Relembre o caso
Uma mulher, de 24 anos, ex-funcionária da loja Fio de Ouro, criou coragem e foi sozinha registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Mulheres, no Barro Preto, na Região Centro-Sul de BH, na segunda-feira (10).
A mulher relatou "cenas de tortura" que sofria durante o expediente. O primeiro assédio aconteceu há 7 meses. Ela pediu para não ser identificada na reportagem.
A vítima disse que tudo começou em outubro do ano passado, quando ela chegava na loja para trabalhar. A vendedora era uma das primeiras funcionárias a chegar ao local e, por diversas vezes, ficava sozinha na loja com o empresário. Durante este período, segundo a mulher, o idoso falava de seu corpo.
"Falava do meu corpo, do meu cabelo, da minha beleza, sempre com cunho sexual. Ele dizia que eu era do tamanho que ele queria, eu ficava acuada, tremendo de medo, mas continuava quieta e seguia atendendo os clientes", disse ela.
O pesadelo continuou e, em uma manhã, quando ela estava dentro do estoque de bijuterias, o suspeito entrou e fechou a porta.
"Ele me agarrou e me encurralou na parede, eu tentei de todas as formas sair dali, mas ele me segurava forte, levantou minha camisa, passou a mão nos meus seios e nas minhas partes íntimas por debaixo da calça, por diversas vezes. Eu implorava para ser solta, mas ele não me ouvia. Cenas de tortura", disse ela, emocionada.
A vendedora relatou que os ataques aconteceram diversas vezes e que ela não pedia demissão por medo. Ela veio do interior de Minas morar sozinha e trabalhar em Belo Horizonte. Ela seguiu no emprego sem contar para ninguém.
"Eu só trabalhava para pagar meu aluguel e contas, meu medo era de sair dali e não ter outro emprego e ser obrigada a voltar para minha cidade. Mas desde de dezembro, eu pedia demissão e ele não aceitava, ele dizia que me queria por perto ele falava: 'Como vou ficar sem você aqui? Com pandemia lá fora você não vai conseguir emprego'. Eu só chorava", contou.
Enquanto isso, o idoso seguia mostrando fotos de motel e fazia promessas caso ela quisesse "ter uma noite com ele". Segundo ela, o suspeito dizia que a vendedora teria benefícios na empresa e melhoria de salários se aceitasse a proposta de sair com ele.
Em abril deste ano, ela resolveu contar para a mãe e para o namorado o que estava acontecendo em seu local de trabalho. Segundo ela, os dois a encorajaram a pedir demissão e ir até a polícia.
"Quando falei que ia pedir minha demissão e denunciá-lo ele me disse que ia me demitir. No outro dia, ele depositou os valores na minha conta. Nunca mais pisei lá, nem dinheiro eu queria, por mim, sairia com uma mão na frente outra atrás", contou.
A mulher ainda disse que, depois que foi demitida, ela descobriu que outras funcionárias também sofriam assédios do suspeito. Ela até criou um grupo de mensagens para combinar de irem juntas para a delegacia, mas nenhuma quis denunciar, "por medo".
"Eu me sentia um lixo, um objeto, eu mudei meu comportamento totalmente, sofria muito. Hoje estou mais aliviada, só quero que a justiça seja feita e que nenhuma mulher passe por isso", disse ela.
A Polícia Civil informou que o suspeito será intimado, mas não passou mais detalhes "para não atrapalhar as investigações". A polícia ainda alertou, em nota, que " toda mulher que for vítima deve efetivar o registro de ocorrência para que sejam tomadas todas as providências e a devida responsabilização dos autores".
Em Belo Horizonte, a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher funciona 24 horas por dia e está localizada na Avenida Barbacena 288, Barro Preto, na Região Centro- Sul da capital.
Fonte: G-1 Minas