Cantor e compositor Flavinho da Juventude morre em Juiz de Fora
20/09/2020 06:10 em REGIÃO

 

O cantor e compositor Flavinho da Juventude, um dos maiores nomes do samba de Juiz de Fora, morreu aos 70 anos neste sábado (19). A informação foi confirmada ao G1 por familiares do artista e pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa).

De acordo com a sobrinha de Flavinho, Fabiana Lourenço de Oliveira, ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ) desde o último domingo (13) e morreu após uma parada cardíaca.

Flávio Aloísio Carneiro participou da fundação da escola de samba Juventude Imperial, no Bairro Vila Olavo Costa e tornou-se uma das principais figuras do carnaval juiz-forano. Além de cantor e compositor, Flavinho era professor de química formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e ministrava aulas na rede municipal e estadual de ensino.

O velório ocorre a partir das 19h deste sábado na capela 4 do Cemitério Municipal. O enterro ocorre no domingo (20), às 10h. A reportagem conversou com familiares e artistas para entender a repercussão e trajetória de Flavinho. Veja abaixo.

Piora no quadro de saúde

 

Conforme a sobrinha de Flávio, Fabiana Oliveira, o tio era portador de diabetes há cerca de nove anos e, desde então, sofreu complicações de saúde por causa da doença. No último mês, ele chegou a ser internado no Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira (HPS) por uma ferida nas costas e um problema urinário.

"Tudo começou com um machucado nas costas. Ele foi para o HPS, verificaram que tinha um problema na urina e tomou os antibióticos. Ele voltou para a casa, mas teve uma piora e voltou a ser internado na UPA Santa Luzia, com suspeita de Covid-19. O exame deu negativo e constatou que ele estava com uma pneumonia", contou a sobrinha.

Da UPA Santa Luzia, o cantor foi transferido para o HMTJ, onde foi para o CTI porque estava com dificuldades para respirar e paralisia nos rins. "Ele ia começar a fazer hemodiálise hoje, mas teve uma parada cardíaca e não resistiu", explicou Fabiana.

Ao G1, Fabiana relatou que na última semana, ela e outros familiares de Flavinho realizaram uma campanha nas redes sociais pedindo uma doação de cama hospitalar, já que o tio era cadeirante e precisava do leito.

A família conseguiu o leito, mas não chegou a ser utilizado. Fabiana explicou que irá doar a cama hospitalar. "Algumas pessoas chegaram a pedir dinheiro utilizando o nome do meu tio, mas isso não é verdade, nunca pedimos dinheiro, pedimos uma cama. Infelizmente a maioria das pessoas só lembravam dele na hora do carnaval".

Flavinho morava em uma casa no Vila Olavo Costa, onde era assistido e cuidado por dois sobrinhos, Eduarda de Oliveira e Marcos Eduardo.

 

Trajetória

 

Dentro do samba juiz-forano, Flavinho da Juventude foi autor e co-autor de mais de 40 composições. Muitas delas foram levadas para a avenida nos desfiles carnavalescos, representando a Juventude Imperial, a sua escola de coração e parte de seu nome artístico. Ele também colaborou em carnavais da Turunas do Riachuelo e Águia de Ouro.

Em parceria com Roberto Medeiros, criou “Zumbi, Rei Negro de Palmares”, que levou a Juventude Imperial ao tetracampeonato em 1973. Em 1979, deu vida a outro sucesso do carnaval de Juiz de Fora, “A Juventude Tem um Tarol, que Anuncia a Morte do Rei Sol”, com Hegel Pontes, que foi reeditado em 2005, garantindo à Juventude outro campeonato.

Em 2004, brindou sua escola com mais uma pérola do samba-enredo: “Martinho de Todas as Vilas”, parceria com Messias da Rocha.

Conseguiu, em 2014, depois de décadas de carreira, realizar o sonho de lançar um CD, o "Flavinho da Juventude - uma História de Vida”, financiado pela Lei Municipal Murilo Mendes de Incentivo à Cultura.

Além da trajetória cultural, Flavinho trilhou um longo caminho na área da educação. "A família da gente era muito pobre, e ele sempre queria estudar, sempre querendo evoluir. Ele era servente de pedreiro de uma escola de dia para poder estudar à noite", contou Fabiana.

Flávio formou-se no ensino médio já na vida adulta e passou no vestibular para cursar química Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mas não conseguiu a principio por dificuldades financeiras. Ele retornou para a graduação, e fez mais uma prova para Química e se formou aos 52 anos de idade.

Tornou-se professor para escolas da rede municipal e da rede estadual na cidade. Ele também trabalhou como servidor da Funalfa.

 

Repercussão

 

Em nota, a Funalfa lembrou a trajetória de Flavinho da Juventude e lamentou o falecimento do cantor.

"A trajetória artística de Flavinho foi construída junto com a militância social. Filho de mãe lavadeira, era analfabeto até os 21 anos. Foi engraxate e fez bicos em diversas áreas. Aos 52 anos de idade, formou-se em química pela UFJF e tornou-se professor. Ele residiu o Batuque Afro-brasileiro de Nelson Silva, foi membro do Conselho Municipal de Valorização da Pessoa Negra, vice-presidente do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência Física e militante em defesa das causas LGBTQIA+", afirmou a Fundação em trecho da nota.

Uma das maiores cantoras de Juiz de Fora, Sandra Portella contou ao G1 sobre a importância e o legado de Flavinho no samba e na cultura da cidade.

"Flavinho desde sempre foi notável e presença forte e influente do nosso samba. Uma pessoa de personalidade e com um repertório provocante, deixou pra gente grandes clássicos de sua autoria, sua paixão pelo carnaval e principalmente, seu amor pela Juventude Imperial", afirmou Sandra.

Portella lembrou que o amigo foi a pessoa que a introduziu no samba e na Juventude. "Ele foi a primeira pessoa a me introduzir de forma efetiva no samba. Um cara que sempre apoiou grandes causas, na cultura, na política e na vida. Ele sempre apoiou a voz feminina no samba, era anti-machista e sensível a todas as causas que nos oprimem. Devo a ele meus 15 anos cantando samba, fazendo inúmeros shows ao seu lado. Sua voz sempre ecoará, obrigada Mestre", finalizou.

 

 

Fonte: G-1 Zona da Mata

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