Comer é uma das principais necessidades dos seres humanos. Muitas vezes, a comida é ligada a comemorações, ao afeto, ao conforto e à vida social. Em muitas dessas situações o comer sem fome física é comum, mas não prejudicial à saúde.
Todavia, quando o ato de se alimentar está associado às emoções ou às situações especiais com grande frequência, deixa de ser um prazer para se tornar um problema.
"Nem sempre o comer precisa estar relacionado à fome física, muitas vezes a celebração, o comer afetivo pode acontecer sem fome física. Mas é diferente do comer emocional, que é a busca por comida como uma maneira de manejar emoções, ou ainda descontar ou de alguma forma tentar resolver essas emoções comendo", explica a coordenadora de nutrição do Ambulatório de Anorexia Nervosa do Programa de Transtornos Alimentares – AMBULIM do IPq - HC/FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Marcela Kotait.
A fome emocional existe e não é igual em todas as pessoas, conforme orienta a psicóloga e coordenadora do PROATA - Núcleo de Atenção aos Transtornos Alimentares da UNIFESP (Universidades Federal do Estado de São Paulo), Renata Arnoni.
"Para cada um a fome emocional vai significar uma coisa diferente. O sintoma pode ser um comer noturno, a pessoa acorda para comer à noite; pode ser um hábito beliscador, que a pessoa passa o dia todo comendo, beliscando um pouquinho, não senta e faz uma refeição; e pode ser uma hiperfagia, a pessoa come além do que ela precisa para ficar satisfeita."
O comer impulsionado pelas emoções não é caracterizado como um transtorno alimentar e sim como um dos sintomas dos indivíduos que sofrem desses problemas.
"A compulsão é um transtorno alimentar. Anorexia é um transtorno alimentar, que é quando a pessoa não come e tem uma preocupação com a imagem com o corpo, tem medo de engordar de ganhar peso, e a bulimia nervosa também é um transtorno alimentar, quando a pessoa tem hiperfagia e depois força o vômito", destaca Renata.
Mas não tem como separar o comer emocional dos transtornos. "Podemos dizer assim: todas as pessoas que têm um transtorno alimentar têm um comer emocional. Talvez sim. Mas, toda pessoa que tem um comer emocional tem um transtorno alimentar? Não necessariamente", complementa a psicóloga.
É possível descobrir se tenho fome emocional?
A descoberta da fome emocional passa necessariamente pela percepção que cada pessoa tem sobre si mesmo e a frequência com que acontecem os episódios, seja qual for a característica da pessoa: beliscador, hiperfagia ou comer à noite.
A partir dessas análises, buscar ajuda pode ser um passo importante para que não se torne um transtorno alimentar, que o tratamento tende a ser mais difícil.
A nutricionista Marcela ressalta que prestar atenção ao sofrimento que sente também é essencial: "A depender da frequência e da intensidade que episódios do comer emocional e o sofrimento que gera no indivíduo, isso é suficiente para que ele busque ajuda especializada. Um psicólogo e um nutricionista possibilitam que a pessoa organize a alimentação e aprenda a lidar com as emoções sem precisar usar comida nos momentos difíceis."
"Quando a pessoa começa a entender que ela [a fome emocional] está causando um prejuízo na saúde, na vida social, nas relações pessoais, está na hora de fazer um tratamento", diz Renata.
O tratamento é feito por uma equipe multidisciplinar, com psiquiatras, psicólogos e nutricionistas. Aprender a lidar com as emoções é o primeiro passo do tratamento.
"Precisamos classificar e ajudar a pessoa entender a diferença entre a fome física e a fome emocional. A fome física sim nós precisamos comer comida. Quando pensamos na fome emocional, na verdade precisamos entender essas emoções para lidar com elas antes de precisar recorrer a comida", explica a nutricionista.
Além de profissionais, a psicóloga Renata acredita que o apoio de familiares e amigos é relevante para que o tratamento seja bem-sucedido.
"As pessoas que estão em volta são as que mais podem ajudar. O paciente com questões alimentares precisa de apoio e dificilmente vai conseguir sozinho. Tem um monte de coisa que favorece essa doença a ficar mais grave. Muitas vezes é fundamental para o tratamento envolver os familiares, os cuidadores e as pessoas que estão mais próximas."
Fonte: R7