A presença de estudantes pretos e pardos na UFMG teve salto de 80% em uma década. Se, em 2008, eles eram apenas 27%, em 2018 representavam 49%. As estatísticas da maior Federal de Minas seguem uma tendência nacional. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no ano passado, pela primeira vez, os negros foram maioria nas instituições públicas. Apesar do avanço – atribuído principalmente às cotas – o número poderia ser melhor.
Para os próprios alunos e especialistas, as desigualdades social e racial ainda são altas no país. Além do preconceito, denunciado pelos estudantes, uma minoria cursa graduações mais concorridas, como Medicina, Direito e Engenharia.
Neste seleto grupo está Afonso Henrique Gomes, de 22 anos, um dos poucos negros na turma de Engenharia Elétrica. Em meio aos desafios, diz ele, a situação vem mudando. “Estamos ocupando um espaço que é nosso por direito. Não tem que ter discriminação por cor, raça ou orientação sexual”, ressalta.
“Entrei por meio das cotas. Sou integrante do Centro de Convivência Negra (CCN) da UFMG e tenho notado aumento dos negros na instituição. Percebo, também, que ainda há um racismo institucional. Aqui, na CCN, já vi vários casos escancarados. A universidade agora está aberta para novos conhecimentos. Como Gilberto Gil falou, a política de cotas foi um meio que os pobres e favelas encontraram para compartilharem seus saberes com a universidade” (Matheus Alves Magalhães, de 20 anos, aluno do 5º período de Física)
Maior
A desigualdade é maior entre os mais jovens, conforme o relatório divulgado pelo IBGE. Do total de brancos, de 18 a 24 anos, 78% estão matriculados em faculdades. Já os negros, da mesma faixa etária, representam 55,6%.
Caminhos
Presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Gilberto Silva atribuiu o aumento do número de negros nas instituições públicas às ações afirmativas, que “deu aos menos favorecidos historicamente oportunidades de ingresso nas universidades”.
Mas, conforme o advogado, agora é o momento de avançar. “Os editais de processos seletivos precisam ser mais diretos e as bancas ter mais rigor para evitar fraudes”, sugere Silva. Desde o ano passado, a UFMG adotou as bancas de heteroidentificação para evitar essas situações.
Para Cristiano Rodrigues, professor adjunto do Departamento de Ciência Política da UFMG, as políticas de inclusão são bem-sucedidas, mas também é importante pensar em maneiras de manter essas pessoas nas universidades. “Principalmente alunos de cursos menos valorizados, que acabam vindo de classes mais baixas. O ideal é que eles não larguem as salas”, explicou ele, que é também colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. “Agora, precisamos ter professores negros”.
De acordo com as estatísticas do SIM, foram registradas 255 mil mortes de pessoas negras por assassinato nos seis anos analisados. Entre os jovens brancos de 15 a 29 anos, a taxa era de 34 mortes para cada 100 mil habitantes em 2017, último ano com dados de mortes disponíveis no DataSus.
Entre os pretos e pardos, eram 98,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes – se feito o recorte a homens negros, o número sobe para 185. Mulheres brancas jovens tem a taxa de 5,2, enquanto as pretas e pardas 10,1.
Segundo o IBGE, jovens expostos à violência têm mais propensão a sofrer de doenças como depressão, vício de substâncias químicas e problemas de aprendizagem, além de suicídio.
Fonte: Hoje em Dia