Um estudo preliminar liderado por cientistas do Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos apontou que as vacinas da Pfizer e da Moderna contra a Covid-19 não apresentam riscos a mulheres grávidas. A pesquisa foi publicada na quarta-feira (21) no "New England Journal of Medicine", uma das revistas científicas mais importantes do mundo.
Após analisar 35.691 mulheres grávidas com idades entre 16 e 54 anos, os cientistas do CDC concluíram que "os achados preliminares não mostraram sinais de segurança óbvios entre as gestantes que receberam vacinas".
Eles ponderaram, entretanto, que não tinham dados sobre a transferência de anticorpos e o nível de proteção em relação ao momento da vacinação. Além disso, afirmaram que um acompanhamento ao longo do tempo é necessário para saber de resultados em relação às mães, às gestações e aos bebês.
As mulheres foram vacinadas de dezembro de 2020 a 28 de fevereiro de 2021. Das 35.691 participantes, 30.887, o equivalente a 86,5%, estavam grávidas ao receber a vacina. As outras 4.804 tiveram um teste positivo de gravidez após serem vacinadas.
Cerca de metade das participantes tomou a vacina da Pfizer (19.252) e a outra metade, a da Moderna (16.439).
A dor no local da injeção foi relatada com mais frequência em mulheres grávidas do que em mulheres não grávidas, depois de ambas as doses de ambas as vacinas. Esse também foi o sintoma mais frequente relatado após a vacinação (entenda abaixo a metodologia do estudo e detalhes dos resultados).
O CDC criou um sistema de vigilância pós-vacinação chamado "V-safe", para monitorar reações adversas e o estado de saúde de pessoas vacinadas – não somente grávidas – por um período de 12 meses depois da última dose de vacina recebida. O sistema funciona por celular e a inscrição é voluntária; os dados são coletados com pesquisas on-line.
Durante a primeira semana após a vacinação com qualquer dose de vacina contra a Covid, é solicitado aos participantes que relatem sinais e sintomas no local da injeção e em outras partes do corpo em questionários diários, classificando-os como leves, moderados ou graves.
Se indicarem, a qualquer momento, que precisam de assistência médica, os participantes são encaminhados a um segundo sistema de vigilância, cujo monitoramento é feito por telefone.
No caso do estudo com as gestantes, das 35 mil identificadas pelo "V-Safe", 3.958 se inscreveram em um segundo registro, específico, de gravidez do sistema. Dessas, 3.719 eram profissionais de saúde, o equivalente a 94%.
Veja detalhes dos achados:
- Entre as gestantes inscritas, 2.136 receberam a vacina da Pfizer (54%) e 1.822, a da Moderna (46%).
- Das 3.958 mulheres, apenas 827 registraram dados completos da gravidez.
- Das 827 mulheres com dados completos, 104 perderam a gestação antes das 20 semanas (metade da gravidez). Uma mulher deu à luz um bebê natimorto após a vigésima semana.
- Nas outras 10 gestações, houve um aborto induzido ou uma gravidez fora do útero (a chamada gravidez ectópica – esse tipo de gravidez não é viável e precisa ser interrompida, com risco de vida para a mulher).
- Das 636 mulheres vacinadas antes do terceiro trimestre, 60 tiveram um parto prematuro.
- Das 724 crianças nascidas vivas, 23 nasceram com tamanho pequeno para a idade gestacional; 16 tiveram anomalias congênitas.
- Entre as participantes que relataram anomalias congênitas nos bebês, nenhuma recebeu a vacina Covid-19 no primeiro trimestre ou período próximo à concepção, e nenhum padrão específico de anomalias congênitas foi observado.
- Nenhuma criança recém-nascida morreu.
Os pesquisadores compararam os dados acima com a incidência desses eventos na população geral. As proporções não são diretamente comparáveis, porque fatores como idade, raça e outros não corresponderam entre as mulheres vacinadas e a população geral: 79% das vacinadas eram brancas e não hispânicas.
Além disso, pontuaram os cientistas, apenas 14,7% das mulheres que disseram estar grávidas no "V-safe" haviam sido contatadas para completar o registro da gravidez.
Apesar das limitações da pesquisa, os cientistas concluíram que os resultados adversos na gravidez e em recém-nascidos das mulheres no estudo foram semelhantes aos de pesquisas feitas antes da pandemia.
As vacinas da Moderna e da Pfizer têm em comum o fato de usarem a tecnologia de RNA mensageiro para induzir a resposta imune do corpo. Ambas estão sendo usadas nos EUA, mas ainda não estão disponíveis no Brasil.
Ao todo, 93 milhões de pessoas já haviam sido completamente vacinadas nos Estados Unidos até o início de sábado (24), segundo a atualização mais recente do CDC. No Brasil, esse número é de 12,5 milhões.
Fonte: G-1