Quando se fala em gravidez na adolescência, a preocupação, normalmente, gira em torno da saúde da mãe e do bebê até o momento do nascimento da criança. Mas ocorre que, fatores psicológicos, sociais, financeiros e de saúde também circundam a vida de quem teve que lidar com uma gestação precoce e, posteriormente, criar filhos antes de chegar à vida adulta.
Os últimos dados coletados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que compreendeu nascimentos ocorridos entre 2010 e 2015, apontou que o Brasil tem 68,4 bebês nascidos de mães adolescentes a cada mil meninas de 15 a 19 anos. O índice está acima da média latino-americana, estimada em 65,5.
Para avaliar como estão esses dados refletem nos dias de hoje, o site Trocando Fraldas elaborou um estudo com mães de todo o Brasil para identificar o impacto desses números. Apesar de um percentual de 35% das pesquisadas afirmarem ter engravidado na faixa dos 18 anos, um índice preocupante de 10% disse ter descoberto a gestação com 13 anos ou até antes.
Outros fatores que dizem respeito às consequências de uma gravidez precoce é o apoio e a continuidade no relacionamento com pai da criança após o parto. Uma margem de 50% das entrevistadas afirmou ter terminado o ensino médio depois de engravidar, entretanto, 63% não apontou a gravidez precoce como uma desvantagem profissional.
Mulheres que engravidaram 14 anos indicaram que não estão mais com o pai dos seus filhos, com uma média de 60%. Entretanto, a maioria das entrevistadas indicou que permaneceu com o relacionamento após a gestação.
E estudo ainda apontou que 73% das mulheres disseram que os pais são participativos na criação. Das que responderam que a presença paterna não é tão predominante, a faixa etária das mulheres que foram mães aos 14 anos esteve em maior número. Mesmo assim, a maioria indicou que os pais são participativos.
Mulheres que engravidaram aos 14 anos indicaram, em maior número, que não estão mais com o pai dos seus filhos. Entre as que engravidaram com 13 anos, de acordo com o levantamento, 51% revelaram que já utilizavam anticoncepcional. Em contrapartida, das que engravidaram com 18 anos, apenas 31% faziam uso de algum método contraceptivo.
Uma informação já identificada por órgãos federais de pesquisa foi confrontada com o levantamento realizado. De acordo com informações levantadas pelo Departamento de Informática do SUS (Datasus), Alagoas é o Estado com maior número de grávidas adolescentes. Nos dados apurados pelo Trocando Fraldas, as alagoanas registraram uma média de gravidez na faixa etária dos 15 anos, ou seja, a menor média do estudo. O estado, por outro lado, também registra um dos maiores índices de analfabetismo do país, de acordo com o IBGE.
Para a ginecologista e obstetra Dra. Maíra de La Rocque, que também está se especializando em medicina fetal, os números são tão alarmantes que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criou, este ano, uma data de conscientização para a gravidez na adolescência, no dia 01/02. “A situação, além do impacto social, carrega maiores riscos para a saúde tanto da mãe, quanto do bebê. As meninas apresentam, por exemplo, maior risco para pré-eclâmpsia e eclâmpsia. Os bebês apresentam maior risco de prematuridade e mortalidade infantil, que é 50% maior em recém-nascidos de mães adolescentes”, pontua.
Para a obstetra, as consequências, se não ajustadas, podem fazer com que o problema seja recorrente e ainda mais grave. “Além dos impactos na saúde, a gravidez na adolescência também é responsável pelo aumento da taxa de abandono escolar, perpetuando um ciclo de baixa escolaridade, pobreza e desinformação, que podem fazer com que novas gestações na adolescência aconteçam”, finaliza.
(*)Assessora de Imprensa do site Trocando Fraldas - MTB 70.524/ Jornal Leopoldinense