'Dolarização' e queda na oferta de petróleo tendem a elevar preço da gasolina
25/02/2022 05:39 em DIVERSOS

 

Um dos principais impactos do ataque militar da Rússia à Ucrânia para o Brasil é em relação à alta nos preços dos combustíveis. O tamanho do efeito, porém, só pode ser medido a médio e longo prazo dependendo da evolução da escalada militar nos dois países, explicam especialistas.

De acordo com Mauro Sayar, professor do departamento de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para determinar as consequências do conflito no preço dos combustíveis, dois indicadores serão observados de perto pelo mercado internacional: se a produção e o escoamento de petróleo serão afetados e qual o impacto das incertezas globais sobre o valor do dólar.

“No caso específico dessa guerra, estamos lidando com dois ofertantes de gás natural e exportador de petróleo, como é o caso da Rússia. Quando há um evento desse, na medida que aumentam as sanções internacionais à Rússia, isso afeta a demanda e oferta de petróleo no mundo. Se há menor oferta dessas commodities, a tendência é de elevar o preço global”, explica Mauro.

Uma das consequências temidas é que o conflito diminua a oferta da commodity no mundo, considerando que a Rússia é um dos principais exportadores de petróleo, fornecendo 10% da oferta mundial do óleo. Só a possibilidade da oferta cair já provoca alta nos preços do produto.

Já no primeiro dia após o ataque russo, o barril do petróleo abriu com alta de 8% e ultrapassou a marca de US$100 pela primeira vez desde setembro de 2014. Mesmo o Brasil não dependendo dos dois países para produção da commodity, a Petrobras adota a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que determina que os preços de derivados de petróleo nas refinarias, são formados a partir das cotações no mercado internacional. 

Além de uma possível queda na produção, também há incerteza sobre transporte dos derivados de petróleo em meio a um conflito bélico. “Também há incerteza da logística de óleo e gás natural, porque podem ocorrer bloqueios de portos e mesmo a proibição de fornecimento por gasoduto”, afirma.

Fuga de investimentos

Outro complicador neste cenário é a fuga de investidores do Brasil diante da das incertezas globais. "Nessas horas [momentos de tensão internacional], os investimentos tendem a seguir para lados mais conservadores, de menor risco, e convenhamos que o Brasil não se encaixa nisso. Essa mudança brusca pode custar caro ao cenário do país", explica Mário Schetttino, professor do departamento de Relações Internacionais do Ibmec-BH.

"Os investidores são obrigados a vender suas ações em real para comprar ativos mais seguros em dólar. Na medida que as pessoas fazem isso, o dólar sobe”, acrescenta Mauro.

Schetttino lembra que os primeiros impactos econômicos naturalmente serão sentidos pela população mais próxima do território, tendo em vista o grande potencial de indústrias do carvão mineral e ligas metálicas na Ucrânia, por exemplo. Mas ele defende que isso não representa segurança para o Brasil, especialmente considerando o médio e longo prazos.

"O gás natural no Brasil, por exemplo, pode não ser afetado, por ser um mercado regionalizado, em que fornecedor e receptor ficam geograficamente próximos. Mesmo assim, como todo o procedimento, inclusive uma guerra, se faz muito uso de combustíveis fósseis, isso vai afetar a circulação e preços mundo afora", destaca.

Em relação aos reajustes que a Petrobras pode aplicar diante das altas das commodities, Mauro acredita que a petrolífera deve aguardar a evolução da tensão nas próximas semanas. “Se o petróleo se mantiver acima de US$100 por duas semanas é inevitável algum repasse. A tendência é que a Petrobras aguarde para observar o mercado para ver como precificar isso e como vai chegar na ponta nos postos de combustíveis”, diz.

A reportagem questionou a Petrobras sobre as condutas para precificação dos combustíveis diante dos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, mas não houve retorno até a publicação desta matéria.

Fonte: Hoje em Dia

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