BRASÍLIA — O presidente do DEM, ACM Neto, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, reagiram nesta segunda-feira às críticas feitas pelo ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em entrevista ao "Valor", Maia disse que ambos trabalharam para que o DEM abandonasse o bloco de Baleia Rossi (MDB-SP). De saída da sigla, Maia disse que faltou "caráter" aos colegas de partido.
Em nota, Caiado respondeu no mesmo tom. O governador acusou o ex-presidente da Câmara de ter esperado uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para que pudesse concorrer a mais um mandato. A Corte, porém, decidiu que Maia não poderia disputar a reeleição em uma mesma legislatura.
"A sua entrevista não deve ser considerada pela classe política porque é indicadora de internação hospitalar. Rodrigo tentou furar a Constituição e não tinha trabalhado outro candidato. Com a negativa do STF, tentou um movimento desesperado, de imposição, sem qualquer unidade e coerência (...) Agir da forma como Rodrigo agiu é o que, de fato, demonstra falta de caráter", escreveu Caiado.
ACM Neto reagiu na mesma linha, destacando que "a falta de grandeza e a deslealdade (de Maia) causam profundo estranhamento".
"Todos sabem que Rodrigo Maia tinha um único candidato à presidência da Câmara, que era ele mesmo".
Caiado fala em 'leilão'
Na entrevista ao "Valor", Maia disse que ACM Neto "entregou a nossa cabeça numa bandeja para o Palácio do Planalto”. Avaliou que o partido está alinhado à extrema-direta e que foi traído. Segundo ele, o presidente do DEM havia lhe afiançado que não haveria acordo com Bolsonaro.
— Foi um processo muito feio do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né? — disse Maia.
De acordo com ACM Neto, "nada mais distante da realidade do que a narrativa que ele (Maia) vem tentando estabelecer. Não houve traição da Executiva do Democratas, nem adesão ao governo Bolsonaro".
"Torço muito para que o deputado Rodrigo Maia reencontre o equilíbrio e a serenidade. Rodrigo Maia foi um presidente da Câmara importante para o Brasil e dá pena vê-lo deixar, de forma tão lamentável, a posição de liderança que exerceu", registrou o presidente do partido.
Caiado disse ainda que Maia faz um "leilão" para sair do partido.
"O deputado Rodrigo Maia, infelizmente, foi acometido por uma síndrome que atinge com muita frequência as pessoas que não aceitam deixar o poder: 'síndrome da ansiedade de poder'. A foto escolhida pelo Valor Econômico (Maia aparece com as duas mãos na cabeça, como se estivesse preocupado) identifica a face de desequilíbrio do paciente. E o mais grave: ele faz questão de deixar claro que está saindo do Democratas e colocando seu nome a LEILÃO".
Também nesta tarde de hoje, a bancada do DEM se pronunciou por meio de nota do líder na Câmara, Efraim Filho (DEM-PB). Ele reitera posição manifestada por Caiado, ao dizer que os deputados não são tutelados
"O Democratas é um partido plural e não tem dono. A bancada da Câmara não tem dono. Líder é eleito pela vontade expressa da maioria. Essa mesma maioria, que torna a decisão legítima, faltou a Rodrigo Maia para compor o bloco de centro-esquerda na disputa pela presidência (...) Era a sua sucessão, cabia a ele construir os consensos e conduzir o processo. Na democracia, maioria não se impõe, maioria se conquista".
A nota também faz um desagravo a ACM Neto.
"Somos testemunhas de que o Presidente ACM Neto buscou convencer deputados a alinharem com Rodrigo, fez apelos a bancada, mas diante da decisão adversa da maioria, buscou a neutralidade num gesto de respeito a Rodrigo Maia".
Nesta segunda-feira, sem citar nomes, Bolsonaro atacou Maia. Na entrevista, Maia diz que irá para um partido de oposição ao governo.
— Graças a Deus mudou a presidência da Câmara — disse Bolsonaro em conversa com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, concluindo: — Esse cara que saiu da Câmara disse que vai encarnar a verdadeira oposição a meu governo. Ele não tem que ser oposição a meu governo, tem que ser favorável ao Brasil. Enquanto se faz política barata, o povo sofre.
Procurado, o apresentador Luciano Huck não se manifestou sobre as declarações do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Interlocutores relatam que Huck, de fato, se incomodou com a atuação de ACM Neto na articulação que ajudou a eleger o deputado Arthur Lira (PP-AL), aliado do Palácio do Planalto, para a presidência da Câmara.
Entretanto, o apresentador, segundo relatos de pessoas próximas, deverá se manter neste momento distante da política partidária e reforçando sua aproximação como movimento de formação política, como o RenovaBR.
Huck vem mantendo conversas com lideranças políticas sobre a possibilidade se lançar como uma terceira via de Centro para a eleição presidencial de 2022. Conforme publicou o colunista Lauro Jardim, o apresentador estabeleceu julho com um prazo pessoal para decidir se embarcará numa candidatura contra Jair Bolsonaro.
Fonte: Jornal Extra