Três postos de combustíveis e uma casa de câmbio de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, foram alvo de uma operação da Polícia Federal (PF), nesta quinta-feira (25 de julho), que investiga os crimes de de falsidade ideológica e material, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro do tráfico de drogas para o Primeiro Comando da Capital (PCC). A operação "Fruto Podre" é uma segunda fase da operação "Terra Fértil", deflagrada no início do mês após a compra de uma mansão na cidade por um mega-traficante ter levado a PF a descobrir um esquema que lavou mais de R$ 5 bilhões para a facção.
Ao todo, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos três postos, na casa de câmbio e, ainda, em uma residência, todos no município do Triângulo. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal de Belo Horizonte.
"Na primeira fase das investigações, foi constatada uma grande engrenagem para lavar dinheiro. Mais de 100 empresas de diversas áreas: construção civil, aviação, locação de veículos, comércios em geral e investimento em criptomoedas. E mais de 200 pessoas envolvidas, a maioria utilizada como fachada para ocultar as atividades financeiras ilícitas. Um mega esquema que movimentou em cinco anos mais de R$ 5 bilhões", detalhou a PF.
Já nesta segunda fase, a apuração da corporação foca na lavagem de capitais especificamente por meio destes postos de combustíveis e da casa de câmbio.
De acordo com a PF, indícios apontam que um foragido da operação, que não teve o nome divulgado e está com um mandado de prisão preventiva em aberto, esteja escondido no Paraguai. O país representa a principal rota do tráfico no Brasil, que é dominada pelo PCC desde 2016, quando a facção paulista promoveu o assassinato cinematográfico do “rei da fronteira”, o megatraficante brasileiro Jorge Rafaat Toumani.
"Indícios apontam que um foragido da operação, contra o qual consta mandado de prisão preventiva, esteja escondido no Paraguai, ele tem residência em Foz do Iguaçu (PR) e teria recebido quase R$ 1 milhão referente ao pagamento de um sequestro ocorrido em janeiro de 2024", detalhou a PF ao divulgar os resultados da operação desta quinta.
A mansão que levou a PF a descobrir o esquema bilionário do PCC foi adquirida por empresas em nome de laranjas, mas pertenceria, segundo a corporação, a Ronald Roland, mega-traficante ligado ao PCC. O traficante é conhecido inclusive por envolvimento em um esquema com cartéis mexicanos.
Segundo a corporação, ele é conhecido internacionalmente pelo envio de enormes quantidades de cocaína - por meio de aeronaves - para diversas partes da América do Sul e Central, servindo, inclusive, aos violentos cartéis mexicanos de Sinaloa e Los Zetas.
Há tempos na mira dos investigadores da corporação, Roland é um antigo conhecido do setor de repressão a entorpecentes da PF, porém, nunca tinha visto sua rede de lavagem de valores atingida por uma investigação. A relação dele com os cartéis mexicanos foi descoberta em outra investigação, ainda em 2015. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dele.
Após receber informações sobre a mudança do famoso traficante para o condomínio em Uberlândia, a PF passou a levantar informações sobre o imóvel e descobriu que ele foi adquirido em nome da empresa Kaupan Exportação e Importação de Alimentícios.
Os investigadores então pediram informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre possíveis transações suspeitas da empresa. A resposta do órgão embasou o mapeamento de dezenas de empresas com transações entre si, sem lastro em atuação lícita.
Somente a Kaupan, mostram os dados coletados pela PF, recebeu R$ 1,6 milhão em depósitos em espécie em suas contas entre maio de 2019 e janeiro de 2022.
Os investigadores descobriram também que o mesmo contador responsável pela Kaupan possuía uma série de pessoas ligadas a ele que eram responsáveis no papel por dezenas de empresas que se relacionavam entre si. No total, apenas focando nas principais empresas, foram mapeados 48 CNPJs em nome de laranjas cuja movimentação suspeita foi de R$ 5,4 bilhões nos últimos cinco anos.
A PF afirma, no entanto, que o valor movimentado deve ser ainda maior, uma vez que foram computadas pelo Coaf apenas transações classificadas como suspeitas.
Uma das empresas, a LS Comércio, diz a PF, está em nome de Leonardo Santos, preso pela Interpol em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos). Santos é apontado como líder do PCC em Portugal e principal articulador de logística no transporte dos entorpecentes para a Europa.
Fonte: Jornal O Tempo