A sífilis é considerada um grave problema de saúde pública em Minas Gerais e em todo o país. A infecção sexualmente transmissível (IST), causada pela bactéria Treponema pallidum, pode ser silenciosa ou se manifestar com sintomas discretos, por isso, a importância de alertar a população quanto ao uso do preservativo como melhor forma de prevenção contra o agravo.
Neste ano, o Dia D de Combate à Sífilis será neste sábado (21/12) e, durante todo o mês, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) realizou diversas ações para sensibilizar e orientar a população, bem como incentivar a testagem. O teste rápido é oferecido de forma gratuita em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do estado e o resultado fica pronto em, no máximo, 30 minutos. A procura tardia por tratamento pode causar complicações graves e, em gestantes, há o risco da contaminação vertical, da mãe para o bebê, a chamada sífilis congênita.
A referência técnica de sífilis da Coordenação Estadual de IST/Aids e Hepatites Virais da SES-MG, Talane Alcântara, detalha como é feito o trabalho de modo a estimular a população a se proteger contra o agravo. “Nós desenvolvemos algumas ações, orientadas pelo Ministério da Saúde, como a descentralização da testagem rápida para atenção primária, como forma de facilitar e agilizar o diagnóstico, disponibilizamos o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) e encaminhamos os insumos de prevenção, como os preservativos masculino e feminino, para todas as redes de atenção”, diz.
As 28 Unidades Regionais de Saúde (URS) do estado são orientadas pela SES-MG a desenvolver ações de prevenção e sensibilização da população, junto aos municípios de sua jurisdição, durante todo o ano. “Desenvolvemos o Plano de Enfrentamento à Sífilis, em que as ações são realizadas durante todo o ano pelos municípios. Essas ações são monitoradas a cada quadrimestre, tanto a nível estadual quanto regional e municipal, para que a gente consiga, por meio de dados epidemiológicos, verificar possíveis mudanças no perfil da doença”, explica Talane Alcântara.
A sífilis adquirida é transmitida de uma pessoa para a outra durante o ato sexual (anal, vaginal ou oral) sem preservativo, ou por transfusão de sangue. Na sífilis congênita, a mãe infectada transmite a doença para a criança durante a gestação ou no parto. Nos estágios primário e secundário da infecção, a possibilidade de transmissão é maior.
“Em relação ao Dia D de combate à Sífilis, nós estimulamos as regionais e os municípios a realizarem ações de combate ao agravo. Além da publicação do boletim epidemiológico, a SES-MG vai disponibilizar, ainda em outubro, o Painel de Dados Abertos de Sífilis, que permitirá fácil acesso à população, gestores, profissionais de saúde e pesquisadores dessa área”, destaca a referência técnica de sífilis da SES-MG.
Dados epidemiológicos
De acordo com o levantamento feito pela SES-MG, nos últimos dois anos houve aumento no número de novos casos de sífilis no estado. Em 2022, por exemplo, a incidência da sífilis adquirida foi de 99,6 casos por 100 mil mineiros. No caso da sífilis em gestantes, a incidência foi de 27,3 casos por mil nascidos vivos. Na sífilis congênita, são 9,5 casos por mil nascidos vivos. Segundo informações do Ministério da Saúde, entre janeiro e junho de 2022, o Brasil registrou mais de 122 mil novos casos da doença.
Em Minas Gerais, em 2023, foram notificados, de janeiro a setembro, 17.168 casos de sífilis adquirida, 4.328 de sífilis em gestante e 1.545 de sífilis congênita. Em 2022, foram 21.413 de sífilis adquirida, 6.413 de sífilis em gestante e 2.233 de sífilis congênita, números acima dos observados em 2021, respectivamente, 16.192, 5.648 e 2.143.
Talane Alcântara ressalta que o aumento no número de casos pode ser explicado tanto pela ampliação de acesso ao teste rápido, quanto à redução do uso de preservativos pela população. “A sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis podem ser prevenidas por meio do preservativo, mas é importante lembrar que o agravo também pode ser transmitido de forma vertical, da gestante para a criança. O diagnóstico é feito de forma simples e gratuita e o usuário deve buscar o resultado, sendo sintomático ou não. Caso sejam observados sintomas, o tratamento é oferecido na própria unidade de saúde”, pontua.
Sintomas
A sífilis é classificada em fases, que vão orientar o profissional em relação a conduta que deve ser adotada.
Sífilis latente: período em que não se observa nenhum sinal ou sintoma. O diagnóstico faz-se exclusivamente pela reatividade dos testes de diagnóstico. A maioria dos diagnósticos ocorre nesse estágio.
Fase primária: período de incubação de 10 a 90 dias. Ocorre o aparecimento de uma lesão única, na vulva, ânus, pênis ou mucosa oral, sendo denominada "cancro duro". É indolor, não provoca coceira e desaparece de forma espontânea, independente de tratamento. Pode não ser notada ou não ser valorizada pelo paciente.
Fase secundária: seis semanas até seis meses após a cicatrização do cancro. Nessa fase, são comuns as placas ou lesões acinzentadas e pouco visíveis nas mucosas. Habitualmente, acometem a região plantar e palmar, com um colarinho de escamação característico, em geral não provoca coceira. A sintomatologia desaparece em algumas semanas, independentemente de tratamento, trazendo a falsa impressão de cura.
Sífilis terciária: entre um e quarenta anos após o início da infecção. A inflamação causada pela sífilis nesse estágio provoca destruição do tecido, sendo comum o acometimento dos sistemas nervoso e cardiovascular. As lesões podem causar desfiguração, incapacidade e até a morte.
Diagnóstico e tratamento
Qualquer cidadão que observar os sintomas pode procurar uma UBS e realizar o teste rápido, oferecido pelo SUS. Esse teste é realizado pelo profissional de saúde, que tira apenas uma gota de sangue da ponta do dedo do paciente para análise do material. Caso o usuário não apresente sintomas, é realizado um segundo teste, para confirmação do diagnóstico. Se gestante, um teste positivo é suficiente para início do tratamento.
O SUS disponibiliza a benzilpenicilina benzatina como tratamento de escolha, sendo o mais eficaz para a infecção, sobretudo para as gestantes. Para a população não gestante, há outros medicamentos que podem ser usados para esse tratamento, de acordo com a avaliação médica.
Fonte: Jornal Leopoldinense