Pecuarista Evandro Guimarães lidera movimento que defende exportação de leite e derivados
10/07/2018 07:36 em REGIÃO

 

O pecuarista leopoldinense Evandro do Carmo Guimarães, proprietário das Fazendas do BASA, localizadas em Leopoldina, Muriaé e Cataguases, lidera um movimento que defende a exportação de leite e seus derivados. Com o lema “Sem exportação, não há solução”, o pecuarista defende que através da exportação, milhões de empregos podem ser protegidos ou criados no Brasil, que já tem grande produção de grãos e gado rústico excelente, tornando o país candidato a ser o principal produtor mundial. 

No dia 4 de maio, Evandro Guimarães foi um dos homenageados em Uberaba, durante a 84° EXPOZEBU, ao receber da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) o "Mérito ABCZ 2018", na categoria Nacional, em cerimônia que reuniu os principais nomes da pecuária brasileira. Criado em 1977, o Mérito ABCZ tem o objetivo de homenagear personalidades que se destacam no desenvolvimento da pecuária Zebuína. 

Em entrevista concedida ao Jornal O Vigilante, Evandro Guimarães aborda de maneira objetiva a questão da exportação, apresentando importantes informações, focadas na necessidade de exportação de leite. “O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango, maior exportador mundial de carne de suínos, segundo maior exportador do mundo de soja, este ano vai disputar o primeiro lugar na exportação de milho, e é o segundo exportador mundial de algodão. Essas três culturas (soja, milho e algodão), são culturas altamente protéicas. O milho é principalmente usado para rações, e também utilizado como volumoso. Então o Brasil tem comida para o gado, tem todos os ingredientes para fazer rações e pra fazer alimentação em nível de propriedade, tem terras, tem uma grande população, somos exportadores de grãos. A agricultura de escala segura as contas internacionais do país há muitos anos e misteriosamente nós não exportamos derivados de leite. Pura e simplesmente não exportamos”, afirmou Evandro Guimarães.

“Até alguns anos atrás, a maior área brasileira de crescimento, que tem maior volume na produção de grãos, não tinha gado altamente produtivo. Essa região, que é uma região quente, do Centro Oeste, é a região de Mato Grosso, Rondônia, Tocantins, Goiás. Faz alguns anos que nós já temos um gado que é o gado Girolando de alta genética, de qualidade superior. Isso é muito recente, é como se fosse uma descoberta, porque nós tínhamos o Girolando, mas era ruim. Só tinha Girolando bom quem tinha um plantel de fornecimento genético de Holandês de alta qualidade, algumas grandes fazendas de São Paulo, Paraná, do Triângulo Mineiro. O nosso Gir leiteiro era utilizado só para o desenvolvimento da raça Gir, porque os bons animais Gir eram muito caros. Então as pessoas utilizavam Gir bom pra fazer Gir. E utilizavam o fundo do Gir, ou seja, o conjunto menos qualificado do Gir para fazer o meio sangue Girolando. Mas, o que aconteceu nestes últimos 10 ou 15 anos?”, indagou o pecuarista, para em seguida explicar que o Gir leiteiro melhorou muito. “A raça Zebu, que transmite rusticidade para o gado Girolando e agora também transmite leite, melhorou muito. Chegamos a um ponto que hoje temos condições de fazer um Girolando meio sangue que é rústico, que é resistente, e que não precisa tomar tanto antibiótico quanto o gado europeu. O Gir agora transmite rusticidade e também leite. Passamos a ter fêmeas muito boas e touros muito bons para fazer o Girolando meio sangue. Nossa fazenda surgiu com o Gir leiteiro com esse objetivo, de fazer o Gir leiteiro, o Girolando, apenas de fêmeas muito boas. Isso não se fazia comumente no Brasil.”

Jornal - O Sr. foi o pioneiro? 
Evandro Guimarães - Não, não. Somos apenas uma fazenda que durante esses últimos anos teve foco exclusivo nisso, de fazer o muito bom com muito bom, de fazer o Gir leiteiro muito bom para produzir o meio sangue melhor. Apenas isso. Hoje somos muito conhecidos no Brasil, porque somos grande selecionador de Gir em qualidade e quantidade de animais. Produzimos 600 animais Gir leiteiro por ano. O comércio exterior é apenas uma pequena parte, e que é reservada apenas àquelas grandes empresas que têm autorização para exportar. A genética do Gir é a única genética que o Brasil de fato exporta, mas é uma coisa ainda irrelevante. 

Jornal - O forte então é o mercado interno?

