Conforme a pasta, a vacina Qdenga (TAK-003) foi desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma. O registro do imunizante foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2023. A vacina é recomendada para as pessoas entre 4 a 60 anos, que devem ser administradas em duas doses, com intervalo de três meses. Todas as pessoas, mesmo aquelas que já tiveram dengue, poderão receber a vacina.
“Nós temos 4 tipos de dengue que a gente classifica como DENV 1, DENV 2, DENV 3 e DENV 4. A vacina é um vírus do tipo DENV 2, mas com fragmentos dos outros 1, 3 e 4 que uma vez no nosso corpo, estimula a produção de anticorpos e de defesa celular contra os 4 tipos de dengue. Nos estudos, foi mostrada uma eficácia média de 80% na diminuição de casos e das pessoas que desenvolveram uma doença mais de 90% no risco de evoluir para forma grave. Então, é uma efetividade muito alta”, explica.
O infectologista destaca que, nos estudos e nas populações que receberam a vacina, os efeitos adversos têm sido muito leves, geralmente dentro de dois dias após a aplicação.
“A gente tem observado geralmente sinais e sintomas que até lembram doenças febris, como febre baixa, às vezes um pouco de dor muscular, geralmente leve. Algumas pessoas relataram um pouco de dor de cabeça também leve, que dura em média de 1 a 3 dias. Qualquer sinal ou sintoma que passe de 3 dias a pessoa tem que considerar a possibilidade de ter adoecido concomitantemente a vacina ou até mesmo antes de receber a vacina, então é importante buscar o atendimento médico”, diz.
Por tratar se de uma vacina composta de vírus atenuado, a Qdenga não vai poder ser administrada em certos grupos, como explica o infectologista.
“Pessoas que têm doenças que prejudiquem a imunidade ou que façam uso de medicamentos que diminuem a imunidade, por exemplo, pessoas que fazem uso de corticoides a mais de 15 dias. Assim como também as gestantes e mulheres que estão amamentando não vão poder receber a vacina porque tem um pouco de prejuízo na imunidade e a gente não sabe os reflexos da vacina na gestante e porque não se tem estudos sobre a transmissão do vírus ou da vacina para o leite”, afirma.
Para Chagas, a vacina contra a dengue é uma estratégia que pode auxiliar nas estratégias de luta contra o vírus da doença — e frear não só o avanço do número de casos, como também o número de mortes.
“Nós não temos medicamentos específicos contra o vírus da dengue. Então, as medidas que tomávamos sempre foram no sentido de controlar o vetor de transmissão, o mosquito Aedes aegypti. E combater um inseto com a capacidade de adaptação tão grande acaba sendo muito difícil. Por isso sempre a gente acaba perdendo esta batalha. Mas a vacina acaba entrando com uma estratégia voltada diretamente contra o vírus, que se somada à estratégia que nós já temos contra o mosquito vetor, muito provavelmente a gente vai ter um impacto muito positivo, uma diminuição muito grande de não só novos casos, como também de mortes por dengue em todo o país nos próximos anos”, avalia.
Diferenças entre a Qdenga e a Dengvaxia
A Qdenga é o segundo imunizante aprovado pela Anvisa. Em 2014, uma primeira vacina, denominada de Dengvaxia, foi lançada e aprovada pela agência. No entanto, o imunizante não está disponível no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e só pode ser encontrada no Brasil na rede privada.
“É uma vacina muito limitada. Primeiro porque eram em 3 doses, com intervalos de 6 meses entre as doses. Então a pessoa estaria imunizada em 1 ano e 6 meses. É muito tempo. O outro ponto é que a vacina não poderia ser aplicada em quem nunca teve dengue. Por isso ela não participou do Plano Nacional de Imunização, porque se fosse incorporada ao plano nacional, automaticamente teríamos que fazer o teste em todas as pessoas em todo o país e isso é inviável”, comenta.
Conforme o Ministério da Saúde, até 2 de dezembro de 2023, o Brasil registrou um crescimento de 15,8% nos casos de dengue, (1.601.848), quando comparado ao mesmo período de 2022 (1.382.665). Os estados com maior incidência da doença foram Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Goiás. Também houve aumento no número de mortes em 5,4% (1.053) com relação ao mesmo período de 2022 (999). Já de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país apresentou 2,9 milhões de casos entre janeiro e dezembro.
A pedagoga Luana Muller, de 25 anos, foi diagnosticada com dengue em maio de 2023. Ela comenta como reagiu aos sintomas da doença. “Eu fiquei basicamente uns cinco dias tendo febre, dor no corpo e dor nos olhos. Tinha muita dor de cabeça, não conseguia ficar acordada, dormia o tempo inteiro. Fui ao hospital, fui diagnosticada”, conta.
O médico infectologista Fernando Chagas destaca ainda os principais sintomas da dengue.
“É uma doença que geralmente se inicia com febre alta, com dor de cabeça, dor também ao redor dos olhos. Também pode apresentar dor articular. Então nem toda doença febril com dor articular necessariamente a chikungunya. Lembrando que até a metade das pessoas podem se apresentar com manchas na pele, que geralmente aparecem depois do segundo ou terceiro dia da doença. E se começar a apresentar dor de barriga e vômitos precisa ser considerado o risco de forma grave e a pessoa precisa imediatamente buscar uma urgência. Não esquecer que a dengue é uma doença que infelizmente pode matar”, alerta.
O Ministério da Saúde recomenda que a população siga com os cuidados para impedir a proliferação do Aedes aegypti, como: não acumular água em lajes ou calhas, evitar o acúmulo de itens como garrafas, pneus em áreas descobertas, colocar areia nos vasos de planta e cobrir caixas d’água.
Fonte: Jornal Hoje em Dia