O preço do boi gordo bateu novo recorde nesta terça-feira, 2, ao chegar a R$ 301,5 a arroba, de acordo com indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Universidade de São Paulo (USP). Foi o segundo dia seguido que o valor do gado atingiu patamar histórico. Na segunda, o preço da arroba já estava cotado a R$ 301, após subir mais de 12% entre o fim de janeiro e o início deste mês. A alta é explicada pela diminuição da oferta do rebanho no campo, o aumento das exportações diante da disparada do dólar e o crescimento do consumo interno por conta da pandemia do novo coronavírus. Esta “tempestade perfeita” fez o preço do boi gordo subir 52% entre fevereiro de 2020 e o início dessa semana. O crescimento recorde refletiu no bolso do consumidor. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o valor das carnes aumentou quase 18% no último ano, um dos principais responsáveis pelo avanço de 4,52% da inflação no período. O valor da parte traseira do boi — a mais nobre e que reúne picanha, filé mignon e alcatra — aumentou 17,4% entre janeiro de 2020 e o mês passado. A região dianteira, que contém cortes como peito, acém e músculo, cresceu 13,2%.
Rodrigo Tannus de Queiroz, analista de mercado da Scott Consultoria, afirma que o ritmo de compra dos brasileiros é que vai determinar se os preços nos supermercados permanecerão em alta ou recuarão. “É o mercado interno que sustenta os preços no varejo. Se o consumo travar, a alta vai frear”, afirma, citando que o consumo interno é responsável por 75% da produção nacional. Dados da consultoria apontam a alta de 45% do valor da carne aos atacadistas, ou seja, os frigoríficos, em 2020. Para o consumidor, a variação ficou em 16,5%. “O varejo vai aumentar o preço, caso tenha a oportunidade. Depende da margem de comercialização, caso esse aumento seja muito expressivo, ele vai diminuir o escoamento dos produtos”, afirma. O valor do boi gordo no campo deve permanecer em patamares elevados nos próximos meses com o prolongamento do apetite internacional pela carne brasileira e a falta de gado no campo. Por outro lado, a diminuição do poder aquisitivo da população com o fim do auxílio emergencial e alta do desemprego deve substituir o consumo de carne bovina por opções mais em conta, como frango e suíno. Pela lei de mercado, a redução da demanda leva ao aumento de oferta e, consequentemente, pressiona os preços para baixo. “É a hora de observar as promoções nos supermercados, a oferta com preços mais interessantes. O preço depende do estoque que os mercados e frigoríficos possuem. No campo, esse estoque está baixo”, diz Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea.
O “estoque baixo” do campo em 2021 é resultado de mudanças na criação de gado adotadas há quase uma década. Entre 2013 e 2014, uma crise hídrica restringiu a área de pasto na região central do Brasil. Com a falta de ração, o boi engordou menos e a oferta no campo despencou. Isso fez com que o que estivesse à disposição ficasse supervalorizado. O aumento do preço estimulou os produtores a aumentar os rebanhos nos anos seguintes. A crise econômica que teve início em 2015, e que se tornou aguda em 2016, no entanto, achatou o consumo, fazendo com que os preços voltassem a cair. Com valores baixo, os pecuaristas adotaram o caminho inverso e começaram a abater mais vacas, restringindo o potencial de reprodução. Com menos vacas parindo, o número dos rebanhos encolheu no fim de 2019 e início de 2020. Essa diminuição coincidiu com o momento em que a China intensificou a compra de carne brasileira. Dados das Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) apontam mais de 2 milhões de toneladas vendidas para fora, grande parte para o mercado chinês. Ao mesmo tempo, a Covid-19 mudou os hábitos de consumo dos brasileiros, que pararam de comer em restaurantes e fortaleceram os gastos em supermercados. Junto disso, o auxílio emergencial injetou bilhões na economia, aumentando o poder de compra das famílias.
Fonte: Joven Pan / Leopoldina News