ARTIGO: Gilmar Mendes, um ministro que desconhece a realidade social das igrejas
08/04/2021 05:26 em DIVERSOS

 

O julgamento da ADPF 811 desta quarta-feira, o relator Ministro Gilmar Mendes acabou por manter o que ele já tinha decidido na segunda-feira ao atender um ação do Estado de São Paulo, movida pelo PSD.

 

Tudo isso seria justificável se não tivéssemos que lidar com uma realidade em que Gilmar Mendes desconhece ou se faz de quadrado, tolo ou é a própria besta enganadora. Mas é possível entender, Gilmar Mendes tem vida própria e independente da ralé.

Em seu voto, ficou claro que ele não levou em consideração as colocações de André Mendonça, Advogado Geral da União e nem do Procurador Geral da República, Augusto Aras. Preferiu o seu cinismo e sarcasmo de sempre, algo peculiar da sua identidade "falastrônica" - assim denomino.
 
Preferiu ignorar, sabendo que as igrejas não buscam privilégios mas igualdade no que tange as regras de reconhecimento de "atividades essenciais", reconhecido no Decreto Federal 10292.
 
Ao abordar algumas decisões ocorridas em outros países sobre a manutenção de templos religiosos abertos, Gilmar Mendes citou que houve transmissão de vírus de Covid-19 em certas cerimônias que alcançaram largas proporções. Em outro exemplo citado, o ministro relator citou o desencorajamento de doações em espécie como forma de impedir a propagação do vírus.
 
Até aí, tudo parece normal, já que havia fortes indícios na argumentação para impedir que os templos permanecessem abertos durante a pandemia. Só que a esquizofrenia fere de morte os direitos fundamentais no país há muito tempo. Gilmar foi incapaz de compreender que no futebol existem dezenas de casos confirmados diariamente, comprovados com exame e nem por isso, as partidas profissionais deixaram de acontecer, mesmo sabendo que o infectado teve contato com outras pessoas. Tudo isso, após a retomada da maioria das atividades no país ainda em 2020.
 
Olhando ainda além, Gilmar não demonstra lealdade ao tratar dos fatos sociais em que implicará ao dar poderes a prefeitos e governadores que se quer professam alguma fé religiosa, e que nos termos frios da lei, arrepiam medidas inconstitucionais apenas por serem contrários às religiões e seus fundamentos. Ao olhar toda conversa e a "gastação" de tempo ao não reconhecer filas quilométricas em bancos, loterias, supermercados que não possuem distanciamento, álcool a 70%, máscaras, e condições ordeiras para tal, Mendes se omitiu e chegou a debochar de André Mendonça: "deve ter vindo de Marte".
 
Em relação às doações que ocorrem nas instituições religiosas, me parece ainda mais cruel e maquiavélico da sua fala. Ao ouvi-la, me lembrei que há filas em bancos, loterias, supermercados, onde todos os cidadãos possuem um cartão de crédito ou débito e não andam com dinheiro em espécie. Me pergunto: "Em que mundo Gilmar Mendes está ao mencionar tal desencorajamento das doações?"
 
Para Gilmar Mendes, os dados elevados de mortes e contaminações são responsáveis por si só suficientes ao dar um voto contra a abertura ou permanência dos templos religiosos. Não levou em consideração os índices de depressão e suicídios provocados ou aumentados com a pandemia, principalmente com o isolamento, desemprego, doença e fome. Ainda não levou em conta o papel desempenhado pelas religiões em aconselhamento, orientações e além de exercer um papel social que aliviam os problemas das pessoas sem alento e atenção estatal.
 
Neste quesito, Gilmar Mendes é o tipo de ministro que ainda precisa descer do pedestal e saber um pouco mais da realidade dos cidadãos brasileiros. Cidadãos que frequentam suas cerimônias religiosas, cidadãos que precisam enfrentar filas para comprar ou pagar, que tocam em dinheiro vivo, cidadãos que na maioria das vezes não tem nem onde cair morto. Se cair para o norte, ali ficará, e com certeza, Gilmar Mendes se quer avaliou essa realidade. É preciso deixar de ser ministro do STF e voltar a ser um cidadão comum, a sentir na pele o que significa lockdown, ondas preta ou roxa, fome e muitas outras restrições.
 
Por Josué Oliveira - Pastor e editor blog Leopoldina News
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