Sexo oral sem preservativo pode provocar doenças: entenda riscos e como se proteger
05/08/2022 14:05 em DIVERSOS

 

Doenças causadas por relações sexuais desprotegidas geralmente são associadas à penetração. Mas o sexo oral sem preservativos também eleva os riscos de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis). O contato com a mucosa da boca e com as secreções facilita a proliferação de vírus e bactérias.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, as mais comuns são gonorreia e sífilis. Nesta última, sintomas como úlceras na região da boca e das bochechas, além de manchas na pele, podem aparecer — e muitas vezes o indivíduo nem sabe que está contaminado por confundir com aftas ou por receber um diagnóstico tardio.

De acordo com Demetrius Montenegro, chefe do setor de infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (UPE), a sífilis está fora de controle no Brasil e merece atenção.

 

"A maioria das pessoas acredita que é possível se contaminar no sexo só com penetração, mas isso não é verdade", lembra.

 

Além dessas, há o risco de HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), herpes, clamídia, hepatites e amigdalite gonocócica.

Embora os médicos alertem para o risco de contrair infecções pelo sexo oral, contabilizar o número de contaminados por esse meio é mais difícil, pois muitas doenças são subnotificadas e nem todas as pessoas fornecem informações concretas aos órgãos de saúde.

"Os riscos existem, mas não são calculados exatamente, pois é mais difícil dizer sobre taxas de transmissão de IST a partir de relações isoladas. Geralmente, elas vêm combinadas com relações pelas vias genitais", explica Igor Marinho, infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

 

Mas como ocorre a contaminação?

 

 

O contato entre a boca e o genital pode favorecer o surgimento de uma ou até várias ISTs. O simples toque com a pele de alguém que já tem uma doença potencializa a transmissão, como ocorre com a sífilis. No caso dos homens, o esperma que sai do pênis pode contaminar quem está fazendo o estímulo sexual.

Já as mulheres podem ter algum patógeno na lubrificação que sai da vagina. Contudo, elas são naturalmente mais suscetíveis às ISTs por causa da anatomia do órgão sexual.

 

"A mucosa vaginal é um epitélio muito fino. Durante as relações sexuais, quase sempre há algum grau de fissura dessa região, o que facilita a entrada de diversos vírus. O homem, todavia, tem um órgão exposto", explica Camila Ahrens, infectologista do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).

 

O risco se torna ainda maior quando há lesões na genitália ou na boca. Na prática, quando uma pessoa realiza o ato chamado pelos médicos de cunilíngua, no qual a vagina é estimulada pela língua de alguém, ou a felação, quando o mesmo acontece com o pênis, existe o risco de transmitir alguma infecção ou doença para quem está recebendo o sexo oral.

 

Já a anilíngua, quando a pessoa estimula o ânus do parceiro com a própria boca, também favorece o surgimento de infecções. Uma das mais comuns é a hepatite A, que ocorre, justamente, pela transmissão de vômitos e fezes, seja por contato sexual ou consumo de alimentos ou água contaminados. Há, ainda, o risco de clamídia, gonorreia e outras doenças.

 

Vale lembrar que o comportamento sexual sem preservativo é que vai diferir a transmissão das ISTs.

 

"Na realidade, o sexo vaginal insertivo tem mais troca de fluidos corporais. O anal tem maior risco de laceração, o que facilita a entrada de vírus ou bactérias. Já o oral tem menos risco, mas quem está fazendo o ato pode transmitir e quem tem a doença ativa pode passar", reforça Ahrens.

Veja abaixo as infecções que podem ser contraídas durante o sexo oral sem proteção.

 

 

Sífilis

 

 

Segundo o último boletim epidemiológico de sífilis, divulgado pelo Ministério da Saúde no ano passado, no Brasil, a população mais afetada por essa infecção são mulheres, especialmente negras e jovens, na faixa etária de 20 a 29 anos.

