A polarização vista no atual pleito eleitoral trouxe um dado inédito: pela primeira vez desde a redemocratização, a soma dos votos em branco e nulos para o cargo de presidente caiu pela metade quando em comparação com a mesma soma da eleição de 2018. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ambas as opções chegaram a representar 8,79% dos votos computados naquele ano; no primeiro turno da atual eleição, o índice ficou na casa dos 4,41%. A tendência também foi confirmada em Juiz de Fora no atual pleito, tendo em vista que, nas últimas eleições, a cidade registrou 9,95% de votos inválidos, contra os 4,76% atuais.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Diogo Tourino, o aumento do número de votos válidos indica uma questão bastante positiva. “A diminuição dos votos em branco e nulos demonstra que as eleições mais acirradas forçam as pessoas a tomarem uma posição, diminuindo por consequência o número de indecisos. É uma disputa que tem animado os eleitores de certa forma, e isso se reflete no aumentoexpressivo da participação das pessoas no exterior ou que optaram pelo voto em trânsito”, avalia.
Por outro lado, ainda que seguindo o mesmo padrão de queda no país, o número de votos em branco e nulos nos outros cargos em disputa são muito maiores do que os encontrados na corrida presidencial. Como exemplo, em Juiz de Fora, a disputa neste ano pela única cadeira do Senado federal por Minas ficou marcada pelo índice de 22,22% de votos brancos e nulos – número cerca de quatro vezes maior do que o patamar visto entre os presidenciáveis na cidade. Ao analisar esta questão em específico, Tourino aponta que as eleições para o Congresso Nacional trazem uma série de complexidades.
“Nós temos que ressaltar a existência de uma dimensão cognitiva do voto. Ou seja, temos uma eleição em que votamos para cinco cargos diferentes, com um número extenso de candidatos, é importante ressaltar que o processo de aquisição dessas informações às vezes é muito poluído. A facilidade disto varia muito entre as mais diversas classes sociais e dos níveis de escolaridade dela. Não traduzo esta questão como necessariamente um desinteresse ou desânimo pela votação nestes cargos”, ressalta.
Aumento da abstenção segue média histórica
Na contramão do aumento do número de votos válidos, a atual eleição também registrou o maior número de abstenções desde o início da redemocratização. No país, 20,95% dos eleitores habilitados não compareceram às urnas no último domingo (02). O dado representa um leve aumento se comparado com a abstenção encontrada em 2018, que foi de 20,32%. Ainda assim, são quase 33 milhões de pessoas que deixam de expressar suas opiniões políticas, pelos mais variados motivos. Tourino assegura que não é possível correlacionar estes número como um “desânimo” da população.
“Nós temos muitas variáveis dentro dessa abstenção, e eu desconfio de quem afirma que esse número indica um desencantamento da população com a política. Ela pode estar até insatisfeita com determinadas representações formais que ocupam as instituições, mas não podemos dizer que ela está desanimada ou apática. É claro que a gente sempre se assusta com o alto volume de ausentes, mas temos o fato de que existe uma população que se torna mais velha e passa a ter o voto facultativo. Nunca vamos conseguir passar um ‘pente fino’ para saber qual é a situação real sobre as abstenções”, assegura.
O pesquisador também ressalta que os incrementos tecnológicos, tais como a possibilidade de justificar o voto pelo aplicativo E-título, podem possibilitar um aumento no número de abstenções justamente por facilitarem a justificativa ao eleitor. “Isso não é um dado tolo. Ao mesmo tempo, a gente precisa de tempo para ‘decantar’ essas informações”, assegura. De acordo com dados do TSE, nestas eleições, foram realizadas mais de 1,5 milhão de justificativas pelo aplicativo móvel, com eleitores realizando o processo até mesmo da Antártida.
Fonte: Tribuna de Minas