BRASÍLIA — O Banco Central (BC) completou um ano do ciclo de elevação da taxa básica de juros nesta quarta-feira subindo a Selic de 10,75% para 11,75%. Essa é a nona alta seguida nos juros desde março de 2021, quando ela estava no menor patamar da história em 2%.
Com essa nova alta, os juros chegam ao maior nível desde abril de 2017, quando a Selic passou para 11,25% ao ano. As elevações não devem parar por aí, já que a sinalização do Banco Central é de que os juros continuarão subindo neste ano por conta da inflação ainda alta e dos impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia nos preços.
Para Alvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais, a ampliação em um ponto percentual reflete um cenário de alongamento do ciclo de alta:
— A gente começou achando que a taxa Selic chegaria a 12,25%, depois subiu para 12,75%. Mas agora, por causa de todo esse cenário de incertezas, com a guerra e a volatilidade no preço do petróleo, já se fala em uma Selic a 13% no final do ciclo.
Apesar dessa tendência, a decisão desta quarta-feira significou uma diminuição da intensidade do aperto monetário. As duas últimas reuniões foram de alta de 1,5 p.p em cada, mas esse movimento já havia sido sinalizado pelo BC na última oportunidade.
Com isso, o Banco Central ganha tempo para acompanhar os impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia na inflação e na atividade econômica brasileira. Na última reunião do Copom, que aconteceu em fevereiro, essa não era uma preocupação.
Nas últimas semanas, o conflito tem causado alta nos preços dos combustíveis, que por sua vez acarretam um impacto inflacionário em toda a cadeia por conta do frete.
Além disso, a dificuldade na importação de fertilizantes também acende um alerta para a produção de alimentos. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já ressaltou que os preços vão subir.
Esses efeitos aparecem em um cenário que já era de inflação alta. Em fevereiro, o IPCA registrou alta de 10,54% nos preços no acumulado de 12 meses. A meta para esse ano é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 p.p para cima ou para baixo.
O mercado acredita que essa meta não será cumprida em 2022, assim como não foi em 2021. No início da semana, o Focus mostrou elevação da expectativa de inflação de 5,65% para 6,45% no final deste ano. Com isso, o mercado também aposta em juros mais altos, em 12,75% em dezembro de 2022.
Outro fator que deve pesar nas próximas decisões do Banco Central é o movimento do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de iniciar um ciclo de alta nos juros básicos. Nesta quarta-feira, a alta foi de 0,25 ponto base, colocando os juros em um intervalo de 0,25% e 0,50%.
Fonte: Jornal Extra