O risco é maior para mulheres, negros e pessoas de baixas renda e escolaridade, conforme consta em um trabalho da Escola de Enfermagem da UFMG. O grupo analisou dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), entre 2006 e 2019. Mais de 730 mil pessoas das 26 capitais participaram da entrevista.
O índice de obesidade no país era de 22% em 2021, segundo o Ministério da Saúde. A estimativa para o fim desta década é que 68,1% da população esteja com sobrepeso, 29,6% com obesidade e 9,3% com doença nas classes II e III (grave ou mórbida). Em Belo Horizonte, a previsão é que 28% da população seja diagnosticada com a enfermidade até 2030.
“Há um componente individual, genético, e outro do ambiente, que está favorecendo que as pessoas comam cada vez mais e pior, e gastando menos energia”, afirma o professor do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG, Rafael Moreira Claro.
O pesquisador lembra que a obesidade é um fator de risco para diversas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como as cardiovasculares, diabetes e cânceres.
Para ele, existe uma “epidemia de obesidade” no Brasil. “Os estudos evidenciam que 70% das mortes por doenças são de doenças crônicas”. Segundo o professor, esses óbitos são prematuros e poderiam ser evitados.
“O principal risco da obesidade é a perda de anos de vida saudável, ou seja, a pessoa vai morrer mais cedo do que deveria, ao invés de viver com mais qualidade de vida”.
Combinação de fatores
Mestre em Ciência dos Alimentos, a professora do curso de Nutrição das Faculdades Kennedy, Ana Carolina Barbosa Duarte explica que as causas da obesidade vão além da alimentação.
“É uma combinação de fatores, que estão relacionados ao estilo de vida, falta de atividades físicas e até emoções. Muitas pessoas comem de forma descontrolada por causa de ansiedade, por estresse e até por tristeza”, afirma a nutricionista, que alertou para o risco maior dos alimentos ultraprocessados.
A docente observa que a mudança de hábitos, com consumo de alimentos mais saudáveis ou in natura, exige um esforço das pessoas.
Poder público
A pesquisa da UFMG indica dificuldade para reduzir a estimativa de casos até 2030, mas sugere que políticas públicas são capazes de ajudar. “São necessárias duas frentes. A primeira, educar as pessoas, para que elas façam melhores escolhas na hora da alimentação. A segunda, organizar o ambiente”, diz Rafael Claro, da UFMG.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a necessidade de intervenções da ordem econômica, com preços mais acessíveis para alimentos saudáveis. Além disso, maior controle do marketing de alimentos ultraprocessados e mais “clareza” nas embalagens, mostrando quais os ingredientes mais nocivos – alto teor de sódio ou de açúcar.
O Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado de Saúde (SES) foram procurados para falar sobre as políticas públicas desenvolvidas para prevenir a obesidade, mas não responderam.
Fonte: Hoje em Dia