Abel Braga gosta de dizer que é um cidadão iluminado. Pela carreira, pelos títulos, pela forte ligação com o Fluminense. Não à toa é considerado o maior técnico da história tricolor. Ontem, ele adicionou mais uma taça à sua galeria e ganhou mais um pouco de espaço nos corações tricolores. Sob o comando de Abelão e com um Germán Cano igualmente iluminado, quase como se houvesse feito um pacto com o gol, o Fluminense empatou em 1 a 1 com o Flamengo e venceu pela 32ª vez o título do Campeonato Carioca. Um troféu que encerrou um jejum de dez anos sem conquistas estaduais. Naquele já distante 2012, quem comandava o tricolor campeão estadual era justamente ele: Abel Braga.
Num Maracanã com quase 70 mil pessoas, o Fluminense alcançou um título que simboliza uma reconstrução e rápida resposta após a queda na Libertadores. Uma conquista que passou muito por Germán Cano, atacante que foi decisivo com os três gols nos dois jogos da final — o de ontem e os dois na vitória de 2 a 0 na quarta-feira.
— Sou muito grato à torcida do Fluminense. Me brindaram com muito carinho desde o primeiro momento. Só tenho que agradecer e continuar porque está tudo começando — disse Cano.
Flu ofensivo
O troféu também pode marcar uma nova fase para Paulo Henrique Ganso, muitas vezes contestado e que teve atuação segura e importante, especialmente no primeiro tempo, mudando para melhor a formação do Fluminense e chegando, após quatro anos no clube, ao seu primeiro título.
— Isso tudo passa pelo Abel também. Quando conversa com o jogador, sabe a maneira de lidar com todos os atletas — elogiou Ganso.
— Usei um termo hoje com eles de que precisávamos esconder a bola. Isso tem muito a ver com a qualidade do Ganso. Ele consegue segurar essa bola — devolveu Abel Braga,
Quem foi ao Maracanã pode ter se surpreendido com o estilo de jogo do Fluminense ontem, após o tricolor ter vencido por 2 a 0 no primeiro jogo. Quem esperava um time extremamente defensivo e segurando o resultado, se deu conta que a trinca formada por André, Ganso e Arias daria muito trabalho à defesa rubro-negra. O Fluminense jogava melhor e merecia sair na frente no placar, mas o gol do Flamengo, marcado por Gabigol após bela jogada de Arrascaeta, foi quase uma injusta ducha de água fria.
Mas antes mesmo do intervalo veio o empate tricolor. André tocou para Ganso, que acionou Arias. Dentro da área, pela esquerda, o colombiano cruzou para Cano. O chute ainda desviou em Filipe Luís e enganou Hugo.
No gol tricolor, foi possível perceber alguns sintomas de um Flamengo que pouco lembra o dos anos anteriores — abatido, com pouca inspiração, vendo as suas estrelas passarem longe do rendimento técnico dos melhores dias.
A conquista poderia ser ainda mais tranquila para o Fluminense, que teve um pênalti a favor na metade do segundo tempo. Filipe Luís colocou a mão na bola, mas Cano não bateu bem e Hugo defendeu. Restou ao Flamengo colocar todas as suas armas em campo, como Pedro e Everton Ribeiro. Não adiantou, e o sonho do tetra inédito se desfez.
Fred entrou no fim e, com poucos minutos em campo, foi novamente expulso, assim como na semifinal — desta vez ao discutir com Bruno Henrique. Houve tumulto.
No fim, veio a festa. Depois de dez anos, o Rio de Janeiro se pinta novamente de verde, branco e grená.
Fonte: Jornal Extra