Uso do rotativo do cartão de crédito é recorde em ano de taxa de juros superior a 400%
DIVERSOS
Publicado em 07/02/2023

 

O ano de 2022 foi marcado pelo alto endividamento dos brasileiros. Foram recordes batidos a cada mês, com muitas famílias comprometendo mais de 80% da renda com contas a pagar. A inadimplência também foi alta nesse período e, o pior, a maioria dos débitos em atraso era de cartão de crédito ou cheque especial, modalidades que apresentam as maiores taxas do mercado. E para piorar o cenário dos endividados, os juros cobrados no rotativo do cartão de crédito explodiram em 2022. E, mesmo assim, seu uso bateu todas as marcas dos últimos 11 anos.

Segundo dados do Banco Central (BC), os juros fecharam o ano em 409,3% – o maior desde agosto de 2017 (quando bateu em 428%). O crescimento da taxa no rotativo foi de 61,9 pontos percentuais, o que encareceu, e muito, as dívidas no dinheiro de plástico. Mas apesar de ser tão caro, o uso do rotativo para pessoas físicas registrou crescimento em 2022 bem maior que em toda a série histórica, iniciada em 2012.

De acordo com o BC, o crédito concedido pelas instituições financeiras no cartão de crédito rotativo somou R$ 341,7 bilhões em 2022, alta de 52% em relação a 2021, quando foram usados R$ 224,9 bilhões.

O crédito rotativo do cartão pode ser acionado por quem não tem como pagar a fatura total, mas não quer ficar inadimplente. Só que essa linha de crédito é a mais cara do mercado. A recomendação dos especialistas é pagar o valor total da fatura todo mês.
No entanto, nem sempre isso é possível, principalmente quando se leva em conta a queda da renda do brasileiro nos últimos anos. Pesquisa PNAD contínua do segundo trimestre de 2022 mostra que os rendimentos habituais reais médios apresentaram uma queda de 5,1% no segundo trimestre de 2022 em comparação com o mesmo trimestre de 2021. Foi o quinto trimestre consecutivo de queda interanual na renda. Segundo o estudo, a renda do brasileiro encontra-se abaixo dos níveis observados antes da pandemia.

Com renda menor, endividamento e taxa de juros recorde, o resultado não poderia ser diferente: a inadimplência no rotativo do cartão de crédito também bateu todas as marcas, chegando a 44,7%. É a maior taxa da série histórica do Banco Central, iniciada em março de 2011.

“A inadimplência para pessoa física cresceu ao longo de 2022 fundamentalmente nas operações de crédito livre, nessas modalidades rotativas”, afirma Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC que divulgou os números no final de janeiro.

A orientação dada por Rocha aos endividados é que saiam do crédito rotativo, negociando com bancos e instituições financeiras modalidades de crédito com prazos maiores e taxas menores. Uma delas é o crédito pessoal, que fechou 2022 em 40,9% ao ano – em novembro estava em 42,0%. No fim de 2021, os juros eram de 37,6%.

Dívida mais barata
Para a economista Mafalda Valente, essa é a saída mais recomendada quando o estrago já está feito. “O ideal é evitar cair no rotativo e pagar a fatura toda. Mas, se já está com as dívidas, muitas vezes em vários cartões, o melhor é fazer um empréstimo no banco e quitar todas as pendências dos cartões, ficando apenas com o empréstimo para pagar”, orienta a professora das Faculdades Promove.

E após fazer isso e sanear as contas, qual o próximo passo? “Rever os gastos”, alerta a professora. As planilhas financeiras precisam ser suas companheiras e aliadas. Deve-se recalcular os gatos e diminuí-los para manter o equilíbrio no orçamento.

Tarefa que parece simples, mas que para muitos é um verdadeiro tormento, ou pela falta de organização ou por realmente não saber lidar com o dinheiro. A pedagoga Susan Perpétuo, por exemplo, perdeu o controle das dívidas e hoje se vê em uma situação difícil com a operadora de cartão de crédito.

“Eu fazia o controle das dívidas, mas a situação foi se complicando, eu tive que usar o crédito para manter o cotidiano da pousada que eu tinha e, mesmo com a recuperação depois da pandemia, não foi possível colocar as contas em dia, pois já tinha muita coisa acumulada. Eu tentei negociar, mas o banco não ofereceu condições boas e agora estão ameaçando levar a questão para a Justiça com bloqueio de recursos e tudo”, lamenta.

Fonte: Hoje em Dia

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