Após pedir avaliação de insanidade de agressor de Bolsonaro, advogado diz que também quer saber quem é Adélio Bispo
11/09/2018 07:56 em REGIÃO

 

“Nós queremos saber também quem é Adélio. É são? É um insano? É um louco? É um lunático político? Moveu? Foi movido?”, questionou Zanone Manuel de Oliveira Júnior, um dos advogados que representam Adélio Bispo de Oliveira, suspeito de dar uma facada em Jair Bolsonaro (PSL) durante campanha em Juiz de Fora (MG).

A declaração foi dada após o advogado protocolar na sede da Justiça Federal em Juiz de Fora nesta segunda-feira (10) uma petição de incidente de insanidade mental. Ele quer que seu cliente seja avaliado por uma banca de psiquiatras, para que eles verifiquem as capacidades mentais de Adélio.

Bolsonaro foi atacado durante ato de campanha no Centro de Juiz de Fora, na tarde de quinta-feira (6). O presidenciável está internado desde sexta-feira (7) no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo. Antes, o candidato à Presidência pelo PSL passou por cirurgia na Santa Casa de Juiz de Fora.

De acordo com a assessoria de comunicação da Justiça Federal em MG, o auto de prisão de Bispo foi distribuído para a 3ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Juiz de Fora. O juiz federal, Bruno Souza Savino, é o responsável pelo processo.

 
Jair Bolsonaro foi esfaqueado durante campanha em Juiz de Fora (Foto: Raysa Leite/AFP)Jair Bolsonaro foi esfaqueado durante campanha em Juiz de Fora (Foto: Raysa Leite/AFP)

Jair Bolsonaro foi esfaqueado durante campanha em Juiz de Fora (Foto: Raysa Leite/AFP)

A defesa de Adélio alegou à Justiça Federal que o cliente tem histórico de tratamento psiquiátrico e sofre de insanidade mental. Zanone justificou que o agressor já fez uso de medicação.

“Ele nos contou também que já fazia uso de medicação controlada, que ele já tem um histórico, uma vida pretérita de consultas perante psiquiatras, perante neurologistas, e que ultimamente estava passando por uma crise crônica de insônia", revelou Zanone.

O advogado não acredita que que o agressor estivesse sob efeito de drogas ou bebida alcoólica no momento do crime.

"Pode ter acontecido, mas ele não nos relatou. Ele saiu de casa com aquele dolo, aquela intenção de ceifar a vida do presidenciável, mas essa notícia de que ele teria feito uso de medicamento no dia, ou de qualquer outro tipo de substância, que tivesse a capacidade de obnubilar a sua psique, ele não nos relatou”, disse.

 

“Todos querem a cabeça do Adélio, todos querem a condenação de Adélio. Adélio vai ser condenado, Adélio é confesso”, disse o advogado do agressor.

 

Zanone disse que a defesa está consciente de uma condenação por parte de Adélio, mas que vai assegurar que ela não se dê na “tentativa de homicídio” e sim em “crime contra a segurança nacional”.

“Nós vamos pactuar sim com uma condenação, mas conforme o Direito. O enquadramento típico feito pela Policia Federal será o artigo 20 da lei 7.170, de 1983, que trata do crime de atentado contra a segurança nacional, neste caso, um atentado pessoal por questões de ideologias políticas contra um presidenciável”, afirmou.

A partir de agora, a defesa vai esperar o oferecimento da denúncia e apresentar a resposta da acusação. “E nessa resposta arrolaremos as testemunhas de defesa, porque a procuradora certamente arrolará as testemunhas de acusação na denúncia, e vamos requerer a oitiva da vítima”, concluiu.

O advogado, que trabalhou nos casos do goleiro Bruno e da missionária americana Dorothy Stang, disse à reportagem do Jornal Nacional que foi contratado por um homem de Montes Claros, que seria da mesma igreja do agressor. Também estão na defesa Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa, Fernando Costa Oliveira Magalhães e Marcelo Manoel da Costa.

 

Adélio Bispo de Oliveira após atacar Bolsonaro com uma faca em Juiz de Fora (Foto: PM/Divulgação)Adélio Bispo de Oliveira após atacar Bolsonaro com uma faca em Juiz de Fora (Foto: PM/Divulgação)

Adélio Bispo de Oliveira após atacar Bolsonaro com uma faca em Juiz de Fora (Foto: PM/Divulgação)

 

Agressor foi indiciado pela PF

 

No momento em que foi esfaqueado, Bolsonaro fazia corpo a corpo com eleitores na Rua Halfeld. O suspeito de atacar o candidato tem 40 anos e foi preso na delegacia da Polícia Federal (PF), onde confessou o crime.

Ainda no dia do ataque, ele foi levado para o Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Juiz de Fora. No sábado (8), foi transferido para o presídio federal de Campo Grande (MS).

No dia do ataque, outro advogado de Adélio, Pedro Augusto Lima Possa, disse que seu cliente assumiu a autoria do atentado e que agiu por "motivações religiosas, de cunho político". "Ele não tinha intenção de matar, em momento algum. Era só de lesionar", afirmou.

