Era madrugada quando Caio quis conhecer o mundo. No relógio, 2h da manhã e Fernanda Monteiro de Lima Filgueiras sentia a bolsa se romper. “Ele sempre foi bem animado aqui na barriga e costuma mexer mais a noite”, contou a mãe três dias antes da chegada do menino. Caio já estava grande dentro dela quando a servidora pública de 33 anos entrou em regime de home office. Era dia 17 de março, uma terça-feira. Dois dias depois a Prefeitura publicaria um decreto de emergência proibindo o funcionamento de galerias, lojas, salões de beleza e outros estabelecimentos por tempo indeterminado. Fernanda estava com oito meses de gestação e não tinha olfato nem paladar.
“Não imaginava que fosse Covid-19, porque não tive nenhum outro sintoma, além desses e de uma ardência no nariz. Achava que era a gravidez”, conta. Numa conversa com um cunhado médico, ela foi alertada de que poderia ser a infecção por coronavírus e, como a mãe, pertencente ao grupo de risco, se mudaria para sua casa para ajudá-la, Fernanda decidiu fazer os exames. Positivo. “Fiquei surpresa, mas continuei tranquila.” Caio se mexia. “Na hora de dormir, quando nos deitamos, ele costuma mexer bastante”, diz ela, à espera do filho, que pode chegar a qualquer momento.
Diagnosticada com Covid-19 no dia 26 de março e com resultado negativo há menos de duas semanas, no dia 22 de abril, Fernanda viveu as últimas semanas de sua primeira e aguardada gravidez com uma infecção ainda pouco conhecida pela ciência e que assusta, cada dia mais, os brasileiros. De acordo com o médico infectologista do Hospital Universitário Rodrigo Daniel de Souza, as grávidas têm o mesmo risco de contrair a Covid-19 do que as outras pessoas. “Ainda permanece não tão claro se as grávidas que se infectam têm o risco maior de ter formas graves. Sabe-se que, muitas das vezes, isso (o agravamento) acontece com outros vírus, parecidos com o da Covid-19. Então, estimamos que, talvez, a gravidez seja um fator de risco para complicações e, por isso, esse público deve ser protegido”, explica o profissional, chefe do setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde do HU-UFJF/EBSERH.
‘Não sei onde peguei’
Nos dias que se passaram após a cidade entrar em regime de isolamento social, Fernanda Filgueiras precisou sair algumas vezes para fazer exames. “Acho que fui infectada antes desse período de isolamento (na cidade), mas não sei. Meu caso foi um dos primeiros de contaminação comunitária em Juiz de Fora. Realmente não sei onde peguei”, observa ela, que após o resultado positivo manteve-se em casa, por quase um mês. O marido, Renato, empresário do setor de eventos, ficou isolado com ela. Não teve sintomas, mas também não fez exames para saber se havia se infectado ou não. Por mais de duas semanas, o casal ficou completamente isolado em casa.
“Ele (o marido) é muito companheiro, me ajudou muito. Ele trabalhava durante a semana e ajudava com as tarefas da casa. Separamos tudo. Eu cozinhava e arrumava a cama. Lugares ruins de limpar por conta da barriga, ou porque eu ficava mais cansada, ficavam por conta dele, que lavava o banheiro, as louças e fazia os serviços mais pesados. Nos ajudamos muito”, narra ela, casada há cinco anos. Os vizinhos também ajudaram muito. “A gente fazia pedido para compras de mercados e hortifrúti, e eles deixavam na porta. Tocavam campainha e quando víamos que o elevador descia, abríamos e pegávamos as coisas. Cozinhei em casa. Ficamos nos virando”, lembra a mãe de Caio, que evitou fazer esforço para que o quadro não evoluísse.
Fonte: Tribuna de Minas