O médico Drauzio Varella comentou nesta quinta-feira (16) a decisão do Ministério da Saúde de restringir a vacinação de adolescentes com o argumento de que usa "cautela" diante de efeitos adversos a serem investigados. Segundo Drauzio, a medida foi tomada para "esconder erro do governo" sobre falta de vacinas.
"Qual é a finalidade de uma coisa dessas? Para justificar o fato de nós não termos vacinas suficientes porque não compramos quando elas estavam disponíveis. Para falsificar, para esconder um erro do governo você mente para a sociedade", disse Drauzio em entrevista à Globo News.
O médico disse, ainda, que os movimentos antivacina ainda são incipientes no Brasil, mas que uma medida como a anunciada por Queiroga é que "faz as pessoas desacreditarem das vacinas".
"Um episodio só não vai destruir o que o Programa Nacional de Imunizações realizou com muito esforço durante todos esses anos. Mas é assim que você faz as pessoas desacreditarem nas vacinas", afirmou o médico.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também criticou a decisão do governo: "apesar de entender que a população de maior risco deve ser priorizada, a entidade discorda do recuo do Ministério da Saúde em relação à vacinação de adolescentes sem comorbidades após o anúncio do início da vacinação desse grupo. A medida gera receio na população e abre espaço para fake news."
"Não há evidências científicas que embasem a decisão de interromper a vacinação de adolescentes, com ou sem comorbidades. A SBIm, portanto, entende que o processo deve ser retomado, de acordo com o que já foi avaliado, liberado e indicado pela Anvisa", disse a SBIm.
Restrição da vacina
O ministro Marcelo Queiroga decidiu restringir a vacinação de adolescentes contra Covid-19 apenas aos grupos prioritários (deficiência permanente, comorbidades e privados de liberdade) e disse que a medida tem relação com a falta de evidências científicas consolidadas sobre o benefício da imunização para este grupo.
"O Ministério da Saúde pode rever a posição desde que haja evidência científica sólida. Por enquanto, por questão de cautela, temos eventos adversos a serem investigados, temos adolescentes que tomaram vacinas que não estavam recomendadas, temos que acompanhar", disse o ministro.
Queiroga citou que mais de 3,5 milhões de adolescentes já foram vacinados no Brasil de forma "intempestiva", ou seja, sem a autorização do Plano Nacional de Imunizações, que previa a aplicação apenas entre os prioritários desta faixa etária (12 a 17 anos) a partir de 15 de setembro.
Segundo Queiroga, 1,5 mil adolescentes apresentaram eventos adversos, o que representa 0.042% do total.
"Não é um número grande, mas temos que ficar atentos", disse Queiroga.
O ministério informou que acompanha o caso da morte de um adolescente no estado de São Paulo. Ele morreu depois de tomar o imunizante da Pfizer, mas ainda não há conclusão se há relação com a vacina ou mesmo se ele tinha outras comorbidades.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que investiga, mas que não há evidências contra a autorização para aplicação da vacina, que segue liberada sem restrições para todos os adolescentes desta faixa etária.
A maioria dos eventos adversos citados pelo governo (93%), ocorreu no público que tomou imunizantes sem autorização para uso em adolescentes. No Brasil, a Anvisa liberou, em junho, apenas a aplicação da Pfizer a partir dos 12 anos sem restrições. Não há outra vacina permitida para esta faixa etária.
O governo federal diz que os estados aplicaram doses de todas as outras vacinas além da Pfizer: AstraZeneca, CoronaVac e Janssen.
Diferença entre decisões
A decisão do Ministério da Saúde sobre os adolescentes é diferente da tomada em maio sobre o uso da AstraZeneca em gestantes.
Naquela ocasião, foi a Anvisa que recomendou a suspensão da aplicação da vacina AstraZeneca em grávidas.
Um dia depois, o Ministério da Saúde acatou a indicação, ligada à investigação sobre morte de uma gestante, e autorizou apenas a CoronaVac ou a vacina da Pfizer para aquele público.
À época, a decisão da Anvisa e do ministério teve apoio de especialistas. No caso da decisão sobre os adolescentes, a crítica foi unânime e até mesmo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) anunciaram "profundo lamento".
Fonte: G-1