O agressor é formado em pedagogia. Atualmente, não há registro de filiação partidária dele, mas Oliveira foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014.

Ele tem passagem na polícia em 2013 por lesão corporal. A executiva do PSOL em Minas Gerais confirmou que o agressor foi filiado ao partido no passado e divulgou nota repudiando o ataque e cobrando uma investigação.

A Polícia Federal indiciou o agressor pelo crime de "atentado pessoal por inconformismo político" com base no artigo 20 da Lei de Segurança Nacional.

Por essa acusação, Oliveira pode ser condenado a uma pena de 3 a 10 anos de prisão. A legislação prevê ainda que se a agressão resultar em lesão corporal grave, a pena pode ser até mesmo dobrada.

 

Bolsonaro segue internado

 

último boletim médico divulgado pelo Hospital Albert Einstein nesta segunda informa que Jair Bolsonaro segue "sem sinais de infecção" e confirma que o candidato à Presidência pelo PSL passará por nova cirurgia posteriormente.

O comunicado diz que a operação será feita para "reconstruir o trânsito intestinal e retirar a bolsa de colostomia".

A realização da operação, considerada de grande porte, já estava prevista para depois que o candidato tiver alta e só deve ocorrer daqui dois meses. Enquanto isso, Bolsonaro seguirá com a bolsa externa ligada à barriga.

 
Bolsonaro segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo (Foto: Reprodução/Twitter/Flavio Bolsonaro)Bolsonaro segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo (Foto: Reprodução/Twitter/Flavio Bolsonaro)

Bolsonaro segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo (Foto: Reprodução/Twitter/Flavio Bolsonaro)

O boletim médico afirma que, passados quatro dias após o ferimento, o estado do candidato "ainda é grave e permanece em terapia intensiva".

"O paciente permanece ainda com sonda gástrica aberta e em íleo paralítico (paralisia intestinal), que ocorre habitualmente depois de grandes cirurgias e traumas abdominais. Ontem, havia uma movimentação intestinal ainda incipiente e que persiste do mesmo modo hoje", acrescenta o documento, assinado pelos médicos Antônio Luiz Macedo, cirurgião; Leandro Echenique, clínico e cardiologista; e Miguel Cendoroglo, diretor superintendente do hospital.

O comunicado ainda cita que Bolsonaro permanece "recebendo o suporte clínico, cuidado de fisioterapia respiratória e motora, e alimentação exclusivamente parenteral (endovenosa)".

 

Outras declarações do advogado de defesa

 

Após protocolar o pedido na Justiça Federal de Juiz de Fora, Zanone Manuel de Oliveira Júnior falou sobre diversos aspectos relacionados ao seu cliente. Veja abaixo alguns destaques da entrevista do advogado de defesa:

Sobre algum eventual transtorno mental: “Ele já teve consultas. O problema é que, por essa vida dele, de todo mês estar em um lugar diferente, nós da defesa ainda não tivemos acesso a nenhum histórico médico, a nenhum laudo pretérito”

Sobre materiais encontrados na pensão em que Adélio estava: “Ele sempre trabalhou como ajudante, fazia bicos como garçom. Então, ele tentava empregos, serviços, e assim ele veio sobrevivendo. Isso foi me repassado pelo próprio Adélio”

Sobre conduta de Adélio no dia do ataque: “Nós não temos um histórico médico, mas temos um supedâneo, um alicerce fático muito forte: a própria conduta do Adélio, porque ele sabia que o presidenciável estava sendo protegido e escoltado, até porque a lei federal prevê esse tipo de proteção para quem concorre à Presidência da República, e eu tenho certeza que ele sabia disso e mesmo assim teve a audácia. (...) A audácia de Adélio em afrontar toda essa segurança e partir para uma atitude kamikaze, só isso já é um instrumento, um fato que alicerça esse nosso pedido. E o que nós queremos saber qual era o estado da rigidez, da saúde mental naquele momento, até porque a nossa situação é tranquila. Ele não nega a autoria. Ele foi lá, numa missão kamikaze, e ele nos relatou: ‘Eu pensei que eu não voltaria. Eu fui para morrer’. Essas são palavras de Adélio, não são palavras do Zanone”

Sobre a contratação dos advogados: “Essa pessoa (que contratou a equipe de defesa) o conhece através da religião, e simplesmente se apiedou da existência hoje desse inferno astral, desse martírio que o Adélio está passando. (...) Eu sou o profissional há mais de duas décadas, me doo sempre, diuturnamente na minha vida, ao tribunal do povo, que é a minha especialidade. E aí meu nome foi sugerido por essa pessoa. Essa pessoa veio até mim, e eu, que tenho vários advogados associados Brasil a fora, porque faço vários trabalhos em júris pelo Brasil afora, acionei em primeiro lugar doutor Pedro, que com uma prontidão assim ímpar, se deslocou à cidade de Juiz de Fora para analisar os requisitos da prisão em flagrante, se os direitos, se principalmente as garantias fundamentais da Constituição Federal, em que concerne ao nosso representado, Adélio, estavam sendo atendidos”

 

Fonte: G-1 Zona da Mata

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