Com os cinemas fechados desde o início da pandemia, o Cine Belas Artes, em Belo Horizonte, não viu outra opção a não ser suspender o contrato de seus 14 funcionários durante os meses de maio e junho, após ter dado férias a todos eles em abril. Uma situação que se repete, em maior ou menor grau, em outras salas do país.
“Os cinemas foram os primeiros a fechar e serão os últimos a reabrir. Pelo menos foi assim na Ásia e na Europa. A rigor, as empresas de exibição estão em um ou mais mecanismos do programa de governo (Benefício Emergencial para Preservação da Renda, o Bem)”, registra Adhemar Oliveira, proprietário do Belas Artes.
Diretor-executivo da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), Caio Silva já tem um cálculo para definir o tamanho do prejuízo: “A receita bruta, em 2019, foi de R$ 2,6 bilhões. Com os cinemas fechados há três meses e meio e uma perspectiva de retomada gradual em julho, a estimativa é de uma perda de 50%”. Ou seja, um faturamento anual R$ 1,3 bi abaixo do esperado.
Ele ressalta que o faturamento de uma sala não depende apenas da exibição de um filme. “Ela é apenas uma das três fontes. As outras são a bomboniere e a propaganda. “Além de nenhuma receita, algumas despesas permanecem, como segurança, manutenção de equipamento e o contato com fornecedores e distribuidoras”, observa.
No Brasil, são cerca de 3.600 salas, com 40 mil trabalhadores diretos. Silva não sabe dizer a porcentagem de funcionários que foram demitidos ou que entraram no BEM. É sabido, porém, que grandes redes internacionais como a Cinemark tiveram que reduzir em 50% os salários de seus colaboradores.
As salas trabalham com a possibilidade de retorno em julho. Neste período, haverá poucos filmes para lançar (os blockbusters só chegarão em outubro) e a probabilidade é de que se façam reexibições de franquias famosas
Oliveira, que administra outros nove complexos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília, afirma que, além de recorrer ao BEM, para não demitir ninguém, ele teve que renegociar com fornecedores, citando especialmente os contratos de aluguel. Ele conseguiu descontos que variam de 70% a 100%.
O diretor da Abraplex pondera que, independentemente da duração da pandemia, o mundo virtual veio para ficar e os shoppings precisarão ver os cinemas com outros olhos. “O mall irá depender mais das salas e da praça de alimentação. Os outros segmentos terão (a concorrência de) um e-commerce forte”, analisa.
Tanto Silva quanto o dono do Belas Artes assinalam que a volta à atividade será um momento delicado. As salas terão que obedecer a protocolos sanitárias e só poderão funcionar com40% dos assentos disponíveis. O que não implicará em ingressos mais caros. Pelo contrário, a previsão é de que haja promoções para atrair os espectadores ainda ressabiados.
Fonte: Hoje em Dia