ARTIGO: O castelo das pesquisas está se desfazendo - 30.11.20
DIVERSOS
Publicado em 01/12/2020

 

Há muito tempo vem sendo discutido por populares e descrentes dos institutos de pesquisas que parecem estar com os registros contados na política. A desconfiança cresce quando os dados divulgados como confiáveis sumariamente são desconfiados após os votos nas urnas.

 

O Brasil que se serve das urnas eletrônicas desde o inicio dos anos 2000, nos últimos tempos nunca se falou tanto em fraudes eleitorais e também em pesquisas eleitorais falsas e ou tendenciosas, mesmo que registradas no TSE. Estes temas são como castelo de areia, que são construídos e destruídos a cada 2 anos.

A exemplificar nosso castelo de areia brasileiro tem algumas pedras colocadas propositalmente para interferir no processo, onde os institutos são contratados por grupos políticos ou por empresas de jornalismo e passam uma falsa sensação à sociedade de que os grãos de areia são confiáveis. Teve tempo que essa confiança foi de 1 e 2 por cento para mais ou para menos, e já estamos na casa dos 4 ou 5 por cento. Ou seja, a desconfiança cresceu nos números.

A cada ciclo eleitoral as estratégias ficam mais evidente entre os maiores conglomerados partidários e da imprensa em levar notícias que não verdades. Neste aspecto, toda imprensa acaba sendo vítima dos seus erros grotescos, fazendo com que fake news se torne uma verdade via mãos erradas e de forma irresponsável. 

O nosso grupo da imprensa deveria ser imune à transmitir informações infundadas, números criados para manipular os eleitores, colocando no poder políticos que sejam de interesse dos jornalistas, imprensa em geral, empresários, etc.

A exemplificar os últimos erros, e pior, os responsáveis pelas pesquisas ainda conseguem criar narrativas para dizer que os números estavam certos, mesmo quando os números das urnas estejam dizendo o contrário. Em 2018, os dois maiores institutos do país, Ibope e Datafolha chegaram a apresentar pesquisas onde Jair Bolsonaro perdia para todos os concorrentes caso fosse ao segundo turno. Uma perda neste caso poderia ser onde o candidato eleito teria 50,01% dos votos válidos. Os dados das urnas trouzeram números de 55,13% para o eleito Jair Bolsonaro contra 44,87% para Fernando Haddad derrrotado.

Em 28 de setembro de 2018, o Datafolha chegou a publicar uma das suas pesquisas que foi divulgada pelo portal UOL com o seguinte título: "Datafolha: Bolsonaro perde todos os cenários de 2º turno; Ciro vence Haddad". Na pesquisa mencionada, Haddad venceria Bolsonaro em cenário de 45% contra 39%. Se a disputa fosse entre Alkmin e Bolsonaro, o candidato do PSDB venceria com 45% a 38%. Já a disputa seria com números ainda mais distante entre os candidatos à época se Ciro disputasse com Bolsonaro. Ciro chegaria a 48% contra 38% de Bolsonaro.

No primeiro turno, as intenções de votos de Bolsonaro estavam em 28% contra 22% de Haddad. A realidade trouxe Bolsonaro com 46,03% dos votos contra 29,28% de Haddad, seguindo dados bem abaixo para os demais concorrentes.

Nas eleições recentes, o Ibope divulgou uma pesquisa para o primeiro turno em Juiz de Fora, onde apontou que Margarida Salomão do PT tinha 32% dos votos, enquanto Wilson Rezato do PSB tinha 21%.  Nas urnas Margarida alcançou 39,46% dos votos, uma diferença de mais de 7%. Wilson ficou com 22,96% dos votos. Não houve pesquisas para o segundo turno em Juiz de Fora.

No Rio de Janeiro, o Datafolha publicou no dia 26 que Eduardo Paes alcançaria 55% dos votos, enquanto Crivella ficava com 23%. Já nas urnas, o resultado ficou ainda mais extravagante, onde Eduardo alcançou 64,07% dos votos, mais de 9% de diferença pra cima. Já Marcelo Crivella teve 35,93% dos votos, quase 13% a mais. Seria diferente se os dados fossem mais reais?

Em São Paulo, Ibope e Datafolha anunciaram a vitória de Bruno Covas sobre Boulos e a margem de erro era de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. O Ibope apontou que Bruno teria 48% contra 36% de Boulos. Já o Datafolha, o candidato do PSDB tinha 55% contra 45% do candidato do PSOL. Nas urnas, Covas obteve 59,38% dos votos, 4% a mais que a pesquisa do Datafolha e 11,38% a mais que a pesquisa do Ibope.

