Portadores de doenças na retina conseguem enxergar, mas precisam utilizar uma bengala para se deslocarem. A baixa visão prejudica os deslocamentos no dia a dia, principalmente em locais com buracos, degraus e postes. Mostrar à sociedade quem são essas pessoas é o objetivo da associação Retina Brasil, que lançou o movimento ‘Bengala Verde’. A campanha foi destacada nesta sexta-feira (14), durante o XII Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, em Belo Horizonte.
“As pessoas desconfiam e pensam ‘que cega é essa que usa bengala, mas consegue ler?’", afirna Maria Júlia Araújo, portadora de retinose pigmentar. Ela é fundadora da Retina Brasil e do movimento. Segundo ela, a iniciativa é importante, inclusive, para as pessoas com as doenças, que, por conta do preconceito enfrentado, resistem ao uso da bengala. Além disso, a ação procura chamar atenção do poder público sobre a importância de campanhas de conscientização.
Marina Leite Brandão é uma das integrantes do Retina Brasil em Minas. Ela tem a doença de Stargardt, que afeta a visão central e impossibilita distinguir as cores e a percepção de pequenos detalhes. A jovem conheceu a associação em um evento em São Paulo. “Foi a primeira vez que fiquei perto de muitas pessoas com doença de retina e baixa visão, aquilo me emocionou muito”, relembra.
Marina conta que assim que voltou a Minas resolveu contribuir com o movimento. “É um acolhimento que traz mais dignidade. Quando ficamos muito isolados, sem muito contato com as pessoas, a gente acaba perdendo oportunidades. Nós trocamos muitas experiências sobre vários assuntos. Então, é uma troca que cria esse direito de comunidade, isso é muito importante”.
A médica e reitora das Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte), Raquel Muniz, também conheceu o grupo em um congresso em São Paulo e abraçou a causa.
Raquel Muniz divulga o trabalho da associação na Fundação Hilton Rocha, em BH, e no Hospital das Clínicas Mário Ribeiro, em Montes Claros, no Norte de Minas, além de escolas da região.
“Quando a sociedade conseguir identificar esses pacientes pela cor da bengala, entender as dificuldades que eles têm e readaptá-los, vamos dar a eles uma vida mais confortável, uma vida mais tranquila”, destaca a médica.
Para a oftalmologista e diretora do Hospital Hilton Rocha, Ariadna Muniz, o movimento é um ganho para a população, mas ainda está em fase inicial no Estado. “Em Minas, o projeto está praticamente iniciando. Precisamos de empenho nas esferas municipal, estadual e federal para que se torne realmente uma inclusão”.
Em Brasília, Raquel Muniz conta que o senador e oftalmologista Hiran Gonçalves assumiu a bandeira e leva a pauta para o Congresso Nacional. Segundo ela, as propostas serão apresentadas ao Conselho Nacional de Saúde.
A iniciativa começou em 1991, no Rio de Janeiro. Depois foi ampliada para São Paulo, Minas e Ceará e hoje está presente em 14 estados. Em 2002, os grupos formaram o Retina Brasil para ter uma representação nacional. Atualmente, tem sede em São Paulo e conta com mais de 8,5 mil membros cadastrados.
Mineiros com doenças de retina podem pedir a bengala verde pelo site www.retinabrasil.org.br ou pelo e-mail contato@retinabrasil.org.br. O dispositivo pode ser entregue em todo o Brasil por Correios.
Fonte: Hoje em Dia