A Polícia Federal e o Ministério Público Federal realizam, nesta quarta-feira, a Operação Smoke Free, contra uma organização criminosa armada e especializada na venda ilegal de cigarros. José Eduardo Cabral, filho do ex-governador Sérgio Cabral, é um dos alvos de mandado de prisão desta ação. Ele é considerado foragido. Ao todo, são 27 mandados de prisão e 50 de busca e apreensão. Também entre os alvos está Adilson Coutinho de Oliveira Filho, o Adilsinho, que já esteve na mira da PF e do MP do Rio no ano passado, na Operação Fumus. Ele é considerado foragido na ação desta quarta ao não ser encontrado.
Segundo a Polícia Federal, até as 11h, 12 pessoas foram presas, entre elas um policial federal e ao menos sete policiais militares. Dos 27 mandados de prisão, 15 deles são contra PMs de seis batalhões (4º BPM, 15º BPM, 24º BPM, 28º BPM, 33º BPM e BPVE.), dois bombeiros e um agente federal. As equipes estão em endereços da capital e da Baixada Fluminense.
A investigação aponta que, durante um período de três anos, a quadrilha falsificou ou não emitiu notas fiscais e transportou e vendeu cigarros vindos do crime em territórios dominados. De acordo com a PF, em consequência, a organização lavou o dinheiro obtido ilicitamente e remeteu altas quantias ao exterior. Ainda segundo a corporação, o grupo causou um prejuízo de R$ 2 bilhões à União.
"Além disso, a organização criminosa contava com uma célula de serviço paralelo de segurança, coordenado por policial federal e integrado por policiais militares e bombeiros, que também atuavam para atender aos interesses espúrios do grupo", diz trecho da nota da Polícia Federal.
José Eduardo Cabral é dono de uma produtora de eventos, feiras e shows, a ZC Entretenimento. Ele é um dos alvos desta operação. Em nota, a Polícia Militar informou que o ex-governador Sérgio Cabral passou mal dentro da unidade prisional da PM, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, e recebeu atendimento médico ao saber do pedido de prisão. No momento, seu estado de saúde é estável.
Ainda segundo a corporação, o grupo causou um prejuízo de R$ 2 bilhões à União.
Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Além disso, também foi ordenado o bloqueio, sequestro e apreensão de bens, avaliados em cerca de R$ 300 milhões. Dentre eles estão imóveis, veículos de luxo, criptomoedas, dinheiro em espécie e depósitos em contas bancárias. Se condenados, os envolvidos podem pegar 66 anos de reclusão.
A organização criminosa ainda efetuava lavagem de dinheiro obtido de forma ilícita ao enviar as quantias para o exterior. A força-tarefa conta com o apoio da US Homeland Security Investigations, a Agência de Investigações de Segurança Interna dos Estados Unidos.
Segundo o "g1", Adilsinho viajou para os Estados Unidos há cerca de 10 dias. Ele não foi localizado nesta quarta-feira.
Operação Fumus
Adilsinho é acusado de ser um dos chefes de uma quadrilha que vende cigarros de forma ilegal. Em junho do ano passado, ele estava entre os principais nomes na Operação Fumus, que foi realizada contra um grupo criminoso que também tinha a participação de policiais militares. Na ocasião, Adilsinho deixou seu endereço residencial na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, horas antes da ação da polícia, assim como outros dois acusados de integrarem o esquema.
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Segundo as investigações, o grupo compra os maços de cigarro da marca C-One, da Companhia Sulamericana de Tabacos, na Baixada Fluminense, com notas fiscais adulteradas. A quadrilha obriga pequenos e médios comerciantes em praticamente todo o Rio a vender apenas a marca oferecida por ela. Investigadores identificaram que os cigarros eram fabricados em Duque de Caxias e eram levados em caminhões para centros de distribuição na própria cidade de Caxias e em Campos, no Norte Fluminense, além da capital. Nesses locais, os cigarros eram repassados aos operadores, responsáveis pela entrega aos comerciantes finais. Os preços dos cigarros são tabelados, e os empresários são proibidos de venderem outras marcas. Caso eles descumprissem as ordens, seus comércios eram roubados.
De acordo com as investigações, os irmãos Adilsinho e Cláudio Coutinho de Oliveira chefiam o bando e tratavam o esquema como "a banca da Grande Rio", o que, segundo as investigações, demonstra ligação com a escola de samba. O rendimento mensal do grupo seria de cerca de R$ 1,5 milhão. De 2019 até junho de 2021, estima-se que a quadrilha teria movimentado mais de R$ 45 milhões. Além do esquema de cigarro, o grupo teria ligação com o jogo do bicho e máquinas caça-níquel. Os alvos responderão por organização criminosa, extorsão, roubo, corrupção, lavagem de dinheiro e crimes tributários.
Ação suspensa pelo STJ
Como noticiou a coluna de Lauro Jardim, em julho deste ano, o STJ concedeu uma liminar favorável a Adilsinho, foragido na Operação Fumus e acusado de chefiar a quadrilha alvo da ação. O ministro Olindo Menezes acolheu um pedido de habeas corpus e determinou a suspensão da ação penal.
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Os advogados de Adilsinho argumentam que, além de os atos terem sido ilegais, as acusações de que ele integraria uma organização criminosa são incabíveis. Ele é defendido por Eumar Novacki, ex-ministro da Agricultura no governo Temer. Ele é sócio do ex-ministro do STJ Nefi Cordeiro, que anunciou sua aposentadoria da Corte no ano passado. Conforme a movimentação processual, o peticionário do habeas corpus inclusive é um ex-assessor de Cordeiro, exonerado também em 2021 para se dedicar à advocacia.
Festa no Copacabana Palace na pandemia
Um mês antes de ser procurado durante a Fumus, no ano passado, Adilsinho comemorou seu aniversário de 51 anos com uma festa para 500 pessoas no Copacabana Palace, hotel de luxo na Zona Sul do Rio. Na ocasião, os convidados receberam um convite em forma de vídeo com a trilha sonora do filme Poderoso Chefão. A festa contou com a apresentação de cantores como Gusttavo Lima, Ludmilla, Alexandre Pires e Mumuzinho e causou bastante polêmica nas redes sociais. Adilsinho é primo de Helio Ribeiro de Oliveira, o Helinho, presidente de honra da Grande Rio.
O evento rendeu uma multa ao Copacabana Palace após a Vigilância Sanitária avaliar como "gravíssimas" as infrações das medidas de combate à pandemia da Covid-19. A pasta aplicou uma multa no valor de R$ 15.466,81. Além disso, foi determinada a interdição do local para realização de festas pelo período de 10 dias, ainda em maio, logo após o evento.
Fonte: Jornal Extra