Desde que o PDT declarou apoio ao candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), representantes do partido têm aparecido nas agendas de campanha do petista para o segundo turno, menos o ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT). Apesar do apoio declarado a Lula, Ciro não participou de nenhum evento ligado ao ex-presidente até o momento. Ele ficou em 4º lugar no primeiro turno das eleições, com mais de 3 milhões de votos.
No vídeo em que declarou apoio a Lula, Ciro não pediu votos ao candidato nem citou o petista na gravação. "Sempre me posicionei e me posicionarei na defesa do país contra projetos de poder que levaram nosso povo a essa situação grave e ameaçadora. Lamento que a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que reste para os brasileiros duas opções, ao meu ver, insatisfatórias", enfatizou.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, acompanhou Lula em mais uma agenda de campanha, no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (12). Ao R7, Lupi disse que o comportamento de Ciro reflete um momento particular. "Ele [Ciro] já disse que vota [em Lula], mas acha que este é um momento de recolhimento. Está com o partido, assim como em todo o Brasil, mas Ciro não quer estar presente. Isso é um direito dele. Tudo tem seu tempo e compreensão, e esse é o tempo dele", explicou.
Relembre as críticas de Ciro a Lula
Desde o começo das eleições, o ex-candidato disparou inúmeras críticas a Lula. "O poder corruptor do Lula é uma coisa que não tem limite. Ele se tornou uma pessoa que eu não conheço mais. Um cara com quem eu tenho uma relação respeitosa, de amizade, de 30, 40 anos, mas que virou um corruptor sem reserva, nem limite de nada", afirmou Ciro em uma das últimas críticas ao petista.
Em outra situação, Ciro criticou a campanha em defesa do voto útil na candidatura de Lula. Ele disse que o Brasil hoje sofre com o "fascismo de esquerda", que ele diz ser "liderado pelo PT". Ciro foi ministro da Integração Nacional entre 2003 e 2006, no primeiro governo Lula.
Em evento de campanha no primeiro turno, o então candidato do PDT afirmou que se afastou de Lula depois de ter presenciado práticas com as quais não concorda. “Eu digo com muita dor: o Lula se corrompeu, se vendeu ao sistema e vendeu o Brasil, como, de novo, está vendendo", afirmou.
O pedetista também acusou o governo Lula de jogar as pessoas na inadimplência. "É um encantador de serpentes que faz uma aposta hipócrita na ignorância. Ele quer que o povo se lembre do dia em que teve direito de comprar uma geladeira no crediário, porque no tempo dele todo mundo tinha como comprar, mas quer que o povo esqueça que foi para a humilhação da inadimplência e para a humilhação do SPC por causa da política dele. É o lulismo", comentou Ciro em um evento de campanha.
Para o cientista político André Rosa, a estratégia de Ciro é justamente manter um "apoio cauteloso". "É um comportamento estratégico do ponto de vista de que a fala dele de largar disputas futuras é um blefe. Uma vez que Lula esteja caminhando para o fim da carreira, Ciro pode herdar os votos do petista. Então, ele quer se descolar do que não deu certo, do que pode não dar certo futuramente, caso Lula vença, e quem sai perdendo agora é apenas o Lula, que não consegue a transferência imediata dos votos para a campanha dele", avaliou.
Ainda segundo Rosa, não se posicionar desta vez traria mais prejuízos a Ciro do que manter um apoio frio. Na última disputa eleitoral para presidente, em 2018, Ciro Gomes foi à Europa após ter sido descartado do segundo turno. A viagem frustrou as expectativas de apoio dele à candidatura de Fernando Haddad (PT) contra Jair Bolsonaro (PL).
Fonte: R7