O que o estado de sua língua pode dizer sobre sua saúde
DIVERSOS
Publicado em 25/08/2024

 

Uma das coisas que minha avó mais gostava de cozinhar era língua de boi prensada a frio, embora essa seja uma tradição que eu realmente não sinta a necessidade de continuar. Você já viu uma? Ela não é apenas colossal, mas requer muito trabalho para esfregar, cozinhar e prensar, além de remover uma camada grossa de pele por cima antes de comê-la.

Eu dispenso, obrigado.

As línguas, seja de boi ou humana, são compostas principalmente de músculos, alguns dos quais controlam sua forma e, outros, seu movimento. Elas são cobertas por membranas especializadas que contêm muitas pequenas saliências diferentes ligadas às nossas papilas gustativas, que sentem os sabores e as texturas dos alimentos.

 

Mas a língua faz mais do que sentir o gosto e nos ajudar a engolir o que está em nossa boca - sua aparência também pode compartilhar informações importantes sobre nossa saúde geral.

 

Línguas tecnicolor

 

As línguas podem se transformar em uma variedade surpreendente de cores.

As línguas vermelhas, por exemplo, se tiver brilhante, inflamada e inchada, às vezes, é chamada de língua de morango. As papilas que inflamam na superfície se parecem com as sementinhas da fruta, e podem começar com uma cobertura branca, fazendo com que pareça um morango ligeiramente verde. Em seguida, o revestimento se desprende, deixando a língua apenas com um tom vermelho brilhante.

Pode parecer um nome engraçado, mas a língua de morango deve sempre ser levada a sério. Primeiro, ela pode indicar escarlatina, que é causada pela bactéria streptococcus pyogenes. Ela é altamente contagiosa, mas pode ser tratada com antibióticos. No entanto, sem tratamento, a escarlatina pode levar a complicações como a febre reumática. A língua de morango também pode indicar a doença de Kawasaki, um distúrbio inflamatório potencialmente grave, observado principalmente em crianças. Isso também precisa ser reconhecido e tratado no hospital o mais rápido possível.

 

Essa característica de formato também pode ser observada na síndrome do choque tóxico, uma condição rara e com risco de morte - e uma emergência. A condição surge como resultado da invasão do corpo por bactérias da pele, liberando toxinas prejudiciais. Seus sintomas incluem febre alta, dores musculares e uma erupção cutânea característica de “lixa”.

Portanto, nunca ignore uma língua de morango.

As línguas também podem ser descoloridas de branco e, acredite ou não, de preto. Condições como aftas podem causar uma língua branca, enquanto ‘villosa nigra’ (condição benigna e assintomática) significa uma língua preta e ‘peluda’. O nome vem do alongamento das menores papilas, de modo que elas se parecem com cabelos. Está associada ao fumo, à boca seca e à falta de higiene bucal.

Depois, há as línguas azuis. Essa é a cianose central, uma condição grave em que há descoloração azulada (ou ciano) da boca, da língua ou do rosto devido à má oxigenação do sangue ou à má circulação. Ela ocorre em várias doenças do coração e dos pulmões e pode até ser causada por altitudes elevadas. Se ocorrer, é o caso de ir até uma emergência hospitalar ou ligar imediatamente para o seu médico particular.

 

Uma língua mapeada

 

No entanto, sua língua pode ser mais do que vermelha, branca, preta e azul. Ela pode assumir algumas aparências genuinamente diferenciadas. Um exemplo é a língua geográfica, em que a parte superior se transforma de papilas ásperas em manchas de tecido vermelho liso - e se parece com um mapa-múndi, com terras à deriva entre os oceanos.

Nessa condição, as manchas podem aparecer e desaparecer, mudando a aparência da língua. É um pouco como a deriva continental, mudando de posição sobre a água.

Normalmente, há poucos sintomas associados à língua geográfica, embora alguns pacientes possam se queixar de irritação na superfície ou, às vezes, de uma sensação de queimação. A condição é totalmente benigna e mais comum do que você imagina - estima-se que ela afete de 1% a 3% da população.

 

A detecção de língua geográfica também pode levar ao diagnóstico de outros distúrbios associados. Alguns vínculos são mais fortes do que outros, mas psoríase, doenças alérgicas, asma e diabetes já foram relacionados a ela.

 

Quebra de mitos sobre a língua

 

Há algumas coisas que sua língua não pode lhe dizer - ou algumas afirmações que ainda precisam ser apoiadas por uma ciência convincente.

Veja as rachaduras ou fissuras na parte superior da língua, por exemplo. A maioria de nós notará uma ou duas rachaduras em nossa própria língua - geralmente há uma que vai direto para o centro. Essa parece ser apenas uma variante normal. Entretanto, há pessoas que têm rachaduras mais profundas e numerosas. Isso às vezes é chamado de língua fissurada e parece ter algo em comum com a língua geográfica.

Afirma-se que as fissuras têm outras associações - com deficiências de vitaminas e ferro, por exemplo, bem como boca seca (ou xerostomia) e tabagismo, para citar apenas algumas. Novamente, a força da associação de acordo com a comprovação científica é variável.

Talvez um dos maiores mitos em torno da língua seja algo que é ensinado na escola e que parece propagar o problema. É a falácia de que diferentes regiões da língua são sensíveis a sabores específicos - doce na ponta, amargo na parte de trás, por exemplo.

 

Isso é conversa fiada. Primeiro, a maioria das papilas tem botões gustativos (exceto o tipo filiforme muito pequeno), portanto, todos os sabores podem ser percebidos em todas as áreas da língua. Em segundo lugar, esses mapas podem omitir o quinto gosto, o “umami” - do japonês, que significa delicioso e está relacionado a sabores salgados. Pense em queijo parmesão, carne cozida e tomate.

Portanto, embora a língua não tenha um mapa gustativo, ela pode, em algumas pessoas, se parecer com um mapa e ser lida como um atlas pelos médicos para que possam fazer uma ampla gama de diagnósticos diferentes.

*Dan Baumgardt é professor sênior da Escola de Fisiologia, Farmacologia e Neurociência da Universidade de Bristol

**Este texto foi publicado originalmente no site do The Conversation Brasil.

 

 

Fonte: G-1

 

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