Juiz-foranos recorrem às negociações de aluguéis
13/09/2020 12:49 em REGIÃO

 

Enquanto as vendas de imóveis cresceram até 50% durante a pandemia da Covid-19, conforme mostrado em reportagem publicada pela Tribuna de Minas na terça-feira (8), o segmento de locação tem apresentado outro comportamento. Neste período, muitos inquilinos recorreram às renegociações de aluguéis e, alguns, precisaram devolver o imóvel, reflexo da redução do emprego e da renda. Um dos principais impactos foi percebido no comércio, composto em sua maior parte (75%) por lojas alugadas, conforme dado do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF).

De acordo com a entidade, cerca de 400 estabelecimentos encerraram as atividades, e muitos dos que continuam na ativa precisaram negociar a cobrança com os proprietários. “Em muitos casos, o locador conhece o locatário há muito tempo e foi possível renegociar os valores. Houve o entendimento de que vivemos um período difícil, que exige sacrifício de todas as partes”, afirma o presidente do sindicato, Emerson Beloti. “Nas situações em que não houve essa compreensão, o empresário devolveu o imóvel.”

 

A empresária Maria Luiza Oliveira conta que conseguiu retomar as atividades presenciais em sua loja de roupas, no Centro, graças à negociação. “Nos últimos meses, mantive as vendas pelas redes sociais, mas o faturamento caiu muito. Foi preciso conversar para buscar alternativas. Para mim, era interessante continuar no mesmo ponto. Para o proprietário, era a garantia de manter o imóvel alugado.”

Um comerciante que preferiu não se identificar relata que, diante da dificuldade de arcar com o aluguel e a incerteza sobre a duração da pandemia, optou por entregar o imóvel localizado na Zona Norte. “Parei as atividades em março, mas continuei pagando o valor integral, não houve negociação. Agora foi autorizada a reabertura, mas não vou retornar. Não dá mais para continuar pagando o aluguel sem as vendas.”

Moradia
Não foram apenas os inquilinos de imóveis comerciais que enfrentaram dificuldades financeiras. A situação também afetou pessoas que moram de aluguel. O presidente da Associação Juiz-forana de Administradores de Imóveis (Ajadi) e CEO da imobiliária Souza Gomes, Diogo Souza Gomes, diz que só no estabelecimento foram negociadas 400 locações, entre descontos, liberações de multas para encerramento do contrato antes do prazo, renegociações de valores e até mesmo a liberação do pagamento.

“Foi um momento que pegou todos de surpresa, um grande problema para inquilino e proprietário, pois ambos sofreram com a crise. Os orçamentos foram encaixados nas negociações a fim de viabilizar uma alternativa”, explica. “Mas tiveram clientes que nem chegaram a negociar e devolveram os imóveis assim que viram que não iam conseguir pagar o aluguel. Isso ocorreu tanto com imóveis comerciais, porque os negócios foram fechados, quanto residenciais, porque as pessoas voltaram para a casa dos pais ou foram para outro lugar temporário para não ter esse custo.”

JF tem quase 90 mil beneficiários de auxílio

A movimentação observada no segmento de locação de imóveis reflete a situação econômica de uma boa parte da população que convive com a diminuição da renda. Nos últimos meses, muitos trabalhadores perderam o emprego, outros tiveram reduções de jornada e salário, conforme autorizado pela Medida Provisória 936. Há, ainda, os empresários que precisaram paralisar as atividades temporariamente, por conta do isolamento social.

Os números comprovam essa realidade. Juiz de Fora encerrou 2019 com 147.092 trabalhadores com carteira assinada. Entre janeiro e julho deste ano, registrou a perda de 6.292 postos, o que reduziu os empregos formais para 140.800. Os números foram obtidos pela Tribuna por meio do cruzamento de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

R$ 53,5 milhões
Outro dado que exemplifica o impacto financeiro de muitas famílias é a busca pelo auxílio emergencial de R$ 600. Só em julho, 89.238 pessoas receberam o benefício na cidade, segundo levantamento da Tribuna junto ao Portal da Transparência do Governo federal. Com o pagamento, naquele mês, foram injetados R$ 53,5 milhões na economia local.

Para Beloti, a situação é preocupante. “Precisamos de mecanismos para a criação de empregos, pois o fim do pagamento do auxílio emergencial irá impactar profundamente a nossa economia.”

Realidades opostas
Na avaliação da especialista em finanças, controladoria e auditoria e professora da Estácio Juiz de Fora, Mayanna Marinho, a pandemia tem evidenciado as diferenças sociais, o que pode ser exemplificado pelas movimentações observadas no setor imobiliário. “Há um público específico que não sofreu diminuição da renda e está investindo na compra de imóveis, pois a queda na taxa de juros está convidativa. Do outro lado, temos uma grande parcela da população com dificuldade para pagar o aluguel porque está desempregada, dependendo do auxílio emergencial ou até continua trabalhando, mas teve redução do salário.”

Para a especialista, este cenário econômico deve dar sinais de mudança apenas em meados de 2021. “O comércio é a principal atividade econômica de Juiz de Fora, e é exatamente um dos que mais tem sofrido os impactos da pandemia. A nossa recuperação será lenta. As mudanças devem ficar para 2021 com a possibilidade de retomada do crescimento em 2022.”

 

Fonte: Tribuna de Minas

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