Em Porto Alegre, o Ibope divulgou pesquisa que apontava a virada de Manuela D'Ávila do PCdoB, mas ainda estava empatada tecnicamente com Sebastião Melo do MDB. Segundo o instituto, Manuela tinha 51% dos votos válidos contra 49% de Melo. A pesquisa anterior, Melo tinha 54% e D'Ávila 46%. Nas urnas deste domingo 29, Sebastião alcançou 54,63% dos votos e Manuela com 45,37%. A diferença foi 5% para o resultado das urnas, acima dos 3 pontos percentuais da pesquisa. Notavelmente, houve inversão de dados na última pesquisa em Porto Alegre.

Em Leopoldina, uma pesquisa que não teve a confirmação de sua origem e por quem de fato a contratou circulou em diversas redes sociais trazendo números que levavam naquele momento a eleição municpal a uma polarização bem mais difícil entre Ricardo Paf Pax do PSB, Breno Coli do PSD e Pedro Junqueira do PL. No entanto o resultado de uma pesquisa acabou sendo divulgada pelo radialista Haroldo Campos Crespo, que não trouxe em nenhuma imagem uma logomarca gravada pelo Instituto que a realizou. Na ocasião da divulgação, alguns candidatos a prefeito criticaram os dados divulgados

Alguns dias anteriores à divulgação da pesquisa, uma empresa da cidade de Governador Valadares chegou a registrar no TSE uma pesquisa, mas a empresa não enviou nenhum dado final para os meios de comunicação em Leopoldina. O blog Leopoldina News até entrou em contato com a empresa solicitando os dados finais da pesquisa, mas não obteve nenhuma informação.

Nos números divulgados à época na rede social de Haroldo Crespo, os dados apontavam uma leve vantagem para o candidato Ricardo Paf Pax do PSB com 22% contra 21% de Breno Coli do PSD e 17% de Pedro Augusto do PL. Tecnicamente estavam empatados dentro da margem de erro citado na pesquisa registrada no TSE.

Já nas apurações dos votos, Pedro teve 31,1% dos votos, cerca de 14,3% acima do divulgado na pesquisa. Breno Coli alcançou 23,74% dos votos e Ricardo Paf Pax ficou com 19,25, quase 3 pontos percentuais a menos.

Diante de tantos casos que nem sempre é possível descrever, ainda lidamos com os fatos em torno da eleição mais importante do mundo que é a da presidência dos Estados Unidos. Em 2016, 4 anos atrás diversos institutos chegaram a cravar a eleição de Hillary Clinton com dados chegando a 92%, e no final das contas, Donald Trump acabou eleito. 

Fatos como este começa a criar em tordo das mídias emergentes indagações aos órgãos que dirigem o processo eleitoral americano e brasileiro sobre a veracidade em torno das pesquisas. Para a maioria, as pesquisas devem ser proibidas por lei, pois possuem características de influência para tal candidato, não de informação. Curiosamente, nos bastidores a maioria dos políticos possuem dados de pesquisas de controle interno de campanhas, que são mais autênticas que as demonstradas por institutos e registradas no TSE.

Aqui no Brasil já existe projeto de Lei sendo discutido no Congresso que visa trazer transparência nas divulgações de pesquisas. O PL 11245/2018 de autoria de dois deputados do Paraná, João Arruda do MDB e Aliel Machado do PSB visa "Disciplinar a realização de pesquisas de opinião pública relativas às eleições e aos candidatos". Já o Projeto de Lei n° 1216, de 2019 de autoria do Senador Álvaro Dias do Podemos do Paraná também visa mexer na estrutura de divulgação das pesquisas. Outro Projeto de Lei n° 4459, de 2019 que está em discussão no Senado é do Senador Marcio Bittar do MDB/AC e também tem propostas similares.

A nós cidadãos e eleitores, a estratégia é sempre responder no voto, onde uma maneira sábia e inteligente de fugir dos institutos que manipulam dados e ou que não reproduzem a realidade nas intenções de votos. Assim sendo, o castelo mais seguro não é o de areia, aquele apresentado pelas pesquisas, que faz candidatos até cantarem a vitória antes do fim da votação e ou faz candidatos ficarem cabisbaixos  por longo período, produzindo resultados terríveis aos indecisos e ou até mesmo a mudar a decisão de muitos eleitores antes de digitar os números na urna. É o castelo fraco que cada vez  mais assombrado, se desfaz.

 

 

Por Josué Oliveira - Leopoldina News

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