 

A infecção é causada pela bactéria Treponema pallidum, que pode comprometer genitais, garganta e boca. Ela pode ser transmitida tanto no sexo oral quanto na penetração. O diagnóstico ocorre por meio da sorologia, que é o exame de sangue, ou pelo chamado VDRL (em inglês Venereal Disease Research Laboratory). Essa IST tem suas principais apresentações na forma primária, secundária e terciária.

 

Na primária, ocorre o surgimento de uma úlcera indolor pelo contato da bactéria da pele do indivíduo que foi contaminado. A pessoa pode ter ferimentos dentro da boca, seja na língua, bochecha ou em outra parte interna desta região. Essas lesões são chamadas de "cancro duro". "Elas podem ser indolores e até confundidas com uma afta", diz Marinho.

Quando isso ocorre, o indivíduo que fez o sexo oral no outro parceiro pode contaminá-lo até mesmo sem saber que estava doente.

 

"A bactéria é encontrada no sêmen ou no líquido de secreção do pênis", acrescenta Montenegro.

 

No caso da mulher, ela pode transmitir o agente por meio da lubrificação que sai da vagina durante o ato sexual. O risco é ainda maior quando o outro tem ferimentos na cavidade oral.

 

A sífilis secundária é caracterizada por sintomas mais sistêmicos e ocorre algumas semanas após a contaminação do primeiro tipo. O indivíduo pode apresentar manchas na pele e prostrações.

No formato terciário, os sintomas surgem anos depois da infecção. Mas, devido ao diagnóstico tardio, pode ocorrer o acometimento vascular e neurológico, com insuficiência cardíaca ou acidente vascular cerebral (AVC).

"Ela se torna uma doença silenciosa e vai transmitindo", reforça Montenegro.

O tratamento ocorre com antibiótico e a melhor forma de prevenção é usando camisinha feminina ou masculina.

 

 

Amigdalite gonocócica

 

 

Provocada pela bactéria gonococos, o mesmo agente da gonorreia, a infecção causa secreção nas amígdalas e garganta.

É mais comum que seja transmitida pelo sexo oral, pois há um contato direto da boca com o genital, aumentando o risco de contágio. O diagnóstico acontece pelo histórico de sintomas do paciente. Geralmente, é feito um exame retirando a secreção da garganta para visualizar o micro-organismo.

Segundo Montenegro, ainda há um tabu entre os próprios médicos em perguntar sobre a atividade sexual das pessoas. Se o compartilhamento das informações fosse mais difundido, diagnósticos tardios seriam evitados, melhorando a resposta do tratamento ao quadro, opina.

Muitas vezes, a pessoa que já está contaminada com a gonorreia pode ser assintomática e infecta o parceiro.

 

Como se trata de um tipo de bactéria resistente, não é todo antibiótico que vai tratar e curar o problema. Por isso, é importante uma investigação a fundo dessa IST.

 

"Uma amigdalite que não tem resposta, precisa suspeitar e perguntar se o paciente teve algum tipo de relação oral. Normalmente, em quem tem gonococos, eles aparecem na região genital, aí contamina o outro. Isso vale tanto para o homem quanto para a mulher", reforça o infectologista do Hospital Oswaldo Cruz.

 

 

Gonorreia

 

 

Também causada pelo gonococos, essa IST pode provocar corrimentos uretrais e, em quadros mais graves, infecção na pelve e até infertilidade. A transmissão ocorre tanto pela penetração, quanto pelo sexo oral.

O diagnóstico é feito por meio de um exame semelhante ao da covid-19, no qual é inserido uma haste flexível (o swab) na garganta.

Os sintomas nesta parte do corpo podem ser assintomáticos e o indivíduo, muitas vezes, contamina outras pessoas sem ao menos saber que tem a infecção. Por causa disso, é ainda mais complicado quantificar a incidência dessa IST na população brasileira.

 

"A gonorreia não tem notificação compulsória e obrigatória. Por isso, é uma infecção subnotificada", ressalta Mario Gonzales, diretor médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
O tratamento dessa infecção sexualmente transmissível também é complicado e pode demorar, já que em alguns casos o organismo desenvolve uma resistência maior a alguns antibióticos.
Fonte: G-1
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