A falta de mantimentos afeta Maria da Guia, que trabalha como ambulante, e os nove filhos dela, que são ajudados pela ONG.
"Isso aqui não pode fechar. Até porque, a ONG ajuda muita gente. Se fechar, todo mundo não sabe nem como vai viver", disse a ambulante.
Victória Alves é catadora de material reciclável e foi à ONG tomar café da manhã com a família. Ela conta com esse apoio.
"A gente vem aqui, ela faz doação de alimentos para a gente, doação de roupa, um bocado de coisas. Meu maior sonho é trabalhar e dar uma vida melhor para os meus filhos", disse Victória.
A cada dia que passa, as doações que tanto ajudam pessoas carentes estão chegando cada vez menos às instituições. Assim como em Campo Grande, em outras regiões do Rio, famílias sentem na pele a falta de uma cesta básica para ajudar na alimentação.
Crise atinge várias instituições
A ONG Semente do Futuro, em Bangu, também na Zona Oeste, vive situação semelhante ao Instituto Doando Esperança. Durante a pandemia, a ONG distribuiu alimentos e kits de higiene para as famílias das 240 crianças atendidas. E para outras que precisavam, no bairro. Mas a ajuda parou de chegar, como contou a diretora da ONG, Tia Selminha.
"Nós recebíamos 250 cestas semanais. Passaram a ser 100 cestas semanais, depois 50. E agora, até abril, eram 25 cestas mensais. Depois de abril, cessaram, agora está zerado. E a condição das famílias, que já era ruim, agora piorou ainda mais. Então, fome, as pessoas sentem todos os dias", disse.
A instituição oferece cursos para famílias e atividades de educação, esporte e arte para crianças e adolescentes. Mas, para tudo isso funcionar, ela também depende de doações.
Essa é a mesma condição do Instituto Anjinho Feliz, na Cidade Nova, no Centro do Rio. A ONG também oferece cursos e doa mantimentos. Quatrocentas famílias de 13 comunidades da região são atendidas. Mas com a alta dos alimentos e a diminuição de 65% nas doações, a situação da instituição é difícil.
"Aquelas sobras, às vezes que uma família tinha: 'olha posso ajudar uma ONG, uma família', hoje eles não podem mais. Estão comprando para casa ou para algum familiar para ajudar. Antigamente a gente conseguia atender todas as famílias mensalmente. Hoje, é mês sim, mês não", disse a presidente da Anjinho Feliz, Olga de Cássia.
A Casa Fluminense acompanhou o aumento dos preços da cesta básica no Rio. Em abril de 2019, ela custava R$ 515. Aumentou para R$ 768, em abril deste ano. O valor mais alto já registrado e que representa 60% do salário mínimo.
"Quando a gente fala de fome, é importante falar do desemprego. Desemprego é um dos fatores que vai influenciar essa situação. No estado do Rio de Janeiro, quando a gente olha o primeiro trimestre de 2022, a taxa de desocupação do estado é de 14,9%. É impossível a gente falar de superação da fome, de superação do desalento, de superação do emprego, sem a gente falar de superação dessas condições", disse Cláudia Cruz, coordenadora de informação da Casa Fluminense.
O grupo Movimenta Caxias, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que também faz ações de solidariedade desde o início da pandemia, pede doações de alimentos.
"Durante a pandemia, nos anos de 2020 e 2021, nós distribuímos dezenas de milhares de cestas básicas na Baixada Fluminense e em todo o estado do Rio de Janeiro. Mas nesse de 2022, as doações têm diminuído muito, muito mesmo. Hoje, quase não conseguimos fazer nenhuma entrega, porque cada vez mais não tem doações e cada vez mais a fome tem aumentado, a desigualdade tem aumentado, os alimentos têm ficado mais caro", disse Vítor Lourenço, do Movimenta Caxias.
A sala de atividades também servia de depósito nos bons tempos de doações. Agora, está vazia. E a arquibancada da quadra, onde eram distribuídas as cestas básicas, não tem mais movimento.
Se o poder público não chega a todos que precisam, as organizações que conhecem de perto a realidade das comunidades tentam suprir essa necessidade. E neste momento, elas também pedem socorro para poder ajudar.
"Eu tenho um lema que diz assim: se cada um fizer um pouco, o mundo todo muda. Mas é preciso que as pessoas se mobilizem e façam aquele pouco. Porque o pouco junta com outro pouco e a gente faz um montante que dá para resolver a questão", disse Tia Selminha.
Fonte: G-1