Nas imagens, é possível ver que a dentista gritou e ameaçou a paciente, que estava chorando durante o atendimento e dizia sentir dor (assista acima).
"Não pode ser assim, Lorena. O que você 'tá' sentindo? Fala. Não 'tá' sentindo dor, não. Porque se estivesse sentindo dor, você tinha dado um pulo daqui lá em cima, 'tá'?", continua a dentista.
Ao longo da gravação, a criança continuou chorando e avisou a profissional que a boca dela estava sangrando. Foi quando a dentista respondeu: "'Tá' saindo sangue sim pois eu 'tô' mexendo. Eu 'tô' mexendo pra te ajudar. E quanto mais você mexe, mais sangue vai sair porque você está se machucando. Não sou eu que estou te machucando. É você."
A garota ainda perguntou quanto tempo iria demorar para terminar o atendimento, e a dentista disse: "Falta muito. Vinte vezes isso. É. E fica quieta."
A mãe também disse que, durante o atendimento, a menina colocou a mão na boca para sinalizar que estava com dor e a dentista afirmou: "Tira a mão daqui, senão eu furo a sua mão."
Adriana Santos levou a filha para o tratamento odontológico de emergência na última quinta-feira (29), depois que a garota teve dores na boca e dificuldade de comer por dois dias. Segundo a mãe, o quadro aconteceu depois de um dano em uma obturação, que precisava ser restaurada.
A moradora contou que a filha faz tratamento recorrente com um dentista da UBS Nova Trieste, porém para emergência, ela teve que ser atendida pela profissional de plantão.
Adriana afirmou que entrou na sala de atendimento junto com a filha e ficou sentada em uma cadeira atrás da dentista. Ao notar que a menina começou a reclamar de desconforto, ela começou a gravar as cenas pelo celular.
Na postagem que Adriana fez nas redes sociais, várias pessoas questionaram o fato de ela ter apenas gravado as cenas, sem reagir para tirar a filha da situação.
Adriana disse que começou a se sentir mal e a ter palpitações ao ver o tratamento da filha, mas que, ao pensar em reagir, teve medo de ser presa por desacato a funcionário público.
"Eu medi as consequências e pensei que o mais importante, naquele momento, era que minha filha terminasse de tratar o dente dela. Eu pensei: 'Se eu tirar a Lorena daqui, ela vai continuar com dor.' Ela precisava voltar a comer, a brincar, a voltar para a escola", conta a mãe.
"Ela foi um monstro. Eu falo para as pessoas que eu estava ali por necessidade, que eu não a deixei maltratar a minha filha. Infelizmente, eu precisava daquele atendimento. Eu não tinha condições financeiras de tirar ela dali e levar ela para um consultório particular", continua Adriana.
A mãe contou que a filha saiu calada da UBS depois da consulta e, ao chegar em casa, questionou sobre o atendimento da dentista.
"Ela saiu em estado de choque, mas depois me perguntou: 'Mamãe, por que ela fez isso comigo? Ela estava nervosa? Ela estava com raiva? Foi por isso que ela gritou comigo?"'
"Ela sabe que não foi um atendimento normal, né? Ela nunca foi tratada desse jeito. É desumano. Toda a nossa família está arrasada pelo que ela sofreu", afirma Adriana.
Depois do atendimento, Adriana registrou um boletim de ocorrência sobre o caso na Delegacia de Jarinu. "Estou sem chão, mas pronta para garantir que ela não faça mais isso com nenhuma criança", declarou.
Procurada pelo g1, a prefeitura se pronunciou sobre o fato ocorrido na UBS Nova Triste: "A Prefeitura de Jarinu, por meio da Secretaria de Saúde, informa que, ao tomar conhecimento do ocorrido, imediatamente afastou os profissionais de Saúde envolvidos e iniciou a investigação do caso".
A pasta afirmou que foi aberta uma sindicância administrativa na sexta-feira (30) e que está tomando as medidas cabíveis para acompanhar o caso, além de oferecer assistência à família da paciente.
A mãe confirmou que a Secretaria da Saúde entrou em contato com a família oferecendo um novo atendimento na UBS com o profissional que atende a criança, mas como seria no mesmo consultório onde ela foi atendida pela dentista denunciada, não está confortável com esse retorno.
Ela também disse que a prefeitura prometeu atendimento psicológico para a menina, mas não entrou em contato para oferecer a ajuda até a publicação desta reportagem.
O g1 não conseguiu contato com a dentista investigada porque o nome dela não foi divulgado.
Fonte: G-1