A delegada responsável pelo caso, Ione Barbosa, comentou que a mulher, de 41 anos, disse que desconfiava dos abusos. Tanto a mãe quanto os familiares paternos, que teriam sido informados pela vítima dos abusos, podem responder por omissão de estupro.
A adolescente tem uma irmã gêmea e um irmão, de 17 anos, que devem ser ouvidos nos próximos dias. O inquérito apura se eles também eram abusados pelo pai. A delegada tem 10 dias para fechar o caso e remeter à Justiça.
O homem de 40 anos foi preso em flagrante neste domingo (19) pela Polícia Militar (PM). Ele confessou o crime e, nesta segunda-feira (20), foi encaminhado ao Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp).
"Ainda estamos apurando, mas, a princípio, ele pode responder pelos crimes de estupro; estupro de vulnerável, porque os abusos começaram quando ela era menor de 14 anos; e pelas ameaças. Estes três crimes serão em continuidade delituosa, por terem ocorrido nos últimos 10 anos. A pena pode aumentar pelo fato de ele ser o pai da vítima", explicou Barbosa.
De acordo com a delegada, a mãe está morando há menos de um mês em Juiz de Fora e compareceu à delegacia nesta manhã. Há informações conflitantes nos depoimentos dela e da filha, vítima do estupro.
"A mãe disse que teve uma desavença familiar e que foi embora quando as crianças já eram grandes. Ela também disse que sempre tinha contato com eles. No entanto, a garota alega que a mãe deixou a família quando as gêmeas tinham 10 meses e que elas não tinham contato", afirmou.
A menina passou um tempo com a mãe em Muriaé, depois de revelar os abusos em 2017.
"Em janeiro de 2017, ela teria contou sobre os abusos aos familiares paternos e foi morar com eles no Rio de Janeiro. Após a morte da avó, a família não quis ficar com ela e a entregou para a mãe. A mulher alega que a adolescente não quis ficar em Muriaé. A filha disse que a mãe não quis ficar com ela e ligou para o pai ir buscá-la", disse.
A mulher também afirmou que suspeitava dos abusos e, mesmo assim, entregou a filha novamente para o pai.
"A mãe contou que desconfiava do abuso a ponto de denunciar no Conselho Tutelar, porque, segundo ela, o pai via a menina como mulher e não como filha (...). No entanto, como a menina não admitia o estupro, a mãe a entregou novamente para o pai, o que culminou nas atrocidades que ele fazia", afirmou a delegada.
Será verificado pela Polícia Civil junto ao Conselho Tutelar se esta denúncia existe e quando foi feita. A delegada também pretende ouvir os familiares da adolescente, que moram no Rio de Janeiro. Assim como a mãe, eles também podem ser indiciados no inquérito.
"A mãe (...) pode responder por estupro e por omissão, mesmo não morando juntos, se for comprovado que sabia e não fez nada para impedir", explicou Barbosa.
"Depoimento muito triste", diz delegada
A delegada conversou com a adolescente na noite de segunda. Ela relatou os abusos, a pressão de conviver com o estuprador dentro de casa e o fato de não ter encontrado apoio ao contar o que acontecia.
"O depoimento dela foi muito triste. O que ela poderia fazer? Ela contou que chegou a pensar em se matar. Sem apoio de ninguém, ficaria naquela situação. Se não fosse as amigas, para onde ela iria? As colegas dela tiveram sensibilidade e inteligência ao ajudar a denunciar o crime", contou a delegada.
Ela e os irmãos foram acolhidos de forma temporária, por 60 dias, por uma das famílias que ajudou a denunciar o caso. "A adolescente diz que nunca percebeu que ele tenha abusado dos irmãos, porque o pai era agressivo com os dois. Contou que ele a ameaçava de morte caso ela revelasse os estupros para alguém", disse Barbosa.
Em depoimento, o relato da vítima e do suspeito confirmou como os abusos aconteciam. "Ela disse que ele trancava a porta do quarto e deixava o volume da televisão bem alto, para que os outros filhos não percebessem o que estava acontecendo", comentou a delegada.
No entanto, assim como disse aos policiais militares, o homem negou as ameaças e atribuiu a culpa à vítima. "Segundo ele, havia a relação sexual e que não era sob ameaça, mas sim porque a adolescente queria, e que ele dava entre R$ 50 e R$ 100 para ela", disse.
A delegada irá enviar o celular do homem para a perícia, para verificar as provas de que ele a controlava e as evidências do alarme, que avisava que era hora da adolescente tomar o remédio anticoncepcional. Ela também aguarda os laudos das roupas recolhidas na casa da família e do exame realizado na vítima no Protocolo de Atendimento ao Risco Biológico Ocupacional e Sexual (Parbos).
Código entre amigas ajudou na denúncia
A vítima disse à PM que era abusada há pelo menos 10 anos e que era monitorada e ameaçada pelo pai para que não contasse a ninguém sobre os estupros sofridos.
Conforme o Registo de Evento de Defesa Social (Reds), a adolescente contou sobre o crime para duas amigas e disse que sofria constantes ameaças do pai. Uma das amigas contou para a mãe e elas procuraram orientação da PM.
Como a vítima era monitorada pelo pai, ela e as amigas criaram uma mensagem em código para avisar e flagrar quando ocorresse o crime novamente.
No entanto, no domingo (19), ao receber a mensagem "oi" que era um código combinado entre elas para pedir socorro quando a adolescente fosse novamente estuprada, as amigas avisaram à PM, que se mobilizou para realizar a prisão em flagrante.
Confissão do crime chocou policiais
Com as garotas protegidas por policiais, outros integrantes da equipe invadiram a casa e prenderam o homem no quarto. A princípio, o pai, que é formado em História, mas estava desempregado, negou o crime dizendo que não era a primeira vez que a filha inventava isso. Só que ao saber que a adolescente seria examinada, ele confessou o estupro.
"A frieza dele nos chocou. Ele disse que havia pesquisado, que não era estupro, mas incesto. Para ele, a filha era como se fosse a mulher dele, mas ele também tinha amor de pai e dava broncas nela", contou o subtenente da PM, Marcos Roberto de Oliveira, um dos que registrou o caso.
O pai alegou ainda que dava dinheiro para a menina em troca dos "favores sexuais", que ela nunca reclamou e que ele a estuprava sem preservativo, porque a filha tomava remédios.
"Enquanto a gente estava no local, o celular dele apitou. A gente perguntou e ele disse que era o alerta para a menina tomar o anticoncepcional. Ele monitorava. Estamos todos estarrecidos com a frieza dele ao narrar as barbaridades que fazia com a menina. Temos filhos e parentes", disse o policial.
Fonte: G-1 Zona da Mata