A vitamina D virou uma das grandes preocupações das pessoas, principalmente após a pandemia, já que ela ajuda o sistema imunológico e só é produzida a partir da exposição ao sol, coisa que nem todos conseguiram fazer durante o longo tempo de isolamento social pelo qual passamos.
Mas como saber se de fato estamos com deficiência da vitamina ou se é só uma preocupação que virou febre nestes tempos?
A nutricionista funcional e esportiva da CliNutri Thais Barca explica os sinais mais habituais no caso da falta da vitamina. "Baixa imunidade, fadiga sem motivo aparente, dores nas costas, dores como sensação de dor óssea, desânimo, desmotivação, apatia, problemas na cicatrização e dor muscular são comuns."
A endocrinologista da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo) Marise Lazaretti Castro diz ainda que existe uma consequência indireta, que é a osteoporose.
"Uma das funções da vitamina D é aumentar a absorção do cálcio dos alimentos. Então, quando a pessoa não tem vitamina D, o cálcio dos alimentos não é aproveitado, e o paratormônio [hormônio responsável por regular os níveis de alguns nutrientes que circulam no sangue de um indivíduo], para manter o cálcio do sangue normal, busca o nutriente nos ossos."
"O calcentriol, que é a forma ativa da vitamina D, também pode agir em outros locais, não somente nos ossos, como no cérebro, no coração, no pâncreas e na pele", afirma Thais. Outra característica que pode ser notada em pessoas com déficit desse nutriente é a reincidência de infecções respiratórias.
"Quem tem muita infecção respiratória pode estar com deficiência. Claro que essa não é a única causa, mas a vitamina D é importante para que o sistema imune fique competente, para que tenhamos todas as competências do sistema imune funcionando", ressalta Marise.
Deficiência é mais comum em idosos
A única forma de o corpo produzir a vitamina D é pela exposição ao sol, diferentemente de nutrientes, pois os alimentos não são capazes de oferecer o necessário para manter o indivíduo saudável.
Os produtos mais ricos em vitamina D são os peixes gordurosos de águas geladas, como o salmão e o atum. "Teríamos de comer todo dia um filé de um desses peixes, e não fazemos isso, já que não é nosso hábito. Outros alimentos têm pouquíssima vitamina D e não são considerados fonte", orienta a endocrinologista.
As pessoas que têm mais chance de apresentar deficiência são idosos, obesos, quem não se expõe ao sol ou usa protetor solar o tempo todo, doentes, quem tem distúrbios de absorção intestinal, como os pós-bariátricos, e pacientes com doenças inflamatórias intestinais.
As pessoas de pele escura — negros, indianos e árabes — também têm possibilidades maiores de ter deficiência de vitamina D, já que a melanina da pele funciona como um "protetor solar" natural.
"Essas pessoas precisam de mais sol para produzir vitamina D. Quando tomam pouco sol, a deficiência aparece. Isso porque a melanina, que é o pigmento escuro da pele, funciona como um filtro solar. Por isso a pele do negro é linda, não envelhece, e o sol não a deteriora, ao passo que nos branquinhos a pele enruga muito mais fácil, porque o sol estraga", destaca Marise.
Como é feito o diagnóstico?
Só os sintomas descritos acima não são suficientes para confirmar a necessidade de reposição. "É necessário fazer uma anamnese bem minuciosa para poder entender qual é a realidade desse paciente, o que ele faz ou deixa de fazer durante o dia dele, e isso vai ajudar a gente a entender melhor quais são os sintomas que esse paciente tem", conta Thais.
Mas a confirmação vem só com a análise clínica. "É importante solicitar o exame de sangue para avaliar, aí juntamos os sintomas com o resultado bioquímico para poder fechar o diagnóstico de deficiência de vitamina D e qual reposição deve ser feita", complementa a nutricionista.
Excesso de vitamina D
As exigências fisiológicas variam de acordo com a idade. Nas crianças, são necessárias 400 unidades por dia, e nos adultos, de 1.000 a 2.000 unidades por dia.
Todavia, diante da febre que virou a reposição da vitamina D, a endocrinologista ressalta que a superdosagem é altamente prejudicial à saúde.
"Atualmente me preocupa mais o excesso do que a deficiência da vitamina D. O excesso geralmente acontece por prescrição médica ou de algum profissional da saúde. Não tem intoxicação com essa vitamina D que tem na farmácia, disponível para venda livre, porque ela, em geral, é em doses pequenas, doses diárias", salienta Marise.
Doses maiores do que as necessárias podem causar toxicidade, e a pessoa pode ter fraqueza, náuseas, perda de apetite, dor de cabeça, dor abdominal, câimbra e diarreia.
"Se essa toxicidade for elevada, o paciente pode ter hipercalemia, que é o excesso de cálcio no sangue, e ele pode durar um bom tempo, porque tem uma liberação lenta e também um acúmulo no tecido adiposo. Isso pode causar uma contração anormal dos vasos no músculo liso, levando a uma hipertensão, por exemplo", alerta Thais.
A endocrinologista finaliza: "Esse conceito errado de que quanto mais melhor não tem nenhum fundamento científico. Precisamos das doses fisiológicas normais. O pessoal dá 100 mil unidades por dia, com essa ideia de que vai melhorar a imunidade e que vai evitar doenças autoimunes. É um absurdo."
Fonte: R7