Evandro Guimarães - Sim, apenas o mercado interno meio sangue, porque a base do gado era um Gir que a gente chama Gir dupla aptidão, que existe no Brasil há muitos anos, veio da Índia, e não era um gado suficientemente leiteiro para valorizar o cruzamento. Hoje, no Brasil já existe uma boa quantidade de fazendas com Gir Leiteiro de alta qualidade, e nos destacamos porque a gente resolveu fazer compromissos publicamente. Então a gente diz: "Não aspire um Gir qualquer". ‘Aspirar’ é você tirar os oócitos da vaca, “misturar” com um sêmen num laboratório especializado e transferir o embrião numa barriga de aluguel. Sempre dissemos: Só aspiramos Gir leiteiro de alta qualidade. A gente só oferece o Girolando meio sangue informando as mães de grande consistência genética e alta lactação. Nós temos esse foco. 

Ao destacar o papel de algumas fazendas muito importantes do Brasil, como Brasília, Mutum, Xapetuba, Calciolândia, que têm um Gir muito bom, e passaram a fazer o meio sangue do Gir bom, Evandro Guimarães explicou que cada uma dessas fazendas já produz acima de 15 mil kg de leite/dia: “Têm uma produção enorme de leite, porque têm um animal acomodado ao clima tropical que é muito apropriado para ser cruzado com o macho Holandês.” 

Jornal - Quando começou sua paixão pelo agronegócio?
Evandro Guimarães - Meu avô era fazendeiro em Muriaé e desde criança eu passava férias na fazenda. Com 20 e poucos anos, quando tive algum recurso, comprei uma parte da fazenda lá e comecei a criar gado leiteiro. Eu errei com a criação de gado por 30 anos. Fui tentando aprender. Criei gado Holandês, criei gado Girolando de baixa qualidade, criei o Gir padrão que é o Gir que não acrescenta muito leite nos cruzamentos. Sou persistente com esse negócio da fazenda, em situações nada lucrativas, sempre muito difíceis. A única coisa realmente nova que eu vi na pecuária nesses quase 50 anos foi o meio sangue advindo de vaca boa. A única coisa que é diferente, que é decisiva para mudar nossa pecuária. 

Jornal - A partir dessa sua luta pela exportação de leite, o Sr. se considera uma liderança, uma referência?
Evandro Guimarães -
 Não. O movimento de exigir que o Brasil tenha uma seleção, um time de alta competência para exportar leite é um movimento que eu defendo, mas que mal começou. Eu defendo isso como uma forma de responder as pessoas que me consultam, e as pessoas que estão desesperadas às vezes com o baixo preço do leite na entressafra ou na safra, e que não veem horizonte pra isso e deixam a atividade. Eu tento esclarecer essa questão de que o Brasil não exporta leite. É muito estranho o Brasil não exportar leite. Aliás, é muito estranho o Brasil produzir cerca de 34 bilhões de kg de leite, porque o país que vem acima do Brasil produz 3 vezes mais. A Índia produz 110 bilhões, os Estados Unidos produzem 100 bilhões, a União Européia produz em torno de 90 bilhões, depois vem o Brasil com 34 bilhões. Por que o Brasil tem que produzir 3 vezes menos que os primeiros? A única explicação é que não existe um esforço do governo, das instituições. As entidades que deveriam cuidar disso ficam inibidas frente às grandes empresas internacionais européias. Não tem ninguém cuidando pra valer de exportação de leite. Se o país tivesse vontade de reduzir o desemprego teria uma seleção, um grupo, promovendo a exportação de leite no Brasil, teria uma política pública. O Brasil possui algumas das melhores fazendas do mundo. A genética do leite para o clima temperado/frio - Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul nós temos de sobra. E agora temos para o mundo tropical, nós temos um Girolando melhor. Inclusive aqui na região de Leopoldina nós temos criadores que já têm gado excepcional, posso citar o Cláudio Moura, o Salvador (Dodô) e vários outros que têm um gado excepcional meio sangue, e em Muriaé nós temos 15 produtores que ganham concursos nacionais, que ganham na Megaleite. Temos muita gente com gado muito bom. Agora, o processo para que o preço do produto seja justo para os pequenos e médios produtores, depende de um aumento do consumo.  


