Integração receberam denúncias de um profissional de saúde que prestou serviço à Guardiões Resgate.O trágico acidente aconteceu na quinta-feira (21), em Santos Dumont.Ao g1 e à TV Integração, o ex-funcionário, que pediu para não ter identificado, relata a falta de manutenção dos veículos e da frota e sucateada dos veículos.

 

A direção da Guardiões Resgate disse ao g1 que vai se pronunciar somente após as conclusões das investigações oficiais. A empresa presta serviços para a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora desde março de 2021. Em março de 2023, o convênio para transporte de pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi prorrogado por mais um ano com valor total de R$ 1.160.279,98.

“A ambulância não tinha uma manutenção, o veículo não parava para fazer manutenção. Se tivesse duas, três viagens seguidas, ela [ambulância] fazia”, afirmou o profissional.

 

“Talvez nos últimos três meses, ela não tenha passado por nenhuma manutenção, fazia o que a gente fala que é gambiarra. Tirava a peça de uma para colocar na outra. A porta lateral dela não estava abrindo, só a porta traseira, e ela estava com barulho muito forte na parte dianteira direita, na roda dianteira direita. Se você passasse de 60 a 70 km/h parecia que o carro ia desintegrar”.

 

Ainda conforme a denúncia, alguns pneus eram retirados de uma ambulância e colocados em outras para que as viagens pudessem ser feitas. “Fazia uma troca das que estavam sucateadas e colocava nela”.

 

Quanto à documentação, o homem não deu detalhes. “Quanto a isso [documentação], ele [proprietário da empresa] não passava pra gente, ele contratava, entregava a chave do carro e falava a viagem que tinha para fazer”.

 

Ainda de acordo com a denúncia, tanto a enfermeira Alessandra Chagas Motta quanto a médica Daniela Moraes Miranda Reis, mortas no acidente, já teriam viajado em situações adversas.

 

“Fiz uma viagem com essa enfermeira morta e a médica para Petrópolis e, quando cheguei perto de Pedro do Rio, parecia que ambulância ia desmanchar. Se chegasse a 80km/h, tinha que tirar o pé”.

 

 

 

g1 questionou a Prefeitura sobre quando foi realizada a última manutenção na ambulância e em quais condições ela foi liberada para trafegar, mas não recebeu resposta até a publicação dessa reportagem.

 

A TV Integração conversou com Anderson Stehling, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde, que criticou a falta de fiscalização.

 

“É uma coisa absurda. O carro não estava licenciado, o pneu estava careca, Deus sabe outras coisas que essa ambulância não tinha. E isso preocupa a gente, põe em risco os profissionais – três deles faleceram, e os pacientes".

 

 

Stehling não deu detalhes sobre legislação para operação de ambulâncias, mas questionou o cumprimento inadequado do contrato.

 

“Nenhum carro pode estar nessa situação, muito menos uma ambulância, contratada pelo serviço público. Quando você faz uma licitação, uma das exigências é a capacidade da empresa em oferecer um serviço de qualidade dentro da lei. Nesse caso, teve o total desrespeito à lei com o conluio do ente Público, que não fiscalizou o contrato”.

 

Logo após o acidente, a reportagem procurou a empresa para falar sobre os problemas apontados pela PRF e também a respeito da manutenção das ambulâncias, mas não houve resposta.

TV Integração esteve nesta quarta-feira (27) na sede da Guardiões Resgate, no Bairro Poço Rico, mas não conseguiu falar com o responsável.

 

Fonte: G-1 Zona da Mata

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