Governo Zema emprega ao menos oito filiados ao Novo ao custo de R$ 2,1 milhões por ano
MINAS
Publicado em 22/06/2024

 

O governo Zema acolheu na gestão estadual ao menos sete candidatos de seu partido derrotados nas eleições de 2022. Eles foram nomeados para cargos que representam despesas anuais com a folha de pagamento de pelo menos R$ 2,1 milhões, levando em conta os salários e 13º. O valor envolve ainda a contratação de um ex-presidente do Novo, que não disputou o pleito. Os salários conhecidos dos correligionários oscilam entre R$ 4.608,28 e R$ 36.606,71.

A maior parte dos contratados está no governo desde junho de 2023, cerca de oito meses após o primeiro turno das eleições, quando foram escolhidos os deputados e o senador, além de Zema. O professor da UFMG Carlos Ranulfo esclarece que a nomeação de correligionários derrotados é prática comum no Brasil e não configura conduta ilegal, mas deveria levar em conta a qualificação necessária para as funções. 

O cientista político considera, porém, que as nomeações sinalizam que o partido tem, cada vez mais, se distanciado do discurso adotado em sua fundação. “O Novo, que surgiu como partido que faria tudo diferente, na verdade não faz nada diferente. Aos poucos, ele vai entrando no modo de fazer política brasileiro, inclusive pegando fundos Eleitoral e Partidário”, observou Ranulfo.

Questionado pela reportagem, o governo de Romeu Zema afirma ser normal a presença de integrantes da legenda na administração. “No processo de escolha de pessoas para ocupar cargos de confiança, é natural que alguns dos selecionados tenham filiação partidária”, informou o Palácio Tiradentes. 
“Porém, na gestão atual, diferentemente de outros momentos vividos em governos anteriores, para o preenchimento de todos os cargos é necessário haver comprovação de habilidades e experiência para o trabalho que vão executar no serviço público”, declarou em nota.

O Novo enviou nota afirmando que, quando o partido é consultado, indicações são feitas para que passem por processo de seleção. “Abominamos privilégios, essa não é a prática do Novo. A gestão Romeu Zema é uma gestão responsável com Minas e com os mineiros, fazendo gestão autônoma, sem influência do partido”, afirmou o texto. 

Cargos

Entre os correligionários de Zema chamados para o governo, está o ex-presidente do Novo em Minas Bernardo Santos, que é secretário de Estado de Comunicação Social. O salário é de R$ 34.656,39, e o ex-dirigente do Novo está no cargo desde junho de 2023. O atual presidente da legenda em Minas, Christopher Laguna, que substituiu Santos, também foi chamado para o governo e ocupa o cargo de assessor executivo da presidência da Copasa. A reportagem, porém, não conseguiu confirmar o salário dele. Por isso, o indicado foi excluído da conta por meio da qual se chegou à despesa de R$ 2,1 milhões com os contratados.

A reportagem questionou o presidente do Novo sobre sua formação. Laguna, porém, solicitou que uma rede social de dados profissionais fosse consultada. Nela, ele diz ser “empreendedor, apaixonado por tecnologia, economia e política”. Questionamentos foram enviados para a Copasa sobre a contratação do presidente do Novo, mas não houve retorno.

Pastas

Na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, estão cinco candidatos do Novo derrotados em 2022. Quatro concorreram a cadeiras na Assembleia Legislativa e um à Câmara Federal em 2022. Entre eles está o ex-deputado Guilherme da Cunha, que tentou vaga para deputado federal e foi nomeado em maio de 2023 para o posto de secretário executivo, com salário de R$ 31.355,75. 

Advogado, ele afirma que o cargo exige a tomada de decisões e que, por isso, é natural ser ocupado por alguém com alinhamento ideológico ao governo. “É óbvio que é necessário ter capacidade, mas, nesse caso, eu deixo a análise para quem me conhece”, afirmou o ex-deputado. 

Um mês depois de da Cunha, o candidato a deputado estadual Marcelo Aguiar de Sousa foi contratado como diretor de Patrimônio e Logística, com salário de R$ 9.520,89. Também concorrente a vaga na Assembleia, Danielle Marina do Carmo foi nomeada no mesmo mês no gabinete da secretaria com salário de R$ 6.448,52. Após tentar sorte idêntica, Geraldo Alvarenga virou assessor na Superintendência de Política Minerária da secretaria, com salário de R$ 5.090,98.Mais novo no governo, Gianluca Zapella, lançado para a disputa na Assembleia de Minas, foi nomeado em novembro de 2023 para cargo na Diretoria de Simplificação do Ambiente de Negócios da secretaria. O salário não foi informado. Lucas Gonzales disputou vaga na Câmara dos Deputados e foi nomeado secretário geral adjunto em novembro de 2023, com salário de R$ 36.606,71, onde ficou até o início do mês, quando saiu para disputar a eleição. “Fico muito honrado com o convite e acredito que o Novo segue cumprindo seus princípios e valores com nomes preparados”, disse.

Empresas

As indicações do Novo chegaram a outras empresas públicas. Na Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário de Minas Gerais (Arsae), a ex-deputada estadual Laura Serrano foi nomeada diretora. A agência é responsável pela fiscalização dos serviços da Copasa, e o salário é de R$ 34.656,39.A chefia de gabinete da Arsae afirma que a nomeação seguiu critérios técnicos e meritocráticos, “conforme evidenciado por sua trajetória profissional e acadêmica”. Laura, conforme o texto enviado, é servidora de carreira, mestre em economia pela Concordia University, do Canadá, graduada em ciências econômicas pela UFMG e pós-graduada em controladoria e finanças pela mesma escola. O nome da diretora geral, segue a nota, foi aprovado em sabatina na Assembleia Legislativa.A Empresa Mineira de Comunicação (EMC), que administra a TV Minas e a Rádio Inconfidência, tem como diretor de Conteúdo e Programação Leonardo Vítor de Oliveira. Não há informação disponível sobre o salário do indicado. Por isso, assim como ocorreu no caso do presidente do Novo na Copasa, a conta de R$ 2,1 milhões anuais não engloba o pagamento dele. Um e-mail com questionamentos foi enviado ao diretor, mas não houve retorno.

Estado

Na nota enviada pelo governo, a administração Zema diz também que as nomeações sem concurso público são definidas com base na experiência profissional e capacidade técnica. “As nomeações também levam em conta a necessidade da estruturação administrativa e a racionalização do uso dos recursos públicos, sempre com foco no desenvolvimento do Estado e no melhor atendimento possível à população”.Com exceção de Guilherme da Cunha, a reportagem enviou e-mails para os endereços dos servidores e, quando seus contatos não estavam na página do governo, as mensagens foram direcionadas para o setor em que trabalham. Não houve retorno. Os dados sobre os vencimentos citados, em valores brutos, estão no Portal Transparência do Estado. As informações disponíveis são de abril de 2024. (Com Clarisse Souza)

 

Fonte: Jornal O Tempo

 
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