Jornal - Por que não percebemos algum projeto a ser desenvolvido em âmbito municipal?
Evandro Guimarães 
- Eu não sei qual é a competência institucional dos municípios para apoiar o produtor de leite, mas certamente o governo federal é quem tem maior arrecadação, maior papel. O maior número de entidades de promoção das melhorias no campo é do governo federal. Em segundo lugar vem o Estado, e Minas tem várias instituições, Emater, Epamig, etc.. Claro que um prefeito animado com a produção de leite do seu município poderia fazer algum movimento, principalmente cobrar das atividades estaduais e das atividades federais um suporte. O único dado que eu tenho de Leopoldina é antigo, mas o dado dizia que havia em Leopoldina cerca de 950 produtores de leite, distribuídos de maneira bem uniforme entre os cinco distritos do município. Há alguns anos eu consegui esse dado. Provavelmente, Leopoldina tem uma oportunidade fantástica, quer dizer, o gado de Leopoldina pode ser melhorado, porque todo gado, desde que tenha condições sanitárias adequadas, pode servir de barriga de aluguel para um gado melhor. Mas, é claro que você tem que ter um mecanismo de educação, de divulgação, um mecanismo de financiamento. O maior problema que eu vejo na falta de iniciativa de alguns municípios é que sempre estão com poucos recursos para atender a área tipicamente social, o que não exclui que é lamentável que não tenha alguém brigando na área municipal para essa geração de emprego. Tem outras coisas graves que os produtores não têm ninguém falando por eles. Por exemplo, quando eu era garoto aqui em Leopoldina, o produtor rural ia ao Banco e era recebido em uma mesa por um gerente. Hoje é recebido por um bedel na porta do Banco e o cara o manda pra máquina. Você acha que algum produtor rural tem vontade de ir a um Banco falar com uma máquina? A máquina é pra tirar algum dinheiro, com o cartão de crédito. Na nossa região, que é de minifúndios, de pequenas propriedades, existe um tratamento como se o produtor rural fosse um estorvo. Isso gera desemprego. O atual governo estadual é omisso. Os produtores que são profissionais são os produtores médios. Os grandes nem são produtores, são empresas. Os pequenos, da agricultura familiar,  são produtores pela sobrevivência. Então, nós temos aí no âmbito federal, estadual e municipal, um grande problema, mas temos outros mais. Na área privada as entidades que existem, elas também não são tão efetivas como poderiam ser. Levantando essa questão da exportação, penso que deveria ser trabalhada pelas entidades. Eu falo disso sempre na expectativa de que alguém com mais estrutura possa comprar uma idéia que vai se tornar realidade daqui a 3 ou 4 anos. Nada acontece no dia seguinte de manhã, e o pecuarista sabe disso. Ele insemina uma vaca hoje pra nascer daqui a 9 meses e meio, e para essa vaca dar leite 24 ou 25 meses depois, quando ela é de boa qualidade. O pecuarista sabe que trabalha com horizonte de 3 anos. Eu estou falando de exportação, para trabalhar com horizonte de 3 ou 4 anos é normal. A gente vê uma bezerrinha nascer na nossa fazenda, a gente acha maravilhosa, mas nós sabemos que isso aí vai produzir alguma coisa daqui a três ou quatro anos. Então, o pecuarista de leite tem uma perspectiva que às vezes os políticos e os comandantes de associações governamentais ou privadas não têm. As coisas precisam ser vistas lá na frente. Ninguém constrói alguma coisa para ter retorno em 24 horas. E hoje no Brasil parece que os governos só pensam no dia seguinte, ninguém pensa lá na frente. 


Evandro Guimarães falou de seu esforço em distribuir um abaixo assinado solicitando esforços governamentais e privados para Exportação de Leite e Derivados, que está recebendo milhares de assinaturas de Pessoas Físicas, Empresas e Organizações Privadas. “Eu fiz questão de distribuir esses folhetos, que já têm milhares de assinaturas. Isso vai se tornar um movimento do produtor”. O abaixo assinado solicita que as autoridades públicas e organizações privadas iniciem um esforço vigoroso, tenaz, persistente, de exportação que mantenha o crescimento da produção e produtividade na cadeia do leite. “A atividade exportadora pode se tornar sustentação de milhões de empregos e de estabilidade de preços ao produtor. A produção de leite está presente na quase totalidade dos municípios brasileiros e a dedicação para exportar ainda não é correspondente à importância da pecuária leiteira”, esclarece o texto. 

Guimarães informou sua intenção de levar o tema da exportação de leite e o abaixo assinado a todos os candidatos a presidente da República, a título de contribuição, em favor dos produtores. 

Sobre as parcerias desenvolvidas pelas Fazendas do BASA, Evandro Guimarães disse que são mais de 40 parceiros na região: “Muriaé, Carangola, Itaperuna, Cachoeiro, Governador Valadares, Guarani, Juiz de Fora, Carmo, Goianá, Barbacena, Leopoldina.”

Na conclusão da entrevista, Evandro do Carmo Guimarães deixou sua mensagem aos leitores do Jornal O Vigilante: “Eu espero que todos os leitores, munícipes, conterrâneos, estejam atentos para votar bem esse ano. Corrupto não, pelo amor de Deus. Chega de corrupção. Nós não podemos aceitar corrupção. Antes de votar dê um 'Google', procure ver quantos processos a pessoa está respondendo. A primeira coisa que eu posso dizer que pode fazer o Brasil voltar a ter esperança é termos uma política mais séria, mais honesta. E a gente tem uma oportunidade nessa eleição para governo federal, governo estadual, legislativo federal e legislativo estadual. A gente deveria votar pensando assim: Corrupção não. Chega!"

 

Fonte: O VIGILANTE ONLINE

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