As declarações consideradas desrespeitosas pela vereadora foram dadas durante a última sessão do ano, que elegeu a mesa diretiva de 2022. Iasmin - também a única vereadora considerada independente, ou seja, que não faz parte das bases governista ou de oposição - candidatou-se à presidência da casa como representante da oposição, mas foi superada por Marcelo Maron (PTB).
Já na votação para presidente, o líder do PP, Francisco Vilela, justifica o voto na vereadora dizendo que o partido "vota em dama". Neste momento, é possível ouvir alguém fora das câmeras dizendo "vamos embelezar essa mesa". Em seguida, o vereador Arion Braga (PP), da oposição, também atrela o apoio à vereadora ao fato de "embelezar a mesa".
Braga afirma que não tinha a intenção de constranger a colega e diz que a repercussão pode ter intenção política de adversários.
"Não ofendi ninguém, não menosprezei a vereadora e não usei nenhuma palavra com a intenção de desrespeitar. A vereadora tem meu carinho e minha admiração como colega e cidadã. Fiquei muito triste com a condução que isso teve", diz o parlamentar.
As citações continuaram durante a votação para a segunda vice-presidência da casa. Além da surpresa por receber votos que não esperava - nem Iasmin votou em si -, as menções à "beleza" passaram a se repetir.
Oraci Teixeira (PSB) votou em Iasmin "para embelezar a mesa", citando Braga. Em seguida, Silvio Neutzling (MDB) justificou o voto com as mesmas palavras: "Da mesma forma, para embelezar a mesa, vereadora Iasmin".
Após o voto de Neutzling, Iasmin pede a palavra e contesta os votos: "vereadores, por favor, quando forem votar em mim, que votem pela minha capacidade intelectual e não pela minha beleza", disse.
Uma discussão é, então, gerada entre os vereadores quando o vereador Carlos Eduardo Martins (PP), conhecido como Dudu, protesta contra os colegas de legislatura.
"É com tremenda tristeza que... Na realidade, acontece uma palhaçada aqui na casa. Quando os vereadores se organizam pra votar em uma pessoa que está compondo a chapa contrária, para deixar em saia justa, é uma falta de respeito, uma falta de caráter de vocês vereadores, o que fizeram com a nossa colega. (...) É um absurdo o que vocês fizeram", diz vereador Martins.
O uso da expressão "falta de caráter" gerou polêmica entre os vereadores, que discutiram por cerca de 30 minutos sobre o tema.
Eleita em 2020, aos 22 anos, Iasmin Roloff é a vereadora mais jovem de Canguçu. Agricultora na região rural da cidade localizada na Região Sul do RS, é também a única mulher eleita para a Câmara de Vereadores do município e a quarta mulher eleita para um cargo legislativo na história da cidade.
Com uma campanha baseada no apoio à agricultura familiar, em políticas afirmativas para mulheres e na valorização dos jovens, foi eleita com 928 votos.
Segundo ela, as referências ao fato de ser mulher e ser mais jovem do que todos os vereadores eleitos são recorrentes. Diz que era chamada de "guriazinha" e "bonitinha", até o momento em que precisou pedir para que os colegas parassem.
A candidatura à presidência da casa em 2022 foi uma forma de marcar posição, já que a base governista é composta por 8 dos 15 vereadores que compõem a casa. Mesmo com o apoio dos vereadores de oposição, não havia chance de vitória.
Uma composição com a base governista foi sugerida, o que renderia uma indicação da vereadora à primeira vice-presidência. Iasmin não aceitou, o que ela acredita que tenha gerado a reação machista de seus colegas.
Agora, Iasmin avalia o que fará em 2022. Aceitando ou não a posição de segunda vice-presidente da Câmara, ela vê o episódio como um sinal dos desafios que vai enfrentar na legislatura:
"Só deixa claro o quanto precisamos evoluir enquanto sociedade e fortalecer nossas meninas, para que elas se sintam aptas de colocar o nome à disposição da sociedade e lutar por seus espaços de fala. Essa semana eu ouvi que estava fazendo isso para aparecer. Está machucando muito."
Fonte: G